Desde março do ano passado estudando em casa por conta da pandemia, alunos retornam de forma gradual às escolas neste mês
A expectativa de volta às aulas é o principal assunto nas
famílias que têm crianças e adolescentes na escola neste mês. A incerteza sobre
a data correta do início do ano letivo não impede de que planos sejam traçados
para um retorno seguro.
Alguns pais ainda decidem se irão autorizar a ida dos filhos
para as aulas presenciais ou se os manterão no ensino remoto. Outros já
decidiram que as crianças frequentarão a escola.
Independente do que os pais planejam, os estudantes querem
voltar ao convívio escolar o quanto antes, quase um ano após o início da
pandemia da Covid-19.
Eulália da Rosa Paz é mãe de Sofia, de oito anos, aluna do
terceiro ano de uma escola estadual em Ingleses, Norte da Ilha. A menina está
ansiosa para rever os amiguinhos do colégio e voltar à vida escolar.
Os pais dela também aguardam com expectativa o dia em que a
filha poderá retomar a rotina de estudante, no entanto, a insegurança ainda
ronda a família.
Ao mesmo tempo em que querem a Sofia em sala de aula eles
temem que estejam colocando a criança em risco. “Já houve casos de amigos
próximos (que adoeceram) e por isso temos bastante medo”, disse Eulália.
Durante o ano passado, Eulália, que é cabeleireira, foi a
professora de Sofia. Ela pegava as atividades da filha na escola e dava aulas
da forma que era possível para alguém que não tem formação pedagógica.
Ela se ressente de não ter recebido a orientação da escola
sobre como conduzir o ensino domiciliar. Segundo Eulália, Sofia ainda não está
alfabetizada, apesar de ter sido aprovada para a terceira série do ensino
fundamental.
“No total foram 300 atividades que fizemos ano passado e
nunca nos mandaram de volta corrigidas. Só me disseram que ela havia passado de
ano e eu acredito que para passar para a terceira série ela devia estar
alfabetizada”, contou.
Somente após a vacina
Na casa da jornalista Ingrid Bezerra já está decidido:
Vinicius, de quatro anos, não vai voltar para a creche enquanto não for seguro.
“Para eu ter segurança mesmo a única opção disponível é a vacina. Sei que está
sendo testada na China em crianças de 6 a 17 anos. A gente espera que isso
chegue aqui. Aí sim, imunizado, ele pode retornar”, afirmou.
O filho de Ingrid é uma criança no espectro autista e com a
pandemia ele deixou de frequentar também a terapia. A professora da creche, em
Palhoça, enviava as atividades que Vinicius fazia em casa.
Para complementar, Ingrid providenciou atividades online.
Sem formação pedagógica, ela se inscreveu numa especialização em
neuropsicopedagogia para entender mais o universo do filho e poder auxiliá-lo
no processo de aprendizagem.
Segundo Ingrid, para Vinícius o maior prejuízo por não ter
frequentado a escola durante o ano passado foi ter se afastado do contato com
outras crianças.
“Essa tem sido a minha angústia. Ele precisa socializar, mas
como socializar com as prevenções que precisa ter, de não abraçar, ficar de
máscara, não tem como. Ele é incomodado sensorialmente, então a máscara não
dura (no rosto). Também está mais impaciente para falar. Na hora que ele voltar
para o grupo de crianças vai ser difícil se fazer entender e esperar a vez do
outro. Vai ter que treinar bastante para entrar no ritmo que estava antes da
pandemia”, afirmou.
“Não dá mais”
Anthony Davi, de quatro anos, não teve tempo de conhecer os
colegas e a professora da creche em São José porque poucos dias após os
primeiros dias de aula, no ano passado, veio a pandemia e tudo mudou.
O menino sente falta da escola anterior, mas mesmo sem ter
criado vínculos na creche onde está matriculado, ele só pensa em ir para a
escola para poder sair do sofá de casa.
“Ele está ansioso para encontrar outras crianças”, disse a
manicure Raquel Rodrigues, mãe de Anthony. Ela também está ansiosa para que as
aulas comecem porque “não dá mais para ficar no online”.
“Nós estamos planejando esse retorno até porque eu trabalho
o dia todo e não posso acompanhar as atividades online. Preferimos a aula
presencial”, afirmou.
