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Educação em SC tem obstáculos nas atividades remotas durante pandemia: 'Difícil entender conteúdos', dizem alunos

Com suspensão das aulas presenciais há dois meses em Santa Catarina por causa da Covid-19, estudantes pedem mais vídeoaulas e professores buscam alternativas para explicar conteúdos. Famílias sem acesso à internet precisam pegar materiais impressos nas escolas

Última atualização: 2020/05/21 10:00:12

 


Estudantes, pais, professores e escolas têm enfrentado dificuldades com as atividades não presenciais e tentado se adaptar à rotina de estudos em casa desde que as aulas presenciais foram suspensas em Santa Catarina para evitar a propagação do novo coronavírus. A suspensão foi há dois meses e segue por tempo indeterminado. As Secretarias de Educação trabalham para garantir que a retomada seja feita da maneira mais segura possível. Até a noite de quarta-feira (20), o Estado contabilizava quase 5,5 mil casos confirmados por Covid-19, incluindo 94 mortes.

Enquanto não há previsão exata de quando os alunos poderão voltar às escolas, as atividades não presenciais curriculares seguem na rede estadual catarinense e também na municipal de Florianópolis. Os professores controlam as presenças dos alunos, as tarefas valem hora/aula para manter o ritmo de aprendizagem e tentar evitar abandono escolar. Mesmo que não sejam aferidas notas neste momento, as tarefas devem ser usadas para validar o ano letivo de 2020.

Em Florianópolis a suspensão das aulas foi em 17 de março e na rede estadual, dois dias depois, com um decreto que estipulou a quarentena e proibiu aulas em todo território catarinense, na rede pública ou privada, do ensino infantil às universidades.

Após quase duas semanas de recesso escolar, antecipado nas redes públicas de Santa Catarina, as atividades recomeçaram em 1º de abril na rede municipal. No estado foi no dia 6 do mesmo mês, incluindo a educação de jovens e adultos (Eja).

O estado estima que 75% dos alunos da rede estadual estão fazendo as atividades on-line. O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) acompanha a situação desde abril, após pais e alunos reclamarem das condições do ensino.

Os estudantes com acesso às ferramentas on-line disponibilizadas para estudos relatam que as atividades acompanhadas de vídeoaulas são sempre mais esclarecedoras. Segundo eles, o aprendizado seria melhor se mais professores aderissem ao uso de vídeos, gravados ou ao vivo.

Tanto na rede estadual quanto na municipal da capital catarinense, as vídeoaulas ficam a critério de professores e escolas, assim como uso de tecnologias alternativas para o ensino. O Estado já fez 28 pequenas capacitações com os professores desde o início da suspensão das aulas para melhorar as estratégias de educação.

Além de tarefas on-line, as unidades de educação também procuram estratégias para atender aos estudantes sem acesso à internet e disponibilizam materiais impressos. No Instituto Estadual de Educação (IEE), maior colégio estadual de Santa Catarina, os familiares vão na escola buscar o material, a exemplo da maioria das unidades de ensino.

Na rede municipal, há unidade que deixa as tarefas em caixas e em outra, a entrega é feita pela janela, como alternativas para se respeitar o distanciamento social.

Os mais afetados com os efeitos da pandemia na educação são os alunos que não estão conseguindo buscar material impresso nas escolas e acessar as plataformas on-line, além dos estudantes da Eja do Sistema Prisional de Santa Catarina, que não têm atividade on-line nem recebem material impresso.

Os profissionais e escolas têm se dedicado a garantir o melhor ensino dentro das possibilidades e muitos alunos e pais têm reconhecido isso.

“Admiro ainda mais os professores por todo esse trabalho que estão fazendo. Tiveram que se reinventar, viraram YouTubers, editores, cinegrafistas, e muitos estão trabalhando ainda mais que no presencial”, afirma Graciela Fell, mãe de estudante e integrante do Sindicato dos trabalhadores em educação da rede estadual .

