Jean Michel Schacker vive na cidade de Pádua, no norte da Itália com a esposa e o filho de 11 meses. Apreensivos com a gravidade da situação, a família voltou ao Brasil e está em quarentena em Florianópolis
Nos últimos meses, a pandemia do Coronavírus (Covid-19) mudou roteiros e alterou a forma de viver em países do mundo todo. Na Itália, um dos mais afetados pela pandemia, pedestres e turistas deixaram de circular por lugares movimentados, estabelecimentos fecharam as portas e as ruas, que antes comportavam milhares de veículos, ficaram totalmente vazias.
Em meio às ações de prevenção ao vírus, muitas famílias adotaram rotinas diferentes e viram em suas casas o único e mais seguro lugar no mundo. Por outro lado, muitos dos estrangeiros que vivem na Itália viram a necessidade de retornar à seus países de origem, com o intuito de se distanciar de um dos maiores desafios que o país já enfrentou e proteger suas famílias do risco iminente.
Foi pensando na segurança da família que o casal de São Miguel do Oeste, que vive na Itália há 12 anos, Jean Michel Schacker e Karoline Bedin, decidiu retornar ao Brasil. Com eles, o filho Luca, de 11 meses, principal preocupação em meio à pandemia do Coronavírus. “Desde a data do primeiro óbito na Itália até hoje, 20 de março, passaram-se 4 semanas. As mortes confirmadas já passam de 3 mil e o governo italiano acredita que o pico do vírus no país acontecerá em abril”, revela Jean, que é atleta e tem cidadania italiana.
A família, que mora em Pádua, cidade gravemente atingida pelo vírus, tomou a decisão de voltar ao Brasil e atualmente se mantem em isolamento em Florianópolis. Após o período de quarentena, Jean, Karoline e o pequeno Luca finalmente voltarão a São Miguel do Oeste, onde ficarão mais próximos de seus familiares.
“Em momento algum tivemos os sintomas do vírus, mas pelo fato de estarmos saindo de uma região altamente infectada e por sermos adultos jovens, poderíamos ser portadores assintomáticos do Covid-19. Optamos então por realizar a quarentena em nossa chegada em Santa Catarina e nos isolarmos por 14 dias antes do nosso retorno à São Miguel do Oeste. Sabemos que a situação é gravíssima e estamos tentando conscientizar o máximo de pessoas do nosso círculo de amizades”, conta.
Antes de se agravar, a situação na Itália era de alerta, mas não de alarde. No final do ano passado, ainda sem casos suspeitos registrados, a primeira medida adotada pelo governo italiano foi o cancelamento dos voos com destino e saída da China – país onde os casos surgiram.
“O mundo ainda não acreditava na gravidade da questão e os italianos, assim como os brasileiros neste momento, ironizavam a epidemia e estavam convictos que não seriam afetados de tal maneira. Algumas semanas se passaram e os primeiros casos começaram a aparecer na Europa. A Itália teve os primeiros casos confirmados em janeiro e o primeiro óbito de uma pessoa portadora do vírus aconteceu exatamente há 4 semanas, no dia 21 de fevereiro, em Pádua. A partir disso, o país começou a mudar a maneira de encarar o vírus. Inicialmente escolas e universidades foram fechadas”, recorda.
O contágio pelo Coronavírus aumentava rapidamente e decretos nacionais, atualizados dia após dia, obrigaram o fechamento de museus, cinemas, centros esportivos e todo estabelecimento que pudesse causar aglomeração de pessoas. Jean conta que, na tentativa de bloquear a disseminação do vírus, o governo decretou “zona vermelha” na região da Lombardia e outras províncias próximas, entre elas a de Pádua. O decreto, que durou apenas um dia, causou alarmismo e centenas de pessoas tentaram “fugir” do norte em direção ao sul, com receio de ficarem “bloqueadas” na região.
“O caos estava instalado. A solução encontrada foi tornar toda a Itália “zona vermelha” e uma nova lei nacional obrigava todas as pessoas a permanecerem em suas casas, sujeitas a multa e até prisão, caso circulassem sem ser por motivo de emergência, trabalho, necessidade pessoal (ir ao mercado/farmácia) ou retorno ao local de moradia. Na nossa casa, eu era o único a sair para ir ao mercado. Todos estavam apreensivos, as mortes aumentavam drasticamente, com exceção de mercados e farmácias, tudo fechou, o país paro”, revela.
Com Unidades de Terapia Intensiva (UTI’s) lotadas, o governo italiano encontrou no improviso de novas alas hospitalares a saída para atender os novos infectados que surgiam pouco a pouco. Mesmo assim, a falta de equipamentos e profissionais para atender a demanda cada vez maior, seguia decretando centenas de mortes. “Os demais países europeus começaram a fechar as fronteiras e a cancelarem os voos com a Itália. O país estava vivendo um pesadelo. Diante deste cenário, com todos os campeonatos esportivos suspensos e após quase 10 dias “trancados” em casa, decidimos retornar ao Brasil”, menciona.
Com toda a complexidade da situação e o crescimento assustador do número de mortos e infectados na Itália, familiares foram obrigados a se ausentar inclusive dos velórios de seus entes queridos falecidos vítimas do vírus. E mesmo com o passar dos dias, o Coronavírus continua assustando os italianos com o aumento surpreendente do número de mortos. “As pessoas estão morrendo isoladas de amigos e familiares e até mesmo a realização de velórios foi proibida. Atualmente alguns cemitérios da Lombardia não estão conseguindo sepultar a grande quantidade de mortos e o exército está transferindo caixões para outras regiões”, conta.
Com a disseminação do vírus por vários continentes e a confirmação de centenas de casos no Brasil, muitos estados já anunciaram medidas preventivas para conter o contágio. Jean acredita que essa antecipação de ações adotadas em solo brasileiro, podem ser o grande diferencial no combate ao vírus que colocou o mundo todo em alerta.
“O Brasil está tomando medidas seguindo o modelo europeu, porém de maneira bem antecipada. Sabemos que ficar em casa reflete em problemas financeiros para todos, empresas e trabalhadores, e que inevitavelmente o mundo passará por uma enorme crise econômica, mas a vida vem em primeiro lugar. Se o povo brasileiro levar o problema a sério e respeitar as ordens, acredito que as experiências vividas na Itália, os momentos de apreensão e medo que passamos, não chegarão ao Brasil, mas precisamos fazer a nossa parte. Não estamos vivendo um momento de férias, é um momento de pensar no coletivo e o isolamento é essencial. Faço um apelo para que a pandemia não seja menosprezada, precisamos respeitar as determinações governamentais, precisamos respeitar as nossas vidas”, finaliza.
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