dinâmica de mercado aponta ainda para a priorização de imóveis compactos e mais econômicos, incluindo estudios e unidades reduzidas destinadas a jovens e famílias em formação
Redação TVGC
Última atualização: 2025/11/04 10:01:07A construção civil vive uma fase de ajustes no país, balizada por juros elevados, mudança no perfil de consumo e maior cautela dos investidores. Apesar do momento de tensão macroeconômica, o Extremo Oeste de Santa Catarina segue em ritmo de expansão gradual, alavancado pelo aumento populacional, pelo fortalecimento da agroindústria e pela demanda por moradias acessíveis. A análise foi apresentada pelo vice-presidente regional do Extremo Oeste da FIESC, Astor Kist, durante entrevista sobre o atual panorama e o horizonte do setor.
Em escala nacional, o ambiente é de contenção. A taxa Selic próxima de 15% restringe o financiamento habitacional e retira competitividade da construção como ativo de investimento, já que aplicações financeiras rendem até o dobro da correção do CUB. Diante disso, investidores migram para renda fixa, e as construtoras concentram seu portfólio no comprador final, priorizando operações diretas com parcelamento entre 48 e 100 meses corrigidos pelo CUB, consideradas soluções mais viáveis e sustentáveis para aquisição.
Kist também recomendou cautela ao investir no litoral catarinense, especialmente em Balneário Camboriú e Itapema. Ele observou que, mesmo com grandes grupos consolidados, há um volume expressivo de empresas operando no limite financeiro, elevando o risco de atrasos ou não entrega de empreendimentos. O cenário, segundo ele, deve gerar “surpresas” no curto e médio prazo, principalmente em mercados superaquecidos e com pressão especulativa.
A dinâmica de mercado aponta ainda para a priorização de imóveis compactos e mais econômicos, incluindo estudios e unidades reduzidas destinadas a jovens e famílias em formação. A tendência atende ao contexto de crédito caro e renda pressionada, e reflete um consumidor que busca liquidez e previsibilidade.
Nas projeções econômicas, Kist prevê estabilidade até 2026 e um possível aperto fiscal a partir de 2027, motivado pela necessidade de ajuste diante do alto endividamento público. Nesse contexto, a orientação às empresas é clara: preservar caixa, administrar riscos com rigor e evitar alavancagem excessiva. A palavra de ordem é disciplina.
No Extremo Oeste, o movimento local desafia o cenário macro. São Miguel do Oeste se consolida como polo regional, recebendo fluxo contínuo de migrantes e imigrantes de diferentes estados e países, incluindo Venezuela, Rio Grande do Sul, Paraná e Nordeste. A força motriz é a cadeia da proteína animal, em expansão e com intensa demanda por mão de obra, fator que impulsiona a necessidade de habitação. A região ainda é vista como “campo aberto” para empreendimentos focados em imóveis acessíveis e projetos planejados para perfis econômicos emergentes.
A mão de obra também atravessa transformação estrutural. A migração para o modelo de terceirização e contratação de profissionais como MEI tem avançado de forma acelerada, reduzindo equipes próprias das construtoras e ampliando a participação de prestadores. A mudança melhora a produtividade, porém exige fiscalização intensificada para manter o padrão de qualidade, reforçando a necessidade de governança, qualificação técnica e padronização de processos.
Em meio a juros altos, investidores recuados e consumidores seletivos, o setor busca o equilíbrio entre prudência e inovação. Para a construção civil regional, o desafio estratégico é navegar com gestão disciplinada, focar no público real e aproveitar o ciclo de crescimento gerado pela expansão produtiva e demográfica.
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