O tema integra pesquisa da assessora técnica do mandato do deputado estadual Fabiano da Luz (PT/SC), Dra Fernanda Hentz
No Brasil, cerca de 95% do controle de insetos e pragas nas culturas agrícolas é feito com produtos químicos (Esalq/USP). Nosso país é um dos líderes mundiais na produção de alimentos, mas carrega também o título de maior consumidor mundial de agrotóxicos, utilizando 1/5 do total desses produtos produzidos no mundo (Anvisa). A utilização indiscriminada de defensivos agrícolas para o controle de pragas e doenças leva a um desequilíbrio natural severo da microfauna, tornando necessária a aplicação de doses cadas vez maiores de pesticidas para a efetividade dos produtos. Concomitante há a contaminação do solo, da água e recursos alimentares, envenenamento de insetos benéficos, e desenvolvimento de populações de insetos resistentes aos pesticidas.
Os efeitos dos agrotóxicos sobre a saúde humana são preocupantes. Pesticidas tem sido implicados em estudos com humanos relacionados à tipos de câncer como a leucemia, linfomas e câncer de mama e cérebro. Risco de anormalidades congênitas em bebês, vinculadas ao sistema músculo-esquelético, neurológico,urogenital e do sistema circulatório e respiratório também são descritos na literatura (Kalliora et al., 2018).
Para evitar o problema da poluição e reduzir os riscos à saúde humana, o controle de pragas e insetos usando microrganismos antagonistas específicos e substâncias naturais é uma abordagem alternativa eficaz com efeitos deletérios mínimos.
As informações são analisadas por Fernanda Hentz (Zootecnista graduada pela UDESC), com Mestrado em Zootecnia na área de Nutrição de Ruminantes, UFSM. Doutorado em Zootecnia na área de Nutrição de Ruminantes, UFSM. Fernanda é Pesquisadora da Epagri, Estação Experimental de Lages, cedida para a Assembleia Legislativa, no mandato do deputado estadual Fabiano da Luz (PT/SC).
O que é controle biológico?
O controle biológico é a redução de populações de pragas agrícolas e insetos transmissores de doenças através de seus inimigos naturais (outros insetos e microrganismos), tipicamente envolvendo a ação humana. Há diferentes tipos de animais e microrganismos de controle biológico, que são classificados como:
Predadores: insetos inimigos naturais que comem insetos como ácaros, pulgões, cochonilhas, lagartas, etc. Alguns artrópodes predadores comuns incluem os besouros joaninha e outros besouros, sirfídeos (moscas-das- flores), percevejos-pirata, insetos nabídeos, vespa-predadora, percevejos de olhos grandes e aranhas.
Parasitoides: esses insetos geralmente não comem seus hospedeiros diretamente, mas colocam seus ovos sobre ou próximo do seu inseto hospedeiro. Quando os ovos eclodem, os parasitoides imaturos utilizam o inseto hospedeiro como alimento. Moscas taquinídias e vespas são os principais parasitoides.
Patógenos: são organismos como bactérias, fungos, protozoários, vírus e nematoides que irão causar doenças nos insetos-praga. Um agente de controle microbiano muito conhecido, disponível comercialmente são subespécies e cepas de Bacillus thuringiensis, que controlam uma grande variedade de lagartas em diversas culturas. Fungos como Beauveria e Metarhizium também são amplamente utilizados para insetos-praga das folhas em estufas e locais de cultivo com alta umidade.
Agentes de controle biológico e biopesticidas são a mesma coisa?
Não. Embora ambos sejam biológicos, os biopesticidas são pesticidas de origem natural que modificam o desenvolvimentos dos insetos e pragas, sendo formulados a partir de microrganismos, partes de plantas, minerais e metais. No conceito de controle biológicos não estão incluídos os semioquímicos (feromônios e compostos aleloquímicos), substâncias oriundas de plantas, e organismos geneticamente modificados.
Os biopesticidas são classificados em três grupos principais:
Pesticidas Bioquímicos: Substâncias que ocorrem naturalmente e controlam os insetos e pragas através de mecanismos não tóxicos, tendo propriedades inseticidas, repelentes, inibidoras do consumo das plantas e inibidoras do crescimento dos insetos. Essa classe inclui também substâncias que interferem com o acasalamento dos insetos (ex. feromônios), e vários outros extratos de plantas que atraem os insetos-praga para armadilhas.
Pesticidas microbianos: Consistem de microrganismos vivos existentes naturalmente como o ingrediente ativo.
