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“A democracia e o julgamento do Lula”

Última atualização: 2018/01/18 3:50:29

Hoje compartilho um texto da Jornalista Elaine Tavares, para reflexão do que acontecerá com a sociedade nas próximas semanas. “A democracia liberal já mostrou sua verdadeira face na América Latina de várias maneiras. E essa face não é democrática, pelo contrário, é autoritária e absolutamente vinculada aos interesses da classe dominante. Em nome dessa forma de governo o império estadunidense faz guerra, destrói países, promove massacres. Assim, na mídia, o império atuando aparece como liberdade e democracia, e onde a democracia é participativa, real e popular, como em Cuba e na Venezuela, o braço armado midiático do capital aponta como ditadura, totalitarismo, autocracia. Tudo fica de pernas para o ar. E, na cabeça das gentes, a confusão é formada. 

Na Venezuela, em 2002, foi planejado e dado um golpe no governo bolivariano, democrático e popular. Mas, lá, a população agiu em consequência e não permitiu que a coisa seguisse. Não é à toa que desde então, o imperialismo estadunidense tenha tentado de todas as formas destruir o processo iniciado por Chávez. A resistência tem sido grande, ainda que na mídia o governo apareça como mais uma ditadura bananeira. Não é. Lá, o poder está com o povo e isso tem sido reiterado a cada nova eleição. Apesar da guerra econômica, das sanções e da ação criminosa da elite local que tem levado a fome e o desespero para o interior do país, as gentes seguem resistindo.

Mas, ao longo do início do século XXI, a “democracia” alardeada pelo sistema capitalista de produção, concretizada na ação do império, com a participação das elites nacionais, tem servido para provocar o terror. Essa “democracia” acabou chegando ao Brasil em 2016, quando a presidenta foi deposta acusada de um “crime” que sempre foi prática corrente em todos os governos: as pedaladas fiscais. Num julgamento digno do realismo fantástico, um congresso mergulhado em corrupção decidiu pela saída de Dilma, no mesmo modelo de golpe judiciário/parlamentar. Poucos meses depois, o mesmo congresso legalizava as pedaladas fiscais para que o então presidente Michel Temer pudesse pratica-las sem atropelos. Um cinismo sem fim.  

Agora, no dia 24 de janeiro, a turma do golpe pretende dar sua jogada de mestre. Tirar da disputa eleitoral o líder petista Luís Inácio Lula da Silva, que a despeito de toda a campanha de ódio e difamação praticada pela mídia, em conluio com o judiciário, tem se mantido no topo das pesquisas para as eleições presidenciais. Acusado pela operação Lava-Jato, que “misteriosamente” só enxerga as tramoias dos petistas, de ganhar como propina um apartamento tríplex, Lula já foi condenado e nesse 24 deverá ser julgado o seu recurso. Não há qualquer prova de que o apartamento seja dele, mas, mesmo assim, contra a própria lógica do direito liberal de considerar inocente até que se tenham as provas da culpa, o ex-presidente foi condenado. Os próprios juízes fazem declarações e campanhas na internet. Ou seja, o julgamento do recurso será só uma cena a mais nessa grotesca dança das cadeiras do poder, da qual o judiciário tem sido a estrela, comodamente aliado à classe dominante. 

O mais terrível nesse conto burlesco é que aqueles que foram golpeados, tanto Dilma, quanto Lula e todo o espectro petista, jamais convocaram a população para a resistência. Todo o processo de impedimento da ex-presidenta, bem como a cruzada judiciária contra Lula, foram tratados dentro da ordem, como se aqui fosse mesmo uma democracia e a população tivesse todos os mecanismos de informação a sua disposição.  Protestos aconteceram, mas foram insuficientes para criar um caldo verdadeiramente rebelde.  Possivelmente porque o próprio petismo já estivesse mesmo bem longe da maioria da população, sem vinculação visceral e orgânica com as massas.

Esse é o cenário atual da vida brasileira no qual a dita democracia segue sendo apenas uma palavra e não uma prática real. Nela está embutida apenas a ideia de eleição, como se isso fosse o centro do sistema. Se a farsa do Lava-Jato excluir Lula da eleição, a corrupção não vai acabar por mágica. Pelo contrário. Sacrificado o cordeiro, tudo seguirá como sempre foi. E o cordeiro, como é parte do sistema, logo encontrará uma forma de renascer. Assim, tudo mudará para que nada mude”.


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