Proposta de autoria de Ravier Centenaro homenageia pesquisador por contribuições para o desenvolvimento econômico e social
Fonte: Tiarajú Goldschmidt/Câmara de Vereadores
Última atualização: 2024/07/04 8:59:50O Poder Legislativo de São Miguel do Oeste aprovou nesta terça-feira (2), em segundo turno, o Projeto de Lei 45/2024, de autoria de Ravier Centenaro (PSD), que denomina de Ângelo Miguel Gobbi a Rua Projetada A, no Loteamento Vivendas do Arcanjo, no Bairro Progresso.
“Ângelo Miguel Gobbi foi um cidadão exemplar, cuja vida foi marcada por suas contribuições significativas para o desenvolvimento econômico e social. Sua dedicação incansável em áreas como agricultura, indústria, pesquisa e trabalho comunitário deixou um legado indelével. Ao propor a nomeação de uma rua em sua homenagem, buscamos não apenas reconhecer seus feitos notáveis, mas também prestar uma homenagem especial à Família Gobbi, que, ao longo das gerações, tem desempenhado um papel fundamental no crescimento e progresso de São Miguel do Oeste”, justifica o vereador Ravier Centenaro. Confira o histórico do homenageado:
Ângelo Miguel Gobbi nasceu em 31 de maio de 1912 em Colorado, então distrito de Passo Fundo (RS). Casou-se com Catharina Dozolina Tonet Gobbi e é pai de 12 filhos: Aide Maria Gobbi, Alda Lourdes Gobbi Daudt, Maria Anita Zamboni, Julieta Ignês Gobbi Lucca, Zélia Veneranda Gobbi Farina, Miguel Ângelo Gobbi, José Gobbi, Antônio Gobbi, Lizete Maria Gobbi, Maria Beatriz Gobbi Muller, Roberto José Gobbi e Maria Dolores Gobbi.
Construiu sua vida em Colorado, Carazinho e Porto Alegre. Foi agricultor, industrial e pesquisador autodidata. Desenvolveu um produto, patenteado como Fargel, entre as idas e vindas ao Nordeste, trazendo uma pesada pasta cheia de pedras para descobrir a fórmula americana para perfuração de petróleo. No seu laboratório particular ou na cozinha da casa, potes e mais potes com misturas. A família toda comprometida, cuidando dos resultados, anotando reações, contando gotas por minutos que caiam de um funil, algumas vezes malcheirosos experimentos. E, depois de muitas madrugadas e muitos anos, o sucesso! Criou um produto inovador e o vendeu à Petrobrás e ao Oriente Médio.
Em tempo de guerra e falta de combustível para veículos e caminhões, Ângelo construiu maquinário para a produção de gasogênio. Trabalho artesanal e de grande utilidade para toda a comunidade de sua região. Entre outras aventuras empresariais, Ângelo ensinou um amigo a montar o equipamento para a produção de gasogênio e em troca aprendeu a produzir o uísque de milho. Foi reconhecido engenheiro por decreto, com um perene comportamento de pesquisador, tendo sido uma pessoa que cursou até o quarto ano primário, veio o merecido reconhecimento científico. Ângelo recebeu carteira de Engenheiro Químico do Crea.
Participou do planejamento e montagem de atafona de mandioca, onde se produzia farinha de mandioca e amido. Criou um moinho de trigo movido à roda d’água. Depois de algum tempo Ângelo instalou a primeira turbina de geração de energia elétrica. Nesta época trocava-se o grão de trigo por farinha. Ângelo projetou e construiu um avançado sistema à época, para armazenamento de grãos a granel com elevadores. E, também, carregamento de sacos nos caminhões utilizando a força da gravidade num escorregador.
Para sua criação de suínos, desenvolveu um chiqueiro corredor para a carreta passar despejando alimentos nos cochos, especialmente projetado para esta função. A limpeza de dejetos era realizada em água corrente, solários e ventilação com lanternas. Sistema que ainda hoje é moderno e funcional.
