Entre os impactos causados pelo resultado da operação deflagrada pela Polícia Federal na sexta-feira, dia 17, entrevistados falaram sobre a perda na produtividade no Oeste Catarinense com a não exportação, desemprego, prejuízos que atingem setores ligados à agroindústria e endividamento dos pequenos agricultores com o sistema bancário
Você já parou para analisar a procedência dos alimentos ao fazer
suas compras no supermercado? A princípio, tem-se a ideia de que os produtos
devidamente embalados e prontos para venda nas prateleiras são os ideais para o
consumo, no entanto, outra observação passa a fazer mais sentido quando da
divulgação em massa de informações como no caso da Operação “Carne Fraca”,
deflagrada pela Polícia Federal na sexta-feira dia 17.
Foram 21 frigoríficos envolvidos na
investigação que apontou fraude por parte de funcionários do próprio Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), nos Estados de Goiás, Minas
Gerais e Paraná, os quais, recebiam propina para fazer a liberação para
comercialização de carnes impróprias para o consumo. Empresas como a JBS S/A dona
das marcas como Friboi, Seara e Swift e BRF – Brasil Foods S.A. dona de marcas
como Sadia e Perdigão, conhecidas no Brasil todo e também no Oeste Catarinense,
são investigadas nessa operação.
A reportagem do Jornal Gazeta conversou
nesta semana com o membro do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Charles
Reginatto, que apontou os impactos dessa operação para o Oeste Catarinense,
região que possui um número significativo de produtores que fornecem a produção
para algumas das empresas citadas na operação. Diante do contexto de que países
da Europa estão interrompendo o elo de exportação com o Brasil e em um cenário
que pode trazer a superprodução e quebrar a economia nacional, o questionamento
é: Quais são os maiores impactos para o Oeste Catarinense nessa conjuntura
toda?
Reginatto explica que a maior parte da
produção provém dos pequenos agricultores. Segundo ele, são famílias inteiras
que tiveram que se adequar ao processo tecnológico e estão altamente
endividadas com os bancos. Com a quebra nas exportações, Reginatto menciona o
desmonte desses pequenos agricultores em Santa Catarina. “Quem paga a conta não
são somente as grandes empresas, mas, especialmente os pequenos agricultores e
todos os outros segmentos que são dependentes da agroindústria. É o dono do
posto de gasolina que vende seu serviço para esses agricultores, é o mecânico
que conserta os equipamentos, é a economia local que é prejudicada, então, vai
sobrar mais uma vez para os pobres”, disse ele, enfatizando que vários países
já sinalizaram o boicote à carne brasileira. “Os E.U.A mais uma vez possuem
muito interesse nisso. Em quebrar com a economia nacional”, acredita.
Conforme Reginatto, a situação não pode
ser analisada de maneira isolada. Ele destacou que existem interesses
envolvidos nessa operação e que a utilização de produtos como o ácido ascórbico
nesses alimentos é permitida por lei e, nesse sentido, o debate não se resume,
segundo ele, ao alimento comercializado de forma indevida.
A corrupção com os
fiscais é histórica, diz Reginatto
Conforme Reginatto, a questão da corrupção
de fiscais que fazem a liberação de tais produtos é histórica. “É um debate
longo e histórico. Ao invés de se punir os responsáveis por cometer atos, se
pune a indústria, um programa. Não dá para dizer que as indústrias não têm
problemas, a gente sempre denunciou o modelo de concentração, oligopólio, esse
modelo de padronização do alimento, do uso de alguns produtos que causam câncer
e isso foi comprovado cientificamente. A legislação no Brasil protege as
grandes empresas e prejudica as pequenas indústrias, são famílias que
contribuem com o desenvolvimento local, que produzem um alimento menos
processado. Pra nós conseguir uma autorização para comercializar é uma
burocracia sem tamanho. Mas a questão agora é que há interesses por setores da
economia nacional. Tudo isso que está acontecendo está relacionado com o golpe
que está em desenvolvimento, com o desmonte da economia, desmonte do emprego,
com a reforma trabalhista, previdenciária, terceirização de toda mão de obra”, .
Medidas para
amenizar os impactos
A reportagem do Jornal Gazeta conversou
com o diretor executivo do Sindicato das Indústrias da Carne e Derivados no
Estado de Santa Catarina (Sindicarne), Ricardo de Gouvêa. Segundo ele, nesta
semana várias reuniões foram realizadas a fim de reestabelecer as exportações.
“Estamos fazendo um esforço enorme. Nessa semana tivemos reunião com Governador
e setores envolvidos, além de conversa com os países para onde a exportação é
feita”, disse.
Gouvêa defende que o problema foi pontual.
“O que houve é uma questão pontual, envolvendo alguns profissionais. A
indústria toda não deve ser condenada e, por isso, estamos realizando diversos
diálogos. Acredito que caso não haja uma normalização, o Brasil, bem como a
região, tem a perder e muito, tanto em número de empregos, de produtores e
outros prejuízos que não temos calculado”, conclui.
Contato com as
empresas
A reportagem também entrou em
contato com a assessoria da empresa JBS que tem representatividade na região.
Foram enviados questionamentos via e-mail conforme solicitado, no entanto,
nenhuma das perguntas foi respondida. Apenas a nota que segue abaixo, foi
enviada.
