Pesquisa da Secretaria de Saúde do Espírito Santo detectou anticorpos da Covid-19 em amostras de sangue de dezembro de 2019
O coronavírus já circulava no Espírito Santo antes da China
anunciar à Organização Mundial da Saúde (OMS) o primeiro caso de Covid-19, em
31 de dezembro de 2019. Isso é que sugere um estudo realizado pela Secretaria
Estadual de Saúde do Espírito Santo, no qual foram identificados anticorpos
contra a doença em 210 amostras de sangue.
A pesquisa foi realizada em 7.370 amostras coletadas no
laboratório central de saúde pública do estado (LACEN/ES) entre 1º de dezembro
de 2019 e 30 de junho de 2020 de pessoas com suspeita de dengue ou febre
chikungunya.
O estudo é resultado de uma parceria da Secretaria Estadual
de Saúde do Espírito Santo com o Laboratório Central de Saúde Pública do Estado
do Espírito Santo, Núcleo de Doenças Infecciosas da Universidade Federal do
Espírito Santo e Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova
de Lisboa, em Portugal.
Na manhã desta terça-feira, o secretário de Estado da Saúde
do Espírito Santo, Nésio Fernandes, e o diretor-geral do LACEN, Rodrigo Ribeiro
Rodrigues – que participou da pesquisa – fizeram um pronunciamento para
apresentar os dados obtidos.
Entre os 210 casos, 79 também tiveram resultados positivo
para dengue ou chikungunya. “O que mostra que possuíam uma infecção por
Sars-Cov-2 que ocorreu de forma oculta, ou como a gente diz, um pouco escurecida
por uma doença que estava mais em evidência”, afirmou Rodrigues durante a
entrevista.
A pesquisa foi publicada na última quarta-feira na revista
científica Plos. O objetivo era investigar a hipótese de que a detecção de
casos de covid-19 foi prejudicada por causa do diagnóstico clínico ou
laboratorial de infecções agudas por dengue ou chikungunya em regiões onde
essas doenças são endêmicas, ou seja, se manifestam com frequência e já são
esperadas.
O primeiro caso perdido de Covid-19 foi identificado em uma
amostra coletada em 18 de dezembro de 2019, que também teve resultado positivo
para o vírus da dengue. “Se levarmos em conta que o IgG (exame de sangue
que mostra anticorpos contra a doença) só atinge níveis detectáveis (pelo
exame) 15, 20 dias após a infecção, podemos sugerir que a exposição tenha
ocorrido preteritamente, no final de novembro ou bem início de dezembro. O que
coloca a sugestão de que esse pode ser um caso que ocorreu no estado do
Espírito Santo anterior ao anúncio oficial da doença pelo governo chinês”,
disse Rodrigues.
Ao todo, 16 das amostras que tiveram resultados positivos
para os anticorpos do coronavírus foram coletadas entre dezembro de 2019 e
fevereiro de 2020, o que mostra que a exposição ao vírus já acontecia no Brasil
antes da confirmação do primeiro caso pelo Ministério da Saúde, que aconteceu
em 26 de fevereiro.
“Para descartar a possibilidade de que os casos
anteriores de SARS-CoV-2 fossem devido a resultados falso-positivos, suas
amostras também foram rastreadas quanto à presença de IgG (anticorpo)
específica para as proteínas N e S (do coronavírus) por um ensaio diferente, e
7 (43,8%) das 16 amostras testadas foram positivas”, informa a pesquisa.
O diretor do LACEN explicou que, paralelamente, o Hemoes
(Centro de Hemoterapia e Hematologia do Espírito Santo) também fez uma busca em
seu estoque de sangue para verificar se existiam doadores com anticorpos para a
covid-19 e foi encontrada apenas uma amostra coletada em 11 de fevereiro de
2020. “Foi feita uma investigação soroepidemiológica para saber se houve
transmissão para contatos próximos, mas aparentemente apenas essa paciente
tinha amostras reagentes para IgG”, detalhou.
Ainda de acordo com o artigo, os resultados corroboram a
hipótese de que “o diagnóstico incorreto é uma ameaça presente nas regiões
endêmicas de dengue e chicungunya”. “Nossos dados apoiam fortemente a
hipótese de que a infecção por SARS-CoV-2 foi ofuscada por uma epidemia
concomitante de dengue e chikungunya”, diz o artigo.
Em seguida, cita o caso de uma mulher de 43 anos, moradora
da cidade de Cachoeiro do Itapemirim, que teve sintomas de dengue em 26 de
janeiro de 2020. Sua amostra de sangue foi coletada em 3 de fevereiro e teve
resultado negativo no teste de anticorpos para dengue. Os sintomas continuaram
e outra amostra foi coletada em 27 de fevereiro. Desta vez, o resultado foi
positivo para anticorpos contra a febre chikungunya.
As duas amostras foram testadas durante a pesquisa e a
segunda teve resultado positivo para anticorpos contra o coronavírus. Isso
sugere, de acordo com a publicação que a paciente estava com uma infecção aguda
por coronavírus quando a primeira amostra de sangue foi coletada, mas o
problema não foi detectado.
A publicação destaca ainda que dentre os 210 pacientes com
resultados de exames positivos para o coronavírus, 131 testaram negativo para
dengue ou chikungunya, o que mostra que o Sars-Cov-2 não foi sequer considerado
durante a estratégia de diagnóstico.
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