Investigação partiu de um relatório do Coaf sobre o descompasso entre a receita bruta de uma empresa que seria de fachada e sua movimentação financeira
A reportagem do ND teve acesso em primeira mão à decisão da
juíza Janaína Cassol Machado, da 1ª Vara Federal de Florianópolis, que expediu
os mandados de prisão de ao menos 11 investigados na Operação Alcatraz
deflagrada pela Polícia Federal na manhã da última quinta-feira(30).
Os sete presos preventivamente pela manhã foram o ex-secretário
adjunto de administração do governo do Estado, Nelson Castello Branco Nappi
Júnior; a advogada Michelle Oliveira da Silva Guerra; o servidor da Secretaria
de Administração, Danilo Pereira; o fundador da empresa Intuitiva Digital
Solutions, Maurício Rosa Barbosa, a esposa de Maurício e sócia administradora
da Intuitiva Digital Solutions, Flávia Coelho Werlich; o representante da
empresa DigitalNet, Fabrício José Florêncio Margarido; e o ex-presidente da
Epagri e ex-prefeito de Ituporanga, Luiz Ademir Hessmann.
Entre os presos temporários estão o servidor público da
Secretaria de Administração, Luiz Carlos Pereira Maroso; o analista de
tecnologia da informação e comunicação da Epagri, Renato deggau; o gerente de
projetos da Secretaria de Administração, Edson Nunes Devincenzi; e o gerente de
tecnologia da informação e governança eletrônica da Secretaria de Estado da
Agricultura e da Pesca, Fábio Lunardi Farias.
Ao menos oito servidores públicos foram afastados de suas
funções. São eles: Nelson Castello Branco Nappi Junior, Lúcia de Fátima Garcia,
Danilo Pereira, Luiz Carlos Pereira Maroso, Renato Deggau, Edson Nunes
Devincenzi, Luiz Ademir Hessmann, e Fábio Lunardi Farias.
A decisão detalha o esquema que teria ocorrido entre agentes
públicos, grupos empresarias e empresas fantasmas com influência de políticos.
A investigação partiu de um relatório do Coaf (Conselho de Controle de
Atividades Financeiras) sobre o descompasso entre a receita bruta de uma
empresa que seria de fachada e sua movimentação financeira.
O sócio principal da empresa fantasma foi chamado a prestar
esclarecimentos e acabou confessando que emitia notas frias “a fim de receber
pagamento de órgãos públicos e depois de descontada sua parte, incluindo as
despesas fiscais, devolver o dinheiro aos agentes públicos”.
Segundo a Polícia Federal, houve fraude em licitações e
desvio de recursos públicos ligados a contratos de prestação de serviço de mão
de obra terceirizada e do ramo de tecnologia firmados com órgãos do executivo
estadual.
A investigação da PF apontou um prejuízo aos cofres
públicos, em razão dos ajustes fraudulentos, estimado em cerca de R$ 25 milhões
quanto à Secretaria Estadual de Administração e em cerca de R$ 3 milhões em
relação à Epagri/SC, ambos em contratos ligados à área de tecnologia.
Além disso, segundo a Receita Federal, são estimados R$ 100
milhões em créditos tributários em nome de diversos contribuintes que
participavam do esquema de propina.
Contrapontos
Nelson Castello Branco Nappi Júnior: O advogado dele,
Alessandro Abreu, conversou com a reportagem do ND. Ele confirmou que seu
cliente está detido na sede da Polícia Federal e que ainda procura se inteirar
dos autos para que a defesa possa se manifestar. Como o processo está em
segredo de Justiça, os advogados precisaram solicitar acesso para entender o
teor da acusação. “Tivemos conhecimento do caso pela imprensa e por meio da
coletiva de imprensa concedida pela Polícia Federal”, disse o advogado.
Administração do Estado: Em nota, a secretaria informou que
“a investigação abarca contratos firmados em gestões anteriores […] e que até o
momento não foi oficialmente notificada sobre o caso”. A secretaria afirmou,
ainda, que irá apurar se há contratos firmados que ainda estão em andamento e
que deve “avaliar possíveis repercussões administrativas”.
Epagri: Informou também em nota, “que foi surpreendida pelas
denúncias que remetem a fatos ocorridos entre 2015 e 2017”. “Até o momento, a empresa
ou seus atuais dirigentes não foram alvo de nenhum mandado judicial referente a
essa investigação”, escreveu.
Alesc: Por nota, a Casa informou que o evento policial
ocorrido na quinta-feira (30) não tem como foco o Poder Legislativo. Segundo a
Assembleia, um mandado de busca e apreensão foi cumprido no prédio
administrativo da avenida Mauro Ramos, onde foram vistoriados e apreendidos
documentos e equipamentos eletrônicos, de uso do diretor de Tecnologia, Nelson
Nappi. Por determinação do presidente, deputado Julio Garcia, o diretor foi
exonerado do cargo ontem.
Júlio Garcia: De acordo com a assessoria do deputado, ele
foi surpreendido pela operação policial e “informa que desconhece inteiramente
as razões pelas quais teve seu nome envolvido nas investigações. Assim que
tiver acesso e conhecimento integral dos autos e analisá-los, prestará todas as
informações necessárias”.
Luiz Ademir Hessmann: A reportagem fez contato com cinco
advogados que já atuaram em defesa dele em outros casos, inclusive enquanto foi
presidente da Epagri, mas nenhum deles está atuando neste caso. Até a
publicação desta reportagem, não foi possível identificar o seu defensor atual.
Michelle Oliveira da Silva Guerra: A reportagem identificou
que o advogado de defesa dela seria Francisco Yukio Hayashi. O ND tentou
contato pelo celular, mas ele não atendeu às ligações.
Flávia Coelho Werlich e Maurício Rosa Barbosa: A defesa do
casal estaria a cargo de Adilson José Frutuoso. O ND fez contatou com o
escritório de Frutuoso, mas não obteve retorno.
A reportagem não identificou as defesas dos demais presos na
Operação Alcatraz.
deixe seu comentário