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Bolsonaro anuncia Alexandre Ramagem para comandar a PF

Diretor-geral da Abin foi escolhido pelo presidente para ocupar o lugar de Mauricio Valeixo, que foi exonerado do cargo na semana passada. Novo nome gera polêmica pela proximidade com a família de Jair Bolsonaro e em virtude das denúncias feitas pelo juiz Sergio Moro na semana passada

Última atualização: 2020/04/28 6:47:46

Alexandre Ramagem Divulgação/PF


Alexandre Ramagem Rodrigues é o novo diretor-geral da Polícia Federal. Ele substitui Mauricio Valeixo, que foi exonerado do cargo. A nomeação foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) desta terça-feira (28).  

Ramagem é diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) desde julho de 2019, quando foi nomeado pelo presidente Jair Bolsonaro. Na ocasião, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, destacou que a presença de Ramagem na Abin foi estratégica, para que as instituições trabalhassem integradas.

Delegado da Polícia Federal desde 2005, Ramagem comandou, entre 2013 e 2014, a Divisão de Administração de Recursos Humanos e a de Estudos, Legislações e Pareceres, entre 2016 e 2017.

Também participou da coordenação de grandes eventos realizados no país nos últimos anos, como a Conferência das Nações Unidas Rio+20 (2012), a Copa das Confederações (2013), a Copa do Mundo (2014) e a Olimpíada do Rio (2016).

Em 2017, Ramagem integrou a equipe responsável pela investigação e Inteligência de polícia judiciária na Operação Lava Jato. Ele também coordenou o trabalho da PF junto ao Tribunal Regional Federal da 2ª Região, no Rio de Janeiro.

Nas eleições presidenciais de 2018,  Ramagem foi um dos delegados responsáveis pela coordenação da segurança do então candidato Jair Bolsonaro. Ele assumiu a função depois do atentado a faca ocorrido em ato de campanha de Bolsonaro na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais.


Nome gera polêmica

Ramagem, ao lado do vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente, no réveillon de 2019 — Foto: Reprodução


O nome de Alexandre Ramagem Rodrigues gera polêmica pela proximidade com a família Bolsonaro. Após chefiar a equipe de segurança de Jair Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018, ele teria se tornou amigo próximo da família do presidente. Ele tem a confiança de Bolsonaro e dos filhos. No réveillon de 2019, Ramagem foi fotografado ao lado de Carlos Bolsonaro, filho do presidente, durante a comemoração.

Em março de 2019, ainda no início do mandato de Bolsonaro, o delegado foi nomeado assessor do então ministro Santos Cruz na Secretaria de Governo – pasta que fica no Palácio do Planalto.

Ramagem foi mantido na secretaria, como assessor do novo ministro, Luiz Eduardo Ramos, após a demissão de Santos Cruz, em junho de 2019.

No mês seguinte, em julho, o delegado foi escolhido por Bolsonaro para ser diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que é vinculada ao gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência, comandada pelo ministro Augusto Heleno. Segundo o GSI, a Abin produz informações para embasar decisões do presidente da República de forma rápida.

Na posse, o presidente se referiu a ele como “um amigo que conheci há pouco tempo”.

Bolsonaro demitiu chefe anterior

Ramagem assume o comando da corporação após Bolsonaro demitir o então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, o que precipitou a saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça, ao qual a corporação está subordinada.

Ao anunciar sua saída, Moro afirmou que Bolsonaro tentou interferir politicamente na PF ao demitir Valeixo. O presidente nega e diz que Moro propôs aceitar a exoneração do então diretor-geral da corporação se fosse indicado ministro do STF. Moro nega.

Como prova da interferência, o ex-ministro exibiu uma imagem que mostra que o presidente lhe enviou, pelo celular, o link de uma reportagem do site “O Antagonista” segundo a qual a PF está “na cola” de dez a 12 deputados bolsonaristas.

O presidente, então, escreveu: “Mais um motivo para a troca”, se referindo à mudança na direção da Polícia Federal.

Sergio Moro respondeu ao presidente explicando que a investigação não tinha sido pedida pelo então diretor da PF, Maurício Valeixo.

Também na sexta-feira, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a permanência das equipes da Polícia Federal que tocam os inquéritos que ele preside, mesmo com a mudança no comando da PF.

Uma dessas investigações trata da origem de fake news e ameaças anônimas feitas aos integrantes do STF. Outro inquérito, aberto esta semana no Supremo, investiga a organização e o patrocínio de atos antidemocráticos – num deles, no dia 18 de abril, o presidente Bolsonaro discursou.

Parcialidade do governo

Colocar um policial ligado à família no maior órgão de investigação do país levou a duras críticas de parcialidade do governo numa corporação que tem autonomia e independência.

O deputado Marcelo Freixo (PSOL) disse que vai apresentar uma ação para impedir que Alexandre Ramagem assuma o comando da Polícia Federal. Segundo ele, o presidente quer transformar a PF numa polícia política a serviço da família.

Internamente, delegados dizem que é preciso deixar claro que a PF não é um órgão de inteligência como a Abin e não está a serviço do governo.

A Polícia Federal é um órgão de polícia judiciária da União, que faz investigações solicitadas pelo Judiciário. Esses delegados destacam que quanto mais relevante for uma investigação, mais sigilosa ela deve ser, exigindo autorização judicial para ter acesso aos dados.


Alexandre Ramagem Divulgação/PF
Ramagem, ao lado do vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente, no réveillon de 2019 — Foto: Reprodução

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