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São Miguel do Oeste entra em situação de epidemia de dengue; especialistas alertam para agravamento da doença

Cidade ultrapassa 300 casos por 100 mil habitantes e entra em epidemia; autoridades reforçam combate ao Aedes aegypti e alertam para aumento das infecções em 2025

TVGC

Última atualização: 2025/03/19 12:57:06

A cidade de São Miguel do Oeste foi oficialmente declarada em situação de epidemia de dengue, segundo informações da Vigilância Epidemiológica. O número de casos já ultrapassou a marca crítica, com mais de 300 casos por 100 mil habitantes, o que coloca o município em um cenário preocupante.

De acordo com o enfermeiro responsável pela Vigilância Epidemiológica, Marcos Bortolanza, a situação vem se agravando rapidamente:

“Para chegar em epidemia, existe uma estimativa que é, na verdade, um número absoluto: 133 casos por 100 mil habitantes. Atualmente, já passamos desse patamar, atingindo mais de 300 casos. E, infelizmente, seguimos registrando aumentos exponenciais”, afirmou.

Apenas na manhã desta terça-feira (18), mais nove novos casos foram confirmados, reforçando o avanço da doença na cidade.

Estratégias para conter o avanço da epidemia

Com o agravamento da situação, as autoridades de saúde estão adotando novas estratégias. Segundo Bortolanza, o município avançou para o nível 3 do plano de contingência, o que inclui reorganização dos serviços de saúde, ampliação da testagem e diagnóstico precoce, e reforço na disponibilidade de leitos e medicamentos.

“O objetivo agora é diagnosticar rapidamente os casos sintomáticos, garantir a oferta de exames, fornecer hidratação adequada e monitorar os atendimentos na UPA e hospitais públicos e privados. Além disso, será intensificado o controle de endemias em parceria com órgãos estaduais”, explicou Bortolanza.

Previsão de agravamento da dengue em 2025

O especialista ressaltou que a tendência é de que a situação se agrave ainda mais nos próximos meses, tanto a nível local quanto nacional. O Brasil já viveu, em 2024, o pior ano da história em relação à dengue, com 6 milhões de casos e 6 mil mortes, o que representa uma média de 16,4 óbitos por dia.

“Infelizmente, as previsões do Ministério da Saúde para 2025 não são nada animadoras. O Brasil possui condições climáticas e sanitárias propícias para a permanência do Aedes aegypti, e além disso, há um grande número de pessoas suscetíveis a adquirir a doença mais de uma vez”, alertou o enfermeiro.

Em Santa Catarina, os principais vírus em circulação são os sorotipos 1 e 2, enquanto no Brasil já há registros do vírus 3, o que aumenta a possibilidade de reinfecções.

“O grande problema é que, entre os casos graves que evoluem para óbito, cerca de 90% já haviam tido dengue anteriormente”, destacou Bortolanza.

Fumacê é eficaz? Especialista esclarece dúvidas

Diante da situação, a cidade tem intensificado as ações de Fumacê, com a aplicação do inseticida UBV (Ultra Baixo Volume) para reduzir a população de mosquitos. Porém, o especialista alertou que o Fumacê não é uma solução definitiva.

“Existe a ideia equivocada de que o problema está resolvido depois do Fumacê, mas isso não é verdade. Ele é apenas uma ferramenta complementar. O inseticida precisa atingir diretamente o mosquito em voo para ser eficaz, e não deixa efeito residual duradouro”, esclareceu.

Por isso, a eliminação de criadouros continua sendo a principal estratégia no combate à dengue.

Chikungunya e Zika também preocupam

Além da dengue, o Aedes aegypti também é responsável pela transmissão da chikungunya e do Zika vírus, doenças que podem deixar sequelas graves.

“A chikungunya, por exemplo, causa dores articulares que podem se tornar crônicas e até incapacitantes. Tivemos surtos recentes em cidades vizinhas como Seara e Xaxim, e já houve registros de óbitos por chikungunya em Santa Catarina”, explicou Bortolanza.

Já o Zika vírus é conhecido pelos riscos de microcefalia em bebês, caso a mãe seja infectada durante a gestação.

Vacina contra a dengue pode ser esperança para 2025

A vacinação contra a dengue ainda é limitada no Brasil, mas há expectativa de avanço para os próximos anos. Atualmente, a única vacina disponível no SUS é oferecida para crianças de 10 a 14 anos em cidades com alta incidência, mas São Miguel do Oeste ainda não foi contemplada.

No entanto, segundo Bortolanza, o Brasil pode ser o primeiro país a disponibilizar uma vacina nacional de dose única contra os quatro sorotipos do vírus a partir de 2025.

“A vacina é uma ferramenta essencial, mas não resolve sozinha. Precisamos continuar eliminando os criadouros e protegendo a população”, reforçou.

O dever de casa é de todos

Apesar das ações da Vigilância Epidemiológica, o especialista destacou que a maior responsabilidade no combate à dengue é da própria população.

“O mosquito se prolifera dentro de casa. Cerca de 80% dos focos estão nas residências. É muito comum recebermos denúncias de pessoas que culpam o vizinho, mas quando verificamos, encontramos criadouros no quintal do próprio denunciante”, relatou Bortolanza.

Ele reforçou a importância do uso de repelentes, da busca por atendimento médico imediato em caso de sintomas e do acompanhamento rigoroso dos pacientes diagnosticados.

“Estamos investindo em tecnologias como testes rápidos para hematócrito e hemoglobina, que ajudam a detectar rapidamente os casos de risco. Mas nada substitui a conscientização e o envolvimento de cada cidadão”, finalizou.

Situação é crítica, mas pode ser revertida

Com a confirmação da epidemia, a atenção deve ser redobrada. As autoridades pedem a colaboração da população na eliminação dos focos do mosquito e reforçam que a situação pode ser revertida com ações conjuntas.

“Cada um precisa fazer sua parte. Não queremos que mais pessoas virem estatística”, concluiu Bortolanza.

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