“Sobre a operação
da Polícia Federal, a JBS esclarece que qualidade é a sua maior prioridade e a
razão de ter se transformado na maior empresa de proteína do mundo. A JBS
exporta para mais de 150 países, como Estados Unidos, Alemanha e Japão. É
anualmente auditada por missões sanitárias internacionais e por clientes.
No Brasil, há
2.000 profissionais dedicados exclusivamente a garantir a qualidade dos
produtos JBS e das marcas Friboi e Seara. Todos os anos, 70 mil funcionários
têm treinamento obrigatório nessa área.
No despacho da
Justiça, não há menção a irregularidades sanitárias da JBS. Nenhuma fábrica da
JBS foi interditada. Ao contrário do que chegou a ser divulgado, nenhum
executivo da empresa foi alvo de medidas judiciais. Um funcionário da unidade de Lapa, no Paraná,
foi citado na investigação. A JBS não compactua com desvios de conduta e tomará
todas as medidas cabíveis.
Por fim, a JBS
reforça seu comprometimento com a qualidade de seus produtos e reitera seu
compromisso histórico com o aprimoramento das práticas sanitárias”.
Empresas
investigadas:
Big
Frango Indústria e Com. de Alimentos Ltda.
BRF
– Brasil Foods S.A. (dona de marcas como Sadia e Perdigão)
Dagranja
Agroindustrial Ltda./Dagranja S/A Agroindustrial
E.H.
Constantino
Frango
a Gosto
Frigobeto
Frigoríficos e Comércio de Alimentos Ltda.
Frigomax
Frigorífico e Comércio de Carnes Ltda.
Frigorífico
3D
Frigorífico
Argus Ltda.
Frigorífico
Larissa Ltda.
Frigorífico
Oregon S.A.
Frigorífico
Rainha da Paz
Frigorífico
Souza Ramos Ltda.
JBS
S/A (dona das marcas como Friboi, Seara e Swift)
Mastercarnes
Novilho
Nobre Indústria e Comércio de Carnes Ltda.
Peccin
Agroindustrial Ltda. (dona da marca Italli Alimentos)
Primor
Beef – JJZ Alimentos S.A.
Seara
Alimentos Ltda.
Unifrangos
Agroindustrial S.A./Companhia Internacional de Logística
Breyer
e Cia Ltda.
Fábrica
de Farinha de Carne Castro Ltda. EPP.
“Carne brasileira: boa para o Brasil e
para o Mundo”, diz diretor do Sindicarne
Estado
José Antônio Ribas Júnior, presidente da
Associação Catarinense de Avicultura (Acav) e diretor do Sindicato das
Indústrias da Carne e Derivados no Estado de Santa Catarina (Sindicarne), se
pronunciou referente aos desdobramentos da operação Carne Fraca. “ Ponto fora da curva, erro pontual,
irregularidade praticada por um reduzidíssimo número de pessoas. Os delitos
apurados pela “Operação Carne Fraca”, deflagrada pela Polícia Federal, precisam
ser corretamente interpretados: foi uma minoria de sabotadores que agiu dentro
de uma imensa cadeia produtiva notabilizada internacionalmente pela eficiência
e segurança de suas operações”, comenta.
Segundo Ribas Júnior, a indústria
brasileira de carne atingiu nas últimas décadas um elevado nível de segurança e
qualidade em sua operação, condição internacionalmente admirada e reconhecida. “Os
padrões de biosseguridade, os avanços genéticos e a atenção extrema à sanidade
e ao manejo fizeram da nossa produção agropecuária uma das mais seguras de
todas as cadeias produtivas, graças ao empenho e profissionalização dos
produtores rurais e aos pesados, intensos e contínuos investimentos das
agroindústrias”, argumenta.
O presidente lembra que as indústrias
brasileiras e catarinenses de carnes, notadamente as de aves e suínos, adotam o
que há de mais avançado em máquinas, equipamentos, processos e recursos tecnológicos,
assegurando alimentos cárneos confiáveis e de alta qualidade. “Essas
características permitiram à agroindústria brasileira e catarinense exportar
carne para mais de 150 países, entre eles, os mais exigentes do planeta em
termos de qualidade e sanidade. A par do rigor técnico em todas as fases do
processo, os nossos frigoríficos adotam a melhor metodologia de controle
interno de qualidade, além do acompanhamento de organismos externos como o
respeitado Serviço de Inspeção Federal (SIF) e as frequentes auditorias de
importadores”, afirma.
Segundo ele, é necessário compreender a
dimensão, a complexidade e o elevado grau de desenvolvimento desse importante
setor da indústria nacional para considerar que os fatos apurados pela Polícia
Federal são isolados e representam lamentáveis exceções dentro da cadeia
produtiva. “O compromisso supremo das indústrias de alimentação é a oferta de
proteína segura e de qualidade para a nutrição das pessoas e das famílias. Por
isso, o Sindicarne e a ACAV defendem a rigorosa apuração dos fatos e a exemplar
punição daqueles que atuaram fora dos padrões exigidos. Os crimes investigados
pela Polícia Federal representam uma excepcionalidade que deve ser reprimida
com a força da lei. Mérito dos produtores e empresários da área, a indústria da
carne é um setor que orgulha o País e assegura alimento nobre para a população
do Brasil e do mundo”, conclui.
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