“Desde a véspera, havia na cidade dois casos de uma nova forma de epidemia. A peste tornara-se pulmonar. Nesse mesmo dia, no decurso de uma reunião, os médicos, exaustos diante de um prefeito desorientado, tinham pedido e obtido novas medidas para evitar o contágio, que na peste pulmonar se fazia por via oral. Como sempre, não se sabia nada”
O trecho acima parece saído de algum jornal atual, porém faz parte do renomado romance “A Peste”, do filósofo e escritor Albert Camus, escrito em 1947. A obra citada retrata uma cidade da Argélia que foi infectada pela peste bubônica e entra em quarentena em pleno século XX. Era para ser uma ficção, acabou tornando-se profecia diante do quadro que temos à frente: o Coronavírus… No Brasil a situação ainda está controlada, afirmam políticos e até mesmo alguns médicos, mas será que é bem assim? E se for mesmo, até quando durará esse controle?
Estudos, todos ainda muito recentes para nos darem certezas e confianças, afirmam que 25% dos infectados não apresentam sintomas. São essas pessoas que estão circulando todos os dias por aí, acreditando estarem saudáveis. Provavelmente, a falta de sintomas é resultado de um sistema imunológico forte. Ótimo para elas! Mas e para quem está ao seu redor?
Outro dado interessante, relatado até mesmo por pessoas já diagnósticas com a doença, é que os sintomas demoram até duas semanas para aparecer. Nesse tempo, quantas pessoas foram infectadas e ainda nem sabem? Quando a doença se manifesta, muitas vezes, pode ser tarde. Cada pessoa sem sintoma ou com sintomas manifestados tardiamente alastram a doença além de si mesma, levando o Coronavírus aos grupos de risco.
E falando em grupo de risco, precisamos levar em conta um detalhe super importante: sabemos que as pessoas mais velhas são mais vulneráveis a essa doença, mas já paramos para pensar em quantos de nós pode ter algum problema como diabetes, pressão alta e que ainda não foi diagnosticada? Quantos de nós, fora de risco em um primeiro olhar, podemos estar com a imunidade baixa ocasionada por diversos fatores cotidianos e poderemos ser portadores dessa nova pandemia?
Moramos numa região pequena e, por isso, muitos acreditam que não há motivos para preocupação, mas não é bem assim, os italianos também tinham a mesma sensação e agora não sabem como resolver o problema que estão enfrentando. Há pessoas aqui de São Miguel do Oeste que estiveram na Europa no mês de fevereiro, várias outras que viajaram para São Paulo, Porto Alegre, Curitiba e Florianópolis no último feriadão. Fim de semana passado tivemos formatura da Unoesc aqui na cidade, com várias pessoas vindas de regiões que nem temos ideia. Portanto, há motivos para preocupação – não pânico, mas preocupação sim.
O Brasil é um país que possui um sistema de saúde precário com atendimento de qualidade duvidosa, falta de leitos, há escassez de medicação e equipamentos para doenças cotidianas, imagina como vai ficar com essa pandemia pela frente… E não podemos ignorar que outras doenças continuarão acontecendo, afinal o mosquito da dengue não dará uma pausa para que o Corona seja prioridade, aliás, a população está provando que não tem interesse em combatê-lo. Nosso governo precisa tomar medidas urgentes para evitar que o vírus se prolifere ainda mais.
E por falar em nosso governo, o presidente, para variar, foi um péssimo exemplo nesse último final de semana, não apenas desrespeitando a quarentena a qual foi submetido por ter tido contato com pessoas infectadas como ainda tendo contato físico com apoiadores durante o ato pró-governo. Não vou nem citar as pessoas que insistiram em realizar tal ato frente a calamidade que está vir. Até porque, politicamente, os dois lados – esquerda e direita – estão vendo teorias da conspiração em tudo e achando que Corona é só um exagero inventado pela mídia golpista.
Mas não vamos nos deter na política, é importante nesse momento pensarmos coletivamente, independente de qual lado político atuamos, é hora de pensar no coletivo. É hora de tomar atitudes mais pontuais para não chegarmos a mesma situação em que se encontra a Itália agora – Espanha e França também se encaminham para esse fim. Evite sair de casa sem necessidade, evite contato com as pessoas, lave bem as mãos, use álcool em gel sempre que possível. Não quero propagar pânico, mas pensar na prevenção, já que não está tendo, até o momento, medidas mais firmes do Governo Federal. Vamos fazer nossa parte para todos sairmos bem dessa história.
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