A secretaria estadual acredita na possibilidade de retomar as aulas presenciais no segundo semestre. Um projeto de lei para autorizar as aulas presenciais chegou a ser apresentado na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc), mas foi retirada da votação ainda na terça-feira (19) pelo próprio autor do projeto.

A volta às salas de aula deve ser anunciada pelo menos duas semanas antes para que haja preparação e também está condicionada ao retorno do transporte coletivo, serviço suspenso desde março. A retomada deve ser gradual para diminuir os riscos de contaminação com o novo coronavírus, como afirmou o secretário de Educação, Natalino Uggioni, em entrevista à NSC TV.

Videoaulas

Quase 35 mil professores na rede estadual se organizam para tentar atender da melhor maneira, mesmo com a distância, a mais de 540 mil alunos. Já no município, são 3,4 mil professores atendendo a 34,6 mil crianças do ensino infantil e fundamental, além da educação de jovens e adultos.

O G1 conversou com estudantes da rede pública e o relato é o mesmo: o recurso das videoaulas facilitam a compreensão das atividades disponibilizadas, mas ainda são usadas massivamente, em alguns casos as explicações em vídeo são exceção.

Alguns professores apelam para a criatividade, empinando pipa, usando toca discos para entreter alunos de diferentes idades, como mostrou o Jornal do Almoço, da NSC TV, no fim de abril (Veja acima).

O professor de Educação Física Luis Hellmann, por exemplo, usa vassouras e materiais recicláveis para gravar vídeos explicando aos alunos como praticar exercícios em casa. “As dificuldades foram: conhecer as ferramentas e as possibilidades que elas nos dão; e o distanciamento com os alunos”.

Como fica critério dos professores o uso ou não de vídeoaulas, essa liberdade é notada por todos os alunos, como Guilherme Soares Machado, de 14 anos, que estuda na Escola do Futuro no bairro Tapera, no Sul da Ilha, na capital, uma das duas escolas municipais de Florianópolis com ensino integral e com conteúdos interdisciplinares. Com a suspensão das aulas, as atividades são todas feitas remotamente.

“Estou passando por três situações: tem matéria em que o professor criou até um canal no Youtube para melhorar a explicação; outras, o conteúdo passado não está relacionado com a matéria diretamente; e em outras, para obter ajuda, tenho que enviar e-mail para o professor, que em alguns casos não é correspondido. Do meu ponto de vista, o ensino público não está preparado para o Ead”, disse.

Na maior escola estadual, os alunos também gostariam de ter mais videoaulas, como relata Priscila Mendes, que está no 3º ano do Ensino Médio do Instituto Estadual.

“Muitos professores não têm tanta praticidade com a tecnologia e temos dificuldade na comunicação com alguns deles. Achamos que as vídeos conferências são método mais prático de se comunicar e aprender, mas até agora só uma professora fez videoaula conosco”, diz a estudante.

Passado um mês e meio de atividades não presenciais, adaptações e melhorias têm sido feitas constantemente, segundo as duas Secretarias de Educação. (Veja vídeo abaixo)

Ferramentas disponíveis

O estado tem usado o Google Sala de Aula para as atividades, chamado também por alguns usuários de Classroom. A ferramenta permite, além da disponibilização de materiais aos alunos, a possibilidade de vídeochamadas, chat, questionários e troca de documentos.

Na rede municipal de Florianópolis, as tarefas são cadastradas por um portal educacional, que inclui sala de leitura, livros e muitos vídeos, além dos espaços de cada escola para os conteúdos pedagógicos específicos com cada turma.

Essas são as ferramentas básicas usadas por professores e alunos para atividades online: Os educadores pedem os trabalhos e deixam as explicações sobre novos conteúdos e, nas mesmas plataformas, os alunos respondem. As escolas e professores têm liberdade para escolher outras ferramentas que podem ser usadas para aplicar e explicar as atividades.

