Bloco de parlamentares que consegue mudar rumo de votações enfrenta desgaste pelo fisiologismo
O termo centrão virou palavrão no dialeto político de
Brasília. O bloco informal, lembrado pelo fisiologismo, é alvo de artilharia
distribuída pelo Planalto e detonada por eleitores nas redes sociais e nas
manifestações do último domingo. O bombardeio acendeu o alerta nos partidos de
centro, que passaram a refutar atuação conjunta, o que não deve ser confundido
com rompimento. O grupo, ciente de sua influência, seguirá unido nos
bastidores, impondo obstáculos à agenda governista.
Pelo menos oito siglas e cerca de 230 deputados compõem o
bloco, que teve seu auge no processo que culminou com o impeachment da então
presidente Dilma Rousseff (PT), organizado por Eduardo Cunha (MDB-RJ), na época
presidente da Câmara. O poderio seguiu durante o governo de Michel Temer, mas
estremeceu após o resultado das últimas eleições.
Antigos caciques não
conseguiram novos mandatos. O recado das urnas, com a renovação de quase metade
do parlamento, deixou a articulação do grupo em compasso de espera. Afinal,
bater de frente com o capital político de Jair Bolsonaro, defensor da “nova
política”, não era o mais indicado no momento.
Mas as “caneladas” protagonizadas pelo Planalto na relação
com o Congresso trouxeram novo ânimo a antigos e novos centristas. Sem um canal
de diálogo para elencar demandas, o bloco se reorganizou rapidamente, sendo responsável
pelas principais derrotas do governo.
— A gestão Bolsonaro, ao não assumir o papel de liderança,
abre espaço para que surjam novos atores. Esse é o espaço que o centrão está
ocupando. A política não aceita vácuo. O bloco, com o Rodrigo Maia (DEM-RJ,
presidente da Câmara), está coordenando o processo — opina Andréa Marcondes,
doutora em coalizões de governo e professora da Unicamp.
Ninguém quer assumir que faz parte do grupo
Nem tudo são flores para o centrão. Na votação sobre o
destino do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) na Câmara, no
dia 22, veio um primeiro sinal de deserção. O PSD foi em direção oposta à
orientação do bloco, e votou contra a retirada da estrutura das mãos de Sergio
Moro, ministro da Justiça. Mesmo assim, órgão acabou voltando à área econômica,
como queria o bloco parlamentar para afrontar o Planalto.
Há deputados e partidos que não mostram apreço por serem
identificados como integrantes do grupo. O presidente da DEM e prefeito de
Salvador, ACM Neto, afirmou na quinta-feira que a legenda “nunca será centrão”.
Em outra frente, apesar de manter três ministros na Esplanada, não se considera
governista. Publicamente, o líder do partido na Câmara, Elmar Nascimento (BA),
nega que o DEM integre o bloco.
— Se existia um centrão, nos termos pejorativos citados pela
imprensa e nas redes sociais, ele foi implodido por Rodrigo Maia – disse Elmar
em referência à derrota imposta pelo presidente da Câmara ao deputado Rogério
Rosso (PSD-DF), em 2016, então candidato do centrão ao comando da Casa e ungido
por Eduardo Cunha.
Apesar de refutar a pecha, Elmar é considerado integrante do
núcleo duro do centrão, ao lado de Arthur Lira (PP-AL) e Aguinaldo Ribeiro
(PP-PB).
Outra legenda que busca se dissociar do agrupamento fisiológico
é o PL (ex-PR), que, além de exibir novo nome, também apresentou projeto
alternativo de reforma da Previdência. O texto, que ainda será avaliado pela
comissão especial que discute o tema na Câmara, reduz a previsão de economia do
governo de R$ 1,2 trilhão para até R$ 700 bilhões em 10 anos.
Governo quer garantir apoio para votações
Publicamente, Bolsonaro mantém o discurso contra o que chama
de “toma lá dá cá”, a troca de apoio político por cargos e benefícios aos
parlamentares. Nos bastidores, há a tentativa de aproximação com integrantes do
centrão. Líderes de partidos do grupo contam que foram procurados pelo governo
com oferta de R$ 40 milhões em emendas extras até 2020, ano de eleições
municipais, como incentivo para a aprovação da reforma da Previdência.
Parlamentares ouvidos pela reportagem disseram que não devem
aceitar a oferta, já que voltou às mãos da Câmara a proposta de emenda à
Constituição (PEC) do orçamento impositivo, que reduz o poder do governo sobre
a destinação de verbas. Na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o texto
foi relatado por Aguinaldo Ribeiro, justamente um dos líderes do centrão. O
parecer já foi aprovado e agora vai a plenário.
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