Prefeito religioso e conservador promove literatura LGBT no RJ Inicialmente quero agradecer aos inúmeros amigos e leitores que acompanham o TV GC, em especial os meus escritos. Como todo sabemos aqui é um espaço de notícias de qualidade e bons escritores. Atendendo ao pedido da professora Ana Clara, hoje vou escrever sobre a polêmica da Bienal do Livro que aconteceu no último dia 06 de setembro na cidade do Rio de Janeiro-RJ.
Teria tudo para ser uma piada daquelas tirinhas que lemos no jornal ou daquelas frases soltas dos comediantes de stand up, mas não é. A figura central é o atual prefeito da cidade do Rio de Janeiro-RJ: Marcelo Crivella.
Ele é um senhor que ingressou na vida política em 2002, passou pelo Partido dos Trabalhadores – PT, pelo Partido Liberal – PL, esteve no Partido Republicano Brasileiro – PRB em 2005, participou de uma viagem à Venezuela integrando a Comitiva Oficial do Excelentíssimo Senhor Presidente da República Federativa do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva (13/Nov/06), enfim, tem um histórico marcado por sucessões partidárias apenas com a finalidade de permanecer no poder.
A bienal do livro aconteceu entre os dias 30 de agosto e 08 de setembro, mas a referida polêmica ocorreu no dia 06 de setembro, às véspera do feriado nacional.
Entre os muitos livros vendidos no local, estava a história em quadrinho “Vingadores, a cruzada das crianças”, de Vinícius Grossos, publicada pela Marvel, que não produz apenas HQ’s, mas também possui uma das maiores bilheterias de cinema nos últimos anos.
Todos que crescemos lendo a turma da Mônica, sabemos muito bem que o que caracteriza uma história em quadrinho é justamente a história contada através de desenhos e diálogos entre personagens. E qual era o desenho que havia dentro da referida HQ da Marvel? Dois homens se beijando!
Tendo conhecimento do fato, o prefeito Marcelo Crivella enviou fiscais da Secretaria da Ordem Pública até a Bienal para recolher os exemplares. A alegação é de que o conteúdo era incompatível com a determinação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O prefeito do Rio de Janeiro chegou a emitir nota ameaçando fechar a Bienal. A repercussão se espalhou rapidamente nas redes sociais.
Porém, diferente do que o prefeito alegou, o livro não era incompatível com o ECA, inclusive estava lacrado e obedecia das demais exigências do Estatuto, inclusive o Artigo 79: “As revistas e publicações destinadas ao público infanto-juvenil não poderão conter ilustrações, fotografias, legendas, crônicas ou anúncios de bebidas alcoólicas, tabaco, armas e munições, e deverão respeitar os valores éticos e sociais da pessoa e da família.” Muitos poderão alegar que as imagens dos homens se beijando fere valores sociais da família, porém, o que a maioria ignora é que Histórias em Quadrinho da Marvel, da DC e várias outras empresas, não é voltada ao público infanto-juvenil, mas sim aos adultos! A ideia de adultos lendo revistinha com desenho pode ser confusa para muitas pessoas, mas a verdade é essa. As animações e filmes voltam-se para o público infanto-juvenil, numa linguagem e com imagens mais amenas, mas a HQ é para adultos.
Agora, o ponto chave disso tudo é que na intenção de impedir que as pessoas tivessem acesso ao livro conseguiu o resultado exatamente oposto: graças ao escândalo desnecessário, não apenas o livro ficou nacionalmente conhecido como toda literatura LGBT teve sucesso histórico nas vendas.
Além disso, o jornal Folha de São Paulo, um dos maiores meio de comunicação a nível nacional, reproduziu a imagem em sua capa, apontando ainda ao redor da imagem dados que mostram o pouco crescimento do país e outras mazelas que nos atingem, deixando assim a reflexão sobre o que vem sendo o foco dos nossos políticos nos últimos anos. Senhoras e senhores, não se trata de concordar ou discordar com as pautas LGBT’s, mas entender que não é função do prefeito, do governador ou do presidente saber da vida particular de cada um, a tarefa deles é cuidar do cidadão independente de suas orientações políticas, religiosas e sexuais.
Muitos de vocês podem estar se perguntando: “e as crianças? Como ficam as crianças diante disso?” Entendo sua preocupação, mas a verdade é que ninguém ficaria sabendo da imagem se o prefeito não tivesse feito toda a balbúrdia que fez. Provavelmente, a maioria dos livros nem teria sido vendido, todo o sucesso do público LGBT na Bienal aconteceu justamente porque o prefeito queria esconder o beijo homossexual. O tiro saiu pela culatra!
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