As atividades remotas que vem sendo realizadas não são classificadas como ensino à distância pela rede pública em Santa Catarina por não ter justamente um sistema de vídeoaulas específicas, que segundo a Secretaria Estadual de Educação, além do poucos tempo de preparo, tiraria o protagonismo dos professores, que mantem contato com as turmas e alunos que já dava, aulas.

O ensino Ead tem ainda outras características próprias que exigiriam capacitação, sendo que os profissionais, até então, estavam habituados ao ensino totalmente presencial.

Ainda na rede municipal, a Secretaria de Educação montou um portal educacional específico para as crianças das creches de Florianópolis.

“A educação infantil a lógica educacional é diferente. As creches devem fazer essa interação com as famílias a partir do seu plano de trabalho”, explica o secretário municipal.

Dificuldades dos professores

O desafio para os professores é preparar as atividades on-line e ainda adaptar o que prevê o plano curricular aos alunos sem acesso à internet. A sobrecarga de trabalho também tem sido um dificultador. Usando cada vez mais suas redes sociais, os professores têm sido mais solicitados pelos alunos.

Não foi estabelecida carga horária fixa para alunos ou professores nas redes públicas, mas todas as atividades são contabilizadas como hora/aula.

O professor Rafael Borini, de Itajaí, no Vale, por exemplo tem trabalhado diariamente pelo menos 10 horas por dia. Ele dá aula de matemática para cinco escolas e tem em casa uma filha bebê de poucos meses.

“Antes quando a gente estava na escola, tínhamos horários bem definidos. Em casa, todas as vezes que estou livre, tem de responder aos alunos, ajudá-los, orientar os pais com as atividades, responder aos sistemas das escolas”, detalhou o professor à NSC TV no fim de abril.

Segundo o Bruno Ziliotto, professor de História da rede municipal de Florianópolis e diretor do Magistério do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Florianópolis (Sintrasem), o uso das redes pessoais tem provocado uma carga horária maior que presencialmente.

“ Fizemos um questionário e a grande maioria dos professores não consegue ter controle sobre sua carga horária, considera que trabalha mais com rendimento menor”, detalha o professor Bruno Ziliotto.

Outra dificuldade enfrentada por alguns profissionais são com os ferramentas adequadas, segundo o Sindicato dos Trabalhadores em Educação na Rede Pública de Ensino do Estado de Santa Catarina (Sinte/SC). Os professores têm feito as atividades de acordo com equipamentos e internet disponíveis, quase sempre o da própria casa, que pode ser limitado.

“O estado têm feito algumas formações para orientar os professores para que usem outras formas de complementação das aulas, fica a critério do professor dentro das suas condições, já que o Estado não disponibilizou instrumentos de trabalho como computador e internet e não são todos que conseguem realizar determinadas atividades ou métodos sem ter, por exemplo, uma boa internet”, diz Cassia Costa, secretária de Assuntos Educacionais e Culturais do Sinte.

A formação para trabalhar à distância também é uma barreira que, aos poucos, há a tentativa de superá-la. Na última semana, por exemplo, o Estado concluiu uma formação on-line voltada aos professores para que saibam usar todas as possibilidades do Google Sala de Aula, além de tentar estimular o uso de outras ferramentas para tornar as atividades e explicações mais atraentes aos estudantes.

Segundo a Secretaria Estadual, aproximadamente 90% dos professores estão conectados e os laboratórios de informática ou equipamentos nas unidades foram disponibilizadas aos professores que precisarem. Os alunos também podem usar por meio de agendamento.

O Sinte-SC deve encaminhar um novo documento ao Ministério Público e também ao Conselho Estadual de Educação com os resultados de reuniões feitas com 30 regionais de educação, onde os professores apresentaram as principais dificuldades em cada região de Santa Catarina.

