Home “Cidade do Lixo”, no Cairo, é conhecida por odor forte e pilhas de resíduos pelas ruas

“Cidade do Lixo”, no Cairo, é conhecida por odor forte e pilhas de resíduos pelas ruas

Lar do povo chamado Zabbaleen (ou "homens do lixo", em árabe), a região já foi cheia de porcos que comiam os dejetos orgânicos

Revista Casa & Jardim

Última atualização: 2024/11/18 8:36:12

Moradores da região metropolitana do Cairo, no Egito, o povo conhecido por Zabbaleen (ou “homens do lixo”, em árabe) reúne cerca de 70 mil pessoas que vivem exclusivamente da coleta e seleção de lixo na cidade. Distribuídos em variados bairros, a maioria deles – cerca de 30 mil – reside em Manshiyat Naser, na base das colinas de Mokattam, no local conhecido como “Cidade do Lixo”.

Desde os anos 1940, os Zabbaleen se sustentam recolhendo lixo de porta em porta dos moradores do Cairo. Ao longo dos anos, eles criaram um dos sistemas mais eficientes do mundo, que recicla até 80% de todos os resíduos coletados, segundo estudiosos.

Segundo o documentário Zabbaleen: Cidade do Lixo, de Artyom Somov e Vitaly Buzuev, de 2016, são normalmente os homens, acompanhados de crianças, que recolhem o lixo nas casas e nos comércios, usando carroças puxadas por burros e caminhonetes. Em seguida, eles voltam para a comunidade em Mokattam com os resíduos, que são, então, separados pelas mulheres da família.

Elas dividem o lixo em 16 tipos categorias principais, como papel, plástico, papelão e latas. A triagem é uma tarefa demorada, que dura de 10 a 12 horas por dia. Depois, o lixo é subclassificado em papel branco, papel amarelo, papel grosso, jornal, papel fino, etc. Cada material é, então, vendido a fábricas e empresas.

Mas essa não é a única atividade que os Zabbaleen realizam. O que os difere de outros grupos informais de coleta de lixo é que eles investem em equipamentos que transformam os resíduos em outros materiais vendáveis, como granuladores de plástico, compactadores de papel, moedores de tecidos, fundições de alumínio e processadores de estanho, aumentando o seu valor de mercado.

Uso de porcos

 

A etapa inicial e fundamental de triagem do lixo era feita pelos porcos que viviam na comunidade e se alimentavam dos resíduos orgânicos. Depois que os animais cresciam, os Zabbaleen vendiam a sua carne para grandes resorts e locais turísticos.

Isso era possível porque os Zabbaleen são cristãos coptas – a religião muçulmana não permite a criação, a alimentação ou viver perto de porcos, um animal considerado “sujo”.

Em 2009, porém, esse sistema ordenado de coleta e seleção de lixo dos Zabbaleen se viu ameaçado depois que o Ministério da Agricultura Egípcio ordenou o abate de todos os porcos do país – cerca de 300 mil – em resposta aos receios nacionais sobre a possível propagação da gripe H1N1.

Após a eliminação dos porcos, as pilhas de lixo e comida apodrecida aumentaram nas ruas do Cairo, já que não havia coleta organizada o suficiente para atender a demanda sem a ajuda dessa comunidade. Mas, mesmo que os porcos tenham sido proibidos no bairro, a economia da comunidade é baseada na reciclagem até hoje.

“A região tem um odor característico e insuportável, mas muitas famílias vivem lá por gerações e estão acostumados. A polícia não vai, táxi e Uber também se recusam a fazer o trajeto. A comunidade tem suas próprias regras, e a maioria dos moradores é cristão copta, que convive pacificamente com os muçulmanos”, conta a jornalista Evelyn Koch, em seu blog Vida no Egito.

Segundo ela, para visitar a comunidade é preciso se programar com antecedência e encontrar alguém disposto a fazer o trajeto. Em Manshiyat Naser fica também uma igreja inteiramente esculpida na rocha, que é um dos pontos turísticos mais bonitos – e de difícil acesso – do Egito. Para quem tiver coragem, vale a visita.

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