Aposentado de 81 anos é aprovado em História na UEM e faz planos para o futuro: ‘Meu sonho está só começando’

O aposentado, um dos aprovados no Vestibular de Inverno da Universidade Estadual de Maringá (UEM), no norte do Paraná, assumiu o topo da lista de calouro mais velho da instituição.

O decano contou que sonhava com o curso há anos.

“Sou apaixonado por histórias, principalmente de guerras antigas e do descobrimento do Brasil. Ser aprovado em História mostra que o meu sonho em me tornar um profissional em contar histórias está só começando. Estou tão realizado”, relatou.

Seu Leonildo é natural de Sertanópolis, mas foi criado pelos pais em Maringá. Em 1968, ele foi para o estado de São Paulo, onde abriu uma empresa de reciclagem de óleo de fritura.

Nos anos 1980, ele se capacitou na área da química, tendo atuado em diversas empresas do Paraná e em São Paulo.

“Lá eu morei por 10 anos e criei meus filhos. Com o conhecimento na área da química eu resolvi abrir uma empresa, depois voltei para o Paraná”, lembrou.

Leonildo Teodoro Gomes,de 81 anos, é o aluno mais velho a passar no vestibular da UEM — Foto: Gabriel Bukalowski/g1

O fascínio por histórias mudou o rumo da vida do aposentado, que vive sozinho no Centro de Maringá. Com o novo desafio da graduação, ele já faz planos para quando concluir o curso: quer trabalhar como professor.

“Se aparecer a oportunidade de dar aula, eu quero ser professor de História. O meu conhecimento de história é muito bom”, relatou.

Relembre histórias inspiradoras:

Seu Leonildo foi aprovado no sistema de cotas sociais, que permite ao candidato a escolha de até três opções de cursos. Por este sistema, caso o estudante não obtenha nota suficiente, pode ter chance nas outras opções.

Seu Leonildo contou que a primeira opção de curso foi Engenharia Química, mas ele não atingiu os pontos necessários. Aí veio, então, a aprovação na segunda opção declarada por ele.

De acordo com a UEM, neste vestibular, foram 1.130 aprovados no mesmo sistema que seu Leonildo, sendo 887 na primeira opção, 127 na segunda e 116 na terceira.

Os classificados vão estudar em mais de 70 cursos de graduação, distribuídos nos seis campi da UEM nos municípios de Maringá, Cianorte, Cidade Gaúcha, Ivaiporã, Goioerê e Umuarama.

Seu Leonildo é dono de uma memória invejável e exemplo de dedicação.

Ele lembra que, aos 14 anos de idade, passou a se interessar por histórias fascinantes, como a Guerra de Tróia, um clássico da mitologia grega. Obras como essa aumentaram o interesse dele pela leitura.

“Leio de tudo. Todo dia leio alguma coisa. O que me chama atenção são histórias de guerra, especialmente a de Tróia, de como fizeram a estrutura para invadir o outro lado”, contou.

O decano revelou que o hábito da leitura o ajudou, inclusive, a resolver as questões do vestibular.

“A prova foi fácil, eu achei. Gosto de ler muito e tinha conhecimento suficiente para resolver as questões”, falou.

Para Leonildo, a idade não é um obstáculo para conquistar os objetivos. No caso de entrar em uma universidade, segundo ele, a receita é ler muito.

“A leitura é muito importante para o conhecimento. Quanto mais ler, mais conhecimento adquire. Tem que ser curioso também”, falou.

Segundo seu Leonildo, receber apoio foi fundamental para continuar se arriscando em novos desafios. Os dois filhos do aposentado, segundo ele, são grandes incentivadores.

“Eles me apoiam demais. Sempre estão comigo e me orientando”, falou.

Conforme a Adriana Conceição Beraldo Santana, coordenadora da Pastoral da Pessoa Idosa de Maringá, é importante dar atenção à pessoa idoso para incentivar novas experiências e diminuir riscos de doenças.

Em 2022, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de pessoas com 60 anos ou mais subiu e a passou a representar 15,1% da população no Brasil. 10 anos antes, em 2012, o percentual era de 11,3%.

Para Adriana, a história do Leonildo é um exemplo ao mostrar que é possível, sim, pessoas idosas realizarem sonhos.

“Quando o idoso fica muito fechado em casa ele não é visto pela sociedade. O idoso acaba ficando desmotivado, isolado, não se sente útil”, explicou.