Já na rede municipal, as escolas foram orientadas a fornecerem, quando possível, computadores aos professores. Foi o que ocorreu na maior escola na rede municipal, que fica no bairro Ingleses, que é um dos maiores em Florianópolis, localizado na região do Norte da Ilha. Na Escola Básica Herondina Medeiros Zeferino estudam 1,9 mil alunos.

“Tudo é novo, um novo processo de aprendizagem exige maior esforço até a adaptação”, afirma o secretário municipal de Educação de Florianópolis, Maurício Fernandes Pereira.

Dificuldades dos alunos

A secretaria estadual estima que pelo menos 60% dos 540 mil alunos estejam fazendo as atividades online diariamente e que cerca de 75% tem usado a ferramenta para atividades não presenciais on-line, mesmo que não todos os dias.

No caso dos alunos com acesso à internet, as principais dificuldades são com a compreensão e aproveitamento dos conteúdos, caso da aluna Valentina Fell, que está no 6º ano de uma escola estadual no bairro Estreito, área continental da capital.

“Em algumas matérias, é difícil entender pela internet, sem meus professores. Sei que eles também estão cansados e trabalhando muito e também que muitos colegas estão achando a mesma coisa que eu, porque a gente conversa. Sei que precisamos ficar em casa por causa do vírus, mas as vezes fico muito ansiosa com as aulas online”, diz a estudante de 11 anos.

A mãe se preocupa junto com a filha e tenta auxiliá-la nas atividades. Segundo Graciela Fell, as maiores dificuldades são com as disciplinas exatas, como a matemática. Para ela, de longe fica mais difícil compreender geometria e expressões numéricas, por exemplo.

“Vejo a dificuldade de fazer o papel de professora, ao mesmo tempo percebo que minha filha vai chegar ao próximo ano sem entender de fato algumas disciplinas, principalmente as exatas. Ela estuda numa escola pública, com colegas carentes, certamente muitos pais não conseguem ajudar os filhos. Está sendo uma educação de faz de conta”, diz a mãe Graciela Fell.

Os grupos de mensagens têm sido as alternativas usadas por muitos alunos para tentar tirar as dúvidas, como Camylli Martins Silveira, que estuda no 9º ano da Escola Municipal Batista Pereira de municipal no Ribeirão Da Ilha, no Sul de Florianópolis.

“Está complicado de entender o conteúdo, ainda mais sem o auxílio do professor, como costumava ser em sala, mas temos contatos com eles e, sempre que precisamos, eles tiram nossas dúvidas. Os professores estão se adaptando com o site, postam atividades, alguns arriscam videoaulas, outros, recomendam videoaula do YouTube. Alguns indicam sites, enquanto outros postam textos e mais textos”, conta a estudante de 15 anos.

A mãe dela é uma das preocupadas com aprendizado e com a validação das atividades feitas de casa. “A gente se preocupa porque não sabe como isso vai ser avaliado, se vai ser um ano perdido. Nada melhor que o professor explicando pessoalmente”, diz Suaria Zuleide Martins.

Na rede estadual alguns alunos estão com dificuldades para entregar as atividades dentro do prazo no Google Sala de Aula, como conta a estudante Sabrina Lopes da Cunha, de 15 anos, que tem colegas nessa situação. Geralmente o prazo é de uma semana para envio das tarefas.

“Só pode mandar uma atividade ou uma matéria por disciplina por dia durante a semana. Algumas pessoas não estão entregando no prazo, as vezes por estarem sobrecarregados. Tem dias que são quatro tarefas no mesmo dia”, diz a aluna do ensino médio na escola estadual Dom Jaime de Barros Câmara, no Ribeirão da Ilha, no Sul da capital catarinense.

Já a aluna Eduarda Martins Schmidt, de 17 anos, que está no 3º ano da Escola Estadual Júlio da Costa Neves, no bairro Costeira do Pirajubaé, acredita que os trabalhos poderiam ser solicitados com mais frequência, ocupando mais dias de semana com as demandas curriculares, além de haver mais possibilidades para explicações.