Em sua residência, abrigava aulas de catequese, coordenadas pela sua esposa Catharina. No porão da casa produziam queijo, queijo de porco, “escudeguim”, morcela, copa e outros embutidos e produtos coloniais. Os cestos de vime, as vassouras, tudo era feito lá mesmo. Lá estavam as grandes pipas de vinho, de vários tamanhos. Amplos pomares rodeavam a casa grande, de onde era colhida a merenda das tardes de trabalho. Plátanos, com suas raízes descobertas, serviam de casinha para as crianças, inclusive, os primos que por ali passavam de visita com os tios. No açude, que ficava mais abaixo da casa, as crianças faziam cultivo de patinhos (plantas aquáticas) e nos longos galhos dos chorões se balançavam tão alto que atravessavam ao outro lado do lago.
O início foi sacrificado por ser uma lavoura artesanal, mas, aos poucos a melhora foi sendo sentida com a introdução da mecanização. Foi uma das primeiras lavouras mecanizadas do Rio Grande do Sul, com a aquisição de um trator. Enquanto Ângelo dedicava-se à grande lavoura, à pesquisa, à política – tendo sido vereador por dois mandatos em Carazinho –, e aos projetos e instalações de atafonas e moinhos, Catharina encarregava-se da lavoura de subsistência. Era dali que vinha o feijão, o milho, a melancia, as hortaliças e os legumes, as batatas e tudo mais que era necessário para abastecer as grandes mesas, formadas pelos visitantes, ilustres ou não, que chegavam para ver a lavoura mecanizada ou visitar a família.
Além da lavoura era dela a responsabilidade pela produção de pães e biscoitos, geleias e chimias, melado, salames, copas e demais embutidos, leite, queijo, manteiga, galinhas e ovos. Sempre auxiliada por muitos e bons ajudantes que ela soube liderar com eficiência.
A colheita do trigo, assim como as festas de Santo Antônio, das quais normalmente eram festeiros, eram motivo de muito trabalho, mas de muita satisfação. Estas eram ocasiões para reuniões familiares e de políticos com as famílias. Eram uma verdadeira confraternização.
As primeiras letras das crianças foram ministradas no capitel da empresa Sto. Antônio, com direito a reguadas nas mãos e a ajoelhar em grãos de milho, como castigo para quem não tivesse feito a lição. Algo totalmente inaceitável atualmente, mas comum à época.
A par de suas funções como diretor industrial da Gaúcha Cerealista, Ângelo mantinha suas atividades de pesquisas, que mais tarde resultaram no “Fargel-Lama”, um componente para perfuração de poços de petróleo. Catharina continuava a desenvolver trabalhos sociais na Igreja, no Asilo São Vicente e principalmente no Patronato Santo Antônio, onde atendiam meninos carentes, do qual foi eleita “Mãe do Patronato” tal era sua dedicação e carinho com os menos favorecidos.
Os filhos cresceram. Os primeiros casaram-se ainda em Carazinho, e iniciaram suas novas vidas. A família transferiu-se para Porto Alegre, quando o casal ingressou no clube de serviço Rotary Club e foi sócio fundador do Rotary Club São João, distrito 407. Eram conselheiros da Paróquia Católica São João e pertenciam ao Movimento Familiar Cristão. Catharina continuou trabalhando intensamente nas obras sociais, especialmente nas “Damas de Caridade”.
Ângelo e Catharina não podiam impedir que seus filhos levassem tombos, mas sempre ofereceram suas mãos para que se levantassem e sua opinião nas decisões eram importantes e sábias.
Olhando hoje para trás, pode-se dizer que Ângelo e Catharina viveram além de sua época, pois o que ajudaram e fizeram por sua família, vizinhos, amigos, e comunidade em que estavam inseridos, só pessoas com grande espírito cristão e fraternidade o fazem.
São Miguel do Oeste recebeu dois de seus filhos, Miguel Ângelo Gobbi e Roberto José Gobbi, que optaram, a exemplo de seus pais, por desbravar a vida em nossa cidade, escolhendo este como seu lugar para trabalhar, empreender, constituir família e gerar oportunidades, contribuindo em muito ao desenvolvimento ao qual alcançamos atualmente.
Ângelo Miguel Gobbi faleceu no dia 12 de novembro de 1975, deixando o legado de um homem que dedicou a vida ao desenvolvimento humano e social, envolvendo-se e sendo exemplo para várias gerações.
Legenda: Familiares de Ângelo Miguel Gobbi receberam cópia do projeto das mãos do vereador Ravier Centenaro
Foto: Tiarajú Goldschmidt/Câmara de Vereadores
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