Volta às aulas em Palhoça está prevista para o dia 17 de
fevereiro
Na casa da empresária Caroline Hauk, de São José, a
preferência também é pela aula presencial. “Foi um ano de dificuldade, pois o
aprendizado a distância não é a mesma coisa que o presencial. A nossa
expectativa é que normalize tudo, porque aula presencial é a melhor forma de
adquirir o conhecimento”, opinou.
A previsão do inicio das aulas na escola do Artur, de 11
anos, é no dia 9 de fevereiro e para a mãe dele, “se tiver pelo menos duas
aulas na escola já é um avanço. A gente espera que nos próximos meses, com a
vacina, se consiga voltar ao normal”.
Retorno seguro
A SED (Secretaria de Estado da Educação) apresentou a
metodologia elaborada para o retorno seguro dos estudantes às escolas da rede.
Há três modelos que podem ser adotados de acordo com a da situação de cada
aluno a partir do dia 18 de fevereiro, data prevista para o início do ano
letivo na rede estadual.
Nas escolas em que o tamanho das salas comporta o
atendimento de todos os alunos, respeitando o distanciamento social, a aula
poderá ser diária e 100% presencial.
No segundo modelo apresentado pela SED, haverá alternância
entre o tempo casa e o tempo escola, com a divisão das turmas para atender a
capacidade conforme o distanciamento social.
Nesse modelo haverá atendimento presencial duas a três vezes
por semana nos anos iniciais do ensino fundamental e todos os dias da semana
para os anos finais e ensino médio.
As aulas 100% remotas (terceiro modelo) serão oferecidas
para os estudantes que integram os grupos de risco para aqueles cujos pais
optarem por essa modalidade (e assinarem um termo de compromisso). Esses alunos
serão agrupados em escolas polo.
O PlaCon (Plano de Contingência Escolar) estabelece várias
medidas para a segurança dos professores e alunos no ambiente escolar. As
regras incluem o uso obrigatório de máscara, distanciamento de 1,5 metro entre
as carteiras, aferição de temperatura na entrada da escola e do transporte
escolar, escalonamento de entrada e saída de alunos para evitar aglomerações,
entre outras.
O planejamento também será feito para concentrar os horários
dos professores que se mantêm com os grupos presenciais, evitando trocas de
salas constantes. Além disso, os professores e demais servidores do grupo de
risco para Covid-19 serão mantidos em atividades remotas neste retorno das
atividades presenciais.
Redes municipais
O ND+ entrou em contato com as secretarias municipais de
educação de Florianópolis, São José, Palhoça e Biguaçu para saber detalhes
sobre o ano letivo. Na Capital, o início das aulas está previsto para o dia 10
de fevereiro, no entanto, a secretaria só irá falar sobre o assunto a partir de
hoje.
Em São José, o retorno às salas de aula será no dia 1º de
março, sendo que os professores retornam no dia 8 de fevereiro quando
participarão de curso de formação e de um diagnóstico pedagógico.
Segundo Lilian Sandin Boeing, secretária de educação do
município, a partir da próxima semana será feita uma pesquisa com as famílias
da rede para saber quantos alunos frequentarão as aulas presencialmente.
“Estamos com uma grande expectativa para essa volta, já
compramos todos os EPIs, todas as escolas fizeram plano de contingência e estão
dentro das medidas sanitárias”, afirmou.
O ano letivo na rede municipal de Palhoça está marcado para
o dia 17 de fevereiro. De acordo com a prefeitura, as unidades estão sendo
adaptadas para receber os alunos de acordo com o Plano de Contingência para a
retomada das aulas presenciais, no entanto, o aluno não será obrigado a
participar das atividades na escola podendo continuar da forma remota.
No município de Biguaçu, o ano letivo começará em 18 de
fevereiro. As rematrículas e novas matrículas deverão ocorrer na própria
unidade escolar, a partir do dia 8 de fevereiro.
De acordo com a prefeitura, o retorno será escalonado em 50%
das turmas por semana, ou seja, metade da turma comparecerá à unidade escolar e
a outra metade terá atividades a distância. Na semana seguinte, os grupos se
revezam.
Há também a possibilidade de o aluno frequentar apenas
atividades remotas. Os professores e demais profissionais retornam às escolas
no dia 3 de fevereiro. EPIs foram adquiridos para alunos e servidores.
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