“Fora o Classroom, nada de live, material gravado, auxílio no Whatsapp, somente resumo de textos, atividades de assinalar e outras com perguntas simples. Temos tarefas duas vezes por semana, no máximo, que são as entregas de trabalhos, dois ou três no mesmo dia”, diz a aula.

Ela e outros colegas do ensino médio da rede estadual estão preocupados com a preparação para vestibulares e, especialmente, para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

“A gente está tentando se preparar do jeito que dá, mas está bem complicado, pois não estamos tendo o estudo necessário para isso, aprender em casa é muito complicado, tem que ter muito foco, porque é desgastante. Vejo muita diferença: as escolas particulares fazem live todos os dias, até provas com o professor ali olhando e orientando eles”, afirma a aluna.

De acordo com a Secretaria Estadual de Educação, por meio da assessoria de comunicação, os professores tem procurado seguir o cronograma pedagógico e que deve haver revisão dos conteúdos quando as aulas presenciais voltarem.

Segundo o secretário municipal de Educação da capital, os eventuais problemas podem ser relatados pelos alunos e famílias à Secretaria ou diretamente às direções para melhorias.

“Cada escola fez um plano de ação de como tratar o processo pedagógico durante a pandemia. Tudo é novo para nós todos e estamos abertos. De maneira geral, as coisas estão caminhando. Não é fácil, mas é alternativa que temos no momento”, afirmou Maurício Fernandes.

Sobre o Enem, segundo o secretário Natalino Uggioni, reuniões têm sido realizadas com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira para que os alunos da rede pública não sejam prejudicados.

Revezamento de computador

Há ainda situações em que as famílias tem acesso às plataformas on-line, mas não tem equipamento suficiente. É o caso da mãe Valderleia Lazaro, onde ela e dois filhos revezavam um único computador.

 “Gabriel usaria de manhã, a Bruna de tarde e eu, de noite. Porém não deu muito certo pois as atividades do Gabriel tomavam mais tempo que o disponível”, disse. Com isso, ela começou a buscar o material impresso na escola para o filho.

Outras famílias também enfrentam a mesma dificuldade, como as irmãs quíntuplas em Braço do Norte, no Sul catarinense. As meninas são bolsistas em uma escola na rede particular da cidade e transformaram a cozinha em sala de aula para usar o computador. A mãe delas criou um cronograma e cada uma das irmãs usa o equipamento em um dia da semana.

Entrega de material impresso

Rede estadual

Mas a maior dificuldade tem sido de alunos sem acesso à internet. O Estado estima que cerca de 90 mil dos 540 mil alunos estejam usando os materiais impressos para estudar.

Segundo o Sindicato dos trabalhadores em educação do estado, as situações mais graves têm sido no interior com escolas do campo. Em alguns casos, os alunos moram longe da escola e percorrem longas distâncias para buscar material impresso. Uma das estudantes do maior colégio estadual tenta resumir a situação.

“Está sendo polêmico e complicado para todos a experiência Ead, pois vivemos em realidades diferentes. Não são todos alunos que têm acesso à internet, muito menos um computador em casa ou até um livro”, diz Priscila Mendes.

Os profissionais e gestores da Educação estão preocupados com os alunos que ainda não fizeram nenhuma atividade, seja impressa ou on-line, mesmo sendo curricular e necessária para validar o ano letivo.

“Estamos fazendo o nosso melhor. É preciso que os pais nos ajudem, fazendo com que os estudantes participem das atividades”, diz Natalino Uggioni, secretário da rede estadual.

De acordo com o Estado, as gerências regionais de educação tem procurado se aproximar de alunos que possam ainda não ter conseguido acessar aos materiais disponíveis, sejam on-line ou impressos. O contato tem sido por telefone, mensagens e até recados em rádios. Há relatos de vizinhos que também tem auxiliados à família dos estudantes.

