Veteranos do Congresso que não foram reeleitos em 2018 pediram benefício em fevereiro e passaram a receber entre R$ 8.778,38 e R$ 33,7 mil
A lista de ex-deputados federais que vão receber
aposentadoria especial da Câmara cresceu em fevereiro, quando terminou o
mandato daqueles que não haviam sido eleitos.
Atualmente, constam 499 beneficiários, sendo que um
levantamento do R7 identificou 29 novos nomes (veja infográfico abaixo) em
relação ao ano passado. O custo total dessas novas aposentadorias em fevereiro
foi de R$ 658,2 mil.
O pagamento das aposentadorias de todos os ex-deputados
custou à Câmara R$ 7,18 milhões em fevereiro. O rendimento médio de cada um foi
de R$ 14,4 mil.
A média paga em todo o país aos trabalhadores comuns,
aposentados pelo INSS é R$ 1.316,54, enquanto o teto é R$ 5.839,45.
Para efeito de comparação, o valor gasto pela Câmara com
todos os ex-parlamentares seria suficiente para pagar o benefício médio de mais
de 4.700 aposentados pelo INSS.
Dos 29 ex-deputados que solicitaram aposentadoria, 20 foram
derrotados nas urnas em 2018. Os demais não concorreram a cargos eleitos no ano
passado.
O benefício mais baixo é de R$ 8.778,38, ao qual têm direito
a também ex-senadora Lúcia Vânia (PSB-GO); Beto Mansur (MDB-SP) e César Souza
(PSD-SC).
Com mais de duas décadas no Congresso, parlamentares como
Miro Teixeira (Rede-RJ); Bonifácio de Andrada (PSDB-MG); Nelson Marquezelli
(PTB-SP); Simão Sessim (PP-RJ) e Marcondes Gadelha (PSC-PB) vão receber cerca
de R$ 33 mil mensais.
As idades em que cada um deles se aposentou variam entre 60
anos (Sandro Mabel/MDB-GO) e 88 anos (Bonifácio de Andrada). Na média, os
recém-aposentados têm 70 anos. Sete se aposentaram com menos de 65 anos.
O R7 já havia mostrado em outra reportagem que, no mês de
fevereiro, seis ex-senadores pediram aposentadoria, sendo que cinco deles não
tinham sido reeleitos. Os valores mensais variam entre R$ 19,2 mil e R$ 33,7
mil.
“Aposentadoria excessivamente generosa”
Jorge Boucinhas, professor da Escola de Administração de
Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas, avalia que o modelo de
previdência adotado no Congresso Nacional é o mais distorcido atualmente, do
ponto de vista da desigualdade.
“É uma aposentadoria excessivamente generosa e um
modelo que não se sustenta”, diz.
O professor de direito do trabalho Márcio Ferezin, da
Universidade Presbiteriana Mackenzie de Campinas, explica que hoje um político
que entra no Congresso com 52 anos para cumprir um mandato de senador (oito
anos) pode se aposentar após esse período com vencimentos de R$ 7.717 — desde
que tenha 27 anos de contribuição ao INSS ou a regime próprio de servidores
públicos.
O regime atual dos congressistas permite somar o tempo de
contribuição do INSS com o tempo de mandato para atingir os 35 anos. A idade
mínima exigida é de 60 anos para homens e mulheres.
“É uma situação irreal se você olhar para a grande
massa da população. O princípio do Regime Geral da Previdência exige um tempo
mínimo de contribuição… aqui [Congresso] é justamente o contrário: não exige
o tempo total e você pode se aposentar proporcionalmente em uma condição muito
superior do que na iniciativa privada”, observa.
Deputados e senadores que optam pelo regime próprio do
Congresso, o PSSC (Plano de Seguridade Social dos Congressistas), e aqueles que
entraram antes de 1999 e fazem parte do antigo IPC (Instituto de Previdência
dos Congressistas) pagam 11% de contribuição previdenciária. O desconto mensal
é de R$ 3.713,93.
O parlamentar pode optar pelo INSS, mas também tem o direito
de migrar para o PSSC antes do fim do mandato, desde que pague a diferença.
“Eu duvido muito que eles [parlamentares] ficarão
sujeitos ao Regime Geral da Previdência”, diz o professor da Universidade
Mackenzie, em referência ao fato de que congressistas terão que ser incluídos
no INSS pelo texto inicial da reforma da Previdência.
Ferezin considera controverso deputados e senadores que
integram o PSSC votarem a reforma, uma vez que a maioria terá direito a se
aposentar em condições muito mais favoráveis do que trabalhadores da iniciativa
privada.
Boucinhas lembra que projeto de reforma da Previdência
enviado ao Congresso prevê que os parlamentares da atual legislatura se
aposentem pelo PSSC. “Um deputado federal eleito com 21 anos vai ter
direito à regra antiga, mas foi uma escolha que o governo fez para viabilizar a
aprovação”, acrescenta.
A justificativa de que a contribuição feita pelos
parlamentares é mais alta do que a do que a do INSS também não é aceitável,
segundo o professor.
“O que eles pagam não sustenta o sistema. É a receita do próprio Congresso que complementa, mas de onde vem esse orçamento? Indiretamente é a sociedade que paga, porque o Congresso não gera receita.”
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