Unidade realiza atendimentos multiprofissionais e oficinas terapêuticas com foco na inclusão, autonomia e dignidade dos pacientes com transtornos mentais e dependência química
Douglas Backes - TVGC
Última atualização: 2025/05/23 4:19:06No último dia 18 de maio, foi celebrado o Dia Nacional da Luta Antimanicomial, data que marca o enfrentamento aos horrores vividos por milhares de pessoas nos antigos manicômios e reafirma a defesa por uma saúde mental com tratamento humanizado e em liberdade. Em São Miguel do Oeste, o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) é o reflexo desse novo modelo de cuidado, acolhendo atualmente cerca de 276 pacientes com transtornos mentais severos e persistentes, além de casos de dependência química.
A enfermeira Silmara Fiore explicou que a data representa o rompimento com uma lógica de exclusão. “O 18 de maio é o dia em que a gente comemora a luta antimanicomial. Os manicômios eram lugares onde as pessoas eram esquecidas, viviam por longos períodos, sem tratamento adequado e sem dignidade. Hoje, com o CAPS, temos o cuidado em liberdade, em sociedade”, afirmou.
O CAPS atua com porta aberta, ou seja, qualquer pessoa que perceba estar em sofrimento psíquico pode buscar atendimento diretamente na unidade. Após o acolhimento, uma equipe multidisciplinar avalia o caso e define, se for o perfil adequado, o plano terapêutico individual (PTI). “Temos uma equipe mínima com psicologia, psiquiatria, enfermagem e serviço social. A partir disso, o paciente é inserido em um acompanhamento que envolve atendimentos individuais e em grupo”, explicou Silmara.
A psicóloga Gisele Schneider, recém-chegada à equipe de São Miguel do Oeste, destacou que o trabalho é focado não apenas na vulnerabilidade, mas principalmente nas potencialidades de cada pessoa. “A luta antimanicomial e a reforma psiquiátrica vieram para inserir essas pessoas na sociedade com tratamento adequado e suporte real. A gente vê o paciente como um todo, e o trabalho é feito com esse olhar humano e integrado”, ressaltou.
Entre as atividades desenvolvidas, as oficinas terapêuticas são parte essencial do processo. Diariamente, no período da manhã e da tarde, os pacientes produzem trabalhos manuais com apoio dos profissionais, como forma de expressão e reabilitação. “Isso é terapêutico. O desenho, o artesanato, são formas de expressão. Muitos dos trabalhos que temos aqui foram produzidos em alusão ao 18 de maio, com o tema da luta antimanicomial”, contou Gisele.
Além das oficinas, o CAPS realiza grupos terapêuticos de saúde mental, grupos voltados ao tratamento de dependência química e alcoolismo, e atendimento médico psiquiátrico — este último com uma profissional que atua dez horas semanais. “Cada paciente é atendido ao menos uma vez por semana, e muitos são encaminhados a partir da atenção básica, quando a equipe identifica que é um caso mais grave e persistente”, explicou Silmara.
Em reconhecimento a um dos pacientes mais marcantes da unidade — que viveu os traumas do manicômio e teve a vida transformada após a reforma psiquiátrica —, o CAPS passou a se chamar, a partir deste ano, CAPS Oscar Pereira. “Ele trouxe muitos relatos importantes e foi símbolo da transformação que a atenção psicossocial pode gerar. Tivemos a honra de conhecê-lo, e essa homenagem é mais do que merecida”, finalizou Silmara.
deixe seu comentário