Rede municipal

Na rede municipal o controle tem sido feito pelas escolas, segundo o secretário de Educação. “Tem escola inclusive que os pais têm internet e estão preferindo pegar o material impresso. Temos 35 entregando: Tem escola que entrega toda segunda, outra, todo sábado e tem escola com entrega quinzenal”, explica o secretário municipal.

Na maior escola da rede municipal os 110 professores, além de outros funcionários, disponibilizaram caixas com conteúdos elaborados para a entrega ser mais organizada, segundo Willian Marques Pauli, diretor da Escola Maria Herondina Zeferino.

“O profissional imprime de forma isolada, sem contato, e o familiar pega na entrada das escola, evitando entrar e gerar aglomerações. Nossa escola fará o controle de quem fez as atividades quando as aulas presenciais voltarem, os professores identificarão quem fez e quem não fez”, detalha o diretor da maior escola municipal de Florianópolis.

Cada escola tem autonomia e organiza como faz a entrega de materiais para famílias e alunos, que podem buscar, de preferência agendando antes com as unidades de ensino. No entanto, os dois sindicatos ligados aos trabalhadores da educação criticam esse método de disponibilização de materiais, pois segundo eles, descumprem as orientações de isolamento social.

As duas secretarias defendem que as orientações sanitárias são seguidas, com disponibilização de álcool em gel, uso de máscaras entre os funcionários, o que é pedido também às famílias dos alunos, e distanciamento nas entregas das tarefas.

Ainda na mesma região de Florianópolis, no Norte da Ilha, a escola Básica Maria Tomazia, no bairro Santinho, está entregando materiais aos alunos pela janela da unidade de ensino. Um vidro de álcool em gel é deixado na janela e um profissional fica dentro da sala separando e entregando as folhas.

Em outra escola municipal, no bairro Rio Vermelho, pequenos cartazes foram afixados nos comércios da região informando que as famílias podem buscar os materiais impressos na escola e também destacando QRCode de acesso ao portal educacional, para as famílias mais habituadas à tecnologia.

Já o ensino para os detentos só deve voltar quando as aulas presenciais forem liberadas. A entrega dos conteúdos pode levar o vírus para dentro das unidades prisionais, de acordo com a Secretaria de Estado da Administração Prisional e Socioeducativa (SAP). Segundo a SAP, a medida restritiva tem dado resultado: Dos 23 mil presos, quatro tiveram confirmação de Covid-19 desde março.

Educação especial

Há casos em que a direção da unidade escolar vai na casa do aluno entregar o material, como tem sido com alguns dos estudantes da educação especial, que utilizam materiais pedagógicos diferenciados. Os pais também podem buscar nas escolas.

Os professores fazem o contato com as famílias desses alunos por aplicativo de mensagens para envio de atividades adaptadas e acompanham o desenvolvimentos, quando necessário. No portal educacional da Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis também foi disponibilizado atividades, vídeos, sugestões de livros e filmes voltados também aos alunos da educação especial

Dificuldades com renda e alimentação

Pelo menos 700 estudantes da escola Herondina Zeferino pegaram materiais impressos, incluindo alunos que talvez tenham acesso à internet, mas têm enfrentado dificuldades. A situação das famílias carentes é a que mais preocupa os profissionais da educação.

“O bairro Ingleses é constituído de muitas famílias que trabalham na informalidade como ambulantes, diaristas, pais e mães que trabalham num dia para ter renda e alimentação no dia seguinte. São famílias que não possuem reservas financeiras. Com o início do isolamento, perderam a renda. Muitas passam dificuldades para se alimentar e a internet é um dos itens que ficam em segundo plano”, exemplifica o diretor Willian Pauli.