Protetores incorporados às plantas: Substâncias pesticidas que as plantas produzem a partir de material genético incorporado a elas. Por exemplo, cientistas podem extrair o gene das proteínas pesticidas de Bacillus thuringiensis e incorporá-lo ao material genético de plantas. A planta não produzirá o B. thuringiensis, mas sim, a proteína que destroi a lagarta.
Como os agentes de controle biológico são aplicados?
O conhecimento do mecanismo de dispersão de cada agente de controle biológico é importante.
O controle biológico aplicado, isto é, quando um agente de controle biológico é inserido no ambiente, pode ser feito por inoculação ou inundação. A inoculação consiste da liberação no ambiente de inimigos naturais para formar populações destes insetos benéficos. No método de inundação, os microrganismos de controle biológico são aspergidos sobre as culturas, do mesmo modo que os inseticidas convencionais.
Quais aspectos devem ser observados na aplicação de agentes de controle biológico?
Cada agente de controle biológico é específico para um ou poucos tipos de pragas. É preciso conferir se o agente biológico tem ação sobre a praga que se quer combater. É necessário também ter conhecimento sobre os ciclos de vida do agente de controle biológico e do inseto-praga em questão, para a sincronização do desenvolvimento do hospedeiro e seu inimigo natural. Alguns agentes de controle biológico agem na fase adulta e, portanto, dependendo da fase do ciclo de desenvolvimento que são aplicados, demoram alguns dias para iniciar sua ação, podendo as pragas já terem comprometido grandemente a cultura infestada. No caso do agente Bacillus thuringiensis, este deve ser aplicado quando as lagartas estão na fase larval.
Os agentes aplicados são vivos, portanto necessitam de condições adequadas no transporte da indústria até o campo, armazenamento e de crescimento no ambiente onde são inseridos. Cuidado com a temperatura adequada para armazenamento de agentes bactérias e fungos, pois estes morrem em condições inadequadas. Cuidado também o pH da água da preparação da calda no uso de agentes dispersados por inundação. O pH 8 é o encontrado no intestino das lagartas, e ativa à ação da toxina da bactéria Bacillus thuringiensis para matar as lagartas. Se o pH da água estiver acima de 8 ativará a toxina desse agente antes de ele ter sido consumido pelas lagartas, não tendo efeito no controle.
É necessário avaliar o poder e duração do efeito dos agentes biológicos no ambiente. Alguns microrganismos de controle inundativo não são capazes de se estabelecer permanentemente, sendo necessária sua reaplicação. Outros agentes se perpetuam no ambiente, com potencial de redução permanente de determinada praga ou inseto. A Bacillus thuringiensis é capaz de sobreviver por anos se adsorvido às partículas do solo, mas é rapidamente inativado pela radiação UV. Deve-se aplicar este agente de controle biológico no final da tarde.
Potenciais efeitos diretos e indiretos sobre insetos benéficos não-alvo devem ser compreendidos antes da aplicação dos agentes de controle biológico. Para alguns inimigos naturais, as plantas podem ser uma segunda fonte de alimentos, embora hão haja relatos na literatura reportando que inimigos naturais introduzidos em sistemas tenham infligido danos significativos à culturas e plantas nativas.
Os agentes de controle biológico via de regra são efetivos em dosagens pequenas, dificilmente induzem resistência, isto é, não perdem sua eficácia contra os insetos-praga alvo, não contaminam o solo e a água, não são tóxicos para peixes e demais animais, e não deixam resíduos químicos nos alimentos produzidos.
Há riscos para a saúde humana do uso de agentes de controle biológico?
Os riscos associados à saúde humana/animal são extremamente baixos a inexistentes. Há alguns casos reportados de alergias leves em unidades de produção dos agentes de controle biológico.
Referências
Holmes, L. et al. Biological Control of Agricultural Pests. European Scientifical Journal. 2016. ISSN: 1857 – 7881 (Print) e – ISSN 1857- 7431.
Kalliora, Charikleia et al. “Association of pesticide exposure with human congenital abnormalities.” Toxicology and applied pharmacology vol. 346 (2018): 58-75. doi:10.1016/j.taap.2018.03.025
Shindu, S. S. et al. Biological Control of Insect Pests for Sustainable Agriculture, In: T. K. Adhya et al. (eds.), Advances in Soil Microbiology: Recent Trends and Future Prospects, Microorganisms for Sustainability 4, https://doi.org/10.1007/978-981-10-7380-9_9
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