“Não tem como saber se alguém que estava contaminado tossiu numa embalagem", afirma especialista, ressaltando que a pandemia ainda gera riscos
“A minha família era
a mais ‘noiada’ de todas, a gente ia no mercado, chegava em casa e lavava todas
as compras, uma por uma. A gente ia passear com o cachorro, lavava as patas do
cachorro e ia tomar banho”, conta o publicitário Gustavo (nome fictício), 27
anos.
Gustavo explica que, com o tempo, os hábitos foram
afrouxando. “Não é sempre que eu chego e tomo um banho direto. Se eu não fiquei
muito tempo fora, eu aproveito, faço um exercício e depois eu vou para o
banho.”
O infectologista Marcelo Otsuka, da SBI (Sociedade
Brasileira de Infectologia), explica que ainda vivemos uma pandemia com números
expressivos e, por isso, os hábitos de higiene adotados como medida de
segurança contra a contaminação pelo novo coronavírus devem continuar, mas
explica que precisa existir bom senso.
“A grande maioria das pessoas vai entendendo e vai começando
a agir com uma certa coerência. Claro que algumas pessoas podem ter uma
compulsão, mas elas teriam para outras coisas, é algo da psique dessa pessoa.
Se você está em casa e só foi buscar uma encomenda na portaria e voltou, não
precisa tomar banho, mas pode tirar o sapato na porta”, afirma o médico.
“Antes de entrar no carro eu levava um spray, jogava na
maçaneta, no volante, dirigia de máscara. Eu não acho que a gente superou a
Covid-19, o risco ainda é alto, mas a gente ganhou um pouquinho de confiança.
Acho que é possível se cuidar sem estar obcecado. O que a gente fazia antes
estava deixando a gente doido”, conta Gustavo.
Jéssica Amanda Souza, 21, operadora de caixa, conta que no
começo da pandemia seguia todas as orientações de higiene.
“No começo, eu fazia tudo: máscara, trocar a máscara em
certo tempo, limpar a casa com mais frequência, tirar a roupa e tomar banho
assim que chegasse, mas quando eu voltei a trabalhar e vi que as pessoas não
estavam respeitando as regras, muitos idosos na rua, sem máscara na feira, eu
achei que estava exagerando e afrouxei meus cuidados.”
Jéssica explica que não é do grupo de risco e por isso
manteve só os cuidados que considera mais importantes, como lavar as mãos e
usar máscara.
Medidas continuam sendo importantes
O infectologista explica que as medidas de higiene como
lavar as compras e tomar banho depois que chegou da rua são importantes porque
não há como saber a quais riscos uma pessoa foi exposta. “Não tem como saber se
alguém que estava contaminado tossiu numa embalagem.”
Além disso, ele explica que certos hábitos de higiene
deveriam ser praticados mesmo sem o novo coronavírus em circulação.
“Se você tem uma criança pequena em casa, que anda no chão,
engatinha, coloca a mão na boca, é uma questão de higiene tirar o sapato na
entrada. Se você vem da rua depois de pegar condução, você não sabe os
patógenos que você entrou em contato, você não vai direto brincar com seu
filho.”
Para ele, o ideal seria que os hábitos continuassem mesmo
após o fim da pandemia. “Pelo menos o de lavar as mãos frequentemente. Os
adultos são mais difíceis de aceitar assimilar novas instruções, mas acredito
que as crianças continuem”.
Novos hábitos
Natália Werner, 30, educadora, explica que antes da Covid-19
não tinha esses hábitos, mas que o medo de se contaminar e contaminar a família
dela fez com que ela começasse a se preocupar mais.
“Hoje, assim que eu chego em casa, limpo pelo menos meu
calçado com álcool, limpo todas as minhas compras, vou direto para o banho. Vou
continuar fazendo porque acho bem prudente esse cuidado, de pelo menos limpar
as compras, a gente não pensava no que pode ser transmitido. Hoje eu penso
quantas pessoas colocaram a mão naquela batata antes dela ir para minha
geladeira. Faz mais sentido limpar toda a compra antes de guardar.”
O analista de suporte Guilherme Monteiro, de 22 anos , conta
que também aumentou os hábitos de higiene com o início da pandemia e que pelo
menos o de higienizar as mãos vai manter mesmo após a pandemia acabar.
“Minha mãe já não deixava entrar de sapato em casa, mas eu
comecei a lavar muito mais as mãos e usar álcool em gel e isso já virou hábito
para mim.”
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