A dificuldade relatada pelo diretor da escola Herondina é uma realidade enfrentada por muitos alunos da rede municipal de Florianópolis e da rede estadual. Os alunos têm direito, por exemplo à alimentação nesses dias, especialmente àqueles em situação de mais vulnerabilidade.

Até o momento, pouco mais de 10% do total alunos do Estado receberam kits de alimentação. Eles integram comunidades indígenas e quilombolas e estão cadastradas no programa do Bolsa Família, como mostrou a NSC TV. A Secretaria de Estado da Educação está viabilizando as entregas aos demais alunos, o que ainda não ocorreu, pois não há resultado da licitação da empresa que deve fazer a entrega.

Em Florianópolis as famílias receberam cartões alimentação, mas agora prefeitura procura por uma nova empresa de cartões após romper contrato com a anterior, pois um dos sócios é citado nas investigações sobre a compra de respiradores pelo Estado.

Outro problema que deve ser enfrentado é a matrícula de mais alunos das redes públicas, especialmente vindos da rede particular durante a quarentena. Com redução de jornadas e salários e até desemprego, há pais que não estão mais conseguindo manter as mensalidades (veja no vídeo abaixo).

Por enquanto, esses alunos devem ficar em fila de espera, pelo menos, até que as aulas presenciais voltem. No início de maio, o MPSC chegou a recomendar que as escolas particulares adequassem as mensalidades devido à pandemia

MP acompanha situação do ensino em SC

O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) instaurou procedimento após alguns pais e alunos da rede pública e particular, além do Sindicato dos Trabalhadores em Educação na Rede Pública de Ensino do Estado de Santa Catarina (Sinte/SC) denunciarem falta de ferramentas adequadas para estudantes e professores, logo na primeira semana de atividades não presenciais.

A 25ª Promotoria de Justiça da Capital está apurando os relatos e tem mantido contato constante com os Conselhos de Educação Estadual e Nacional, com o próprio secretário da Educação e ainda com outros promotores de Justiça.

Para o promotor de Justiça Marcelo Brito de Araújo, novas diretrizes mais detalhadas devem ser publicadas para atender a tentas especificidades enfrentadas pelas escolas durante a pandemia. “Aguardaremos as orientações dos Conselhos para adotar medidas tendentes a minimizar os impactos da pandemia”, explica.

Adaptações

Para tentar aproveitar da melhor maneira todo conteúdo fornecidos, alunos como Mário Correa, de 15 anos, morador do bairro Tapera e que estuda em uma escola municipal no Ribeirão da Ilha, não deixam acumular nenhuma atividade e procuram sempre realizar as tarefas propostas nos horários de aulas.

“O tempo é o aluno que decide até entender completamente o conteúdo. Na maioria das vezes, procuro fazer tudo no mesmo dia, porque no dia seguinte tem as outras atividades também. No meu caso, estudo de manhã, então as matérias para os 9º anos são publicadas às 8h, horário que geralmente começava às aulas”, explica o rapaz.

Revisão de conteúdos

Quando houver retorno, tanto a rede estadual quanto a municipal devem revisar os conteúdos com os alunos e fazer avaliações, com base em critérios das secretarias.

A possível reposição de aulas ainda é avaliada, no município se descarta aulas aos sábados ou carga horário reduzida, por exemplo, enquanto que no estado, as férias de verão podem começar um pouco mais tarde. Na capital catarinense, a prefeitura deve se pautar em uma lei aprovada em abril que regulamentou as atividades não presenciais e sua validação.

Para o diretor da maior escola municipal de Florianópolis, o destaque tem sido a iniciativa de muitos professores e escolas para tentar atender aos alunos da melhor maneira possível. “Temos que ter pé no chão para reconhecer que é uma situação de excepcionalidade. E nesse contexto as escolas estão fazendo o seu melhor”, afirma o diretor Wiillian Pauli.

“Tem coisas lindas acontecendo e que vão mudar para sempre a educação no Brasil”, diz o secretário de Educação da capital catarinense.

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