Mensagens seriam provas de que presidente pretendia trocar o diretor-geral da Polícia Federal, o que causou saída de Moro do governo
As acusações do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro contra o
presidente Jair Bolsonaro estão respaldadas em provas documentais. Troca de
mensagens de WhatsApp obtidas pelo jornal O Estado de S. Paulo mostra que o
presidente citou reportagem sobre uma investigação envolvendo deputados
bolsonaristas como motivo para demitir o então diretor-geral da Polícia
Federal, Maurício Valeixo. A mudança no comando do órgão provocou a saída do
ministro do governo.
Na conversa, Bolsonaro envia a Moro o link da notícia sobre
a apuração envolvendo os parlamentares e, em seguida, comenta: “Mais um motivo
para a troca”. Na sequência, o então ministro argumenta que o inquérito citado
é de responsabilidade do ministro Alexandre Moraes, do Supremo Tribunal Federal
(STF), e não da Polícia Federal.
A mensagem seria uma prova de que Bolsonaro queria trocar o
diretor-geral da PF para interferir em inquéritos sigilosos contra seus
aliados.
Moro também enviou à reportagem a imagem de outra conversa,
desta vez com a deputada Carla Zambelli (PSL-SP), em que ela oferece ajuda para
ele conseguir uma vaga no Supremo em troca de aceitar a nomeação de Alexandre
Ramagem para o cargo de diretor-geral da PF. “Prezada, não estou à venda”,
responde Moro.
Em seu pronunciamento para rebater as acusações do ministro,
Bolsonaro afirmou que o então ministro disse que aceitaria uma troca no comando
da PF desde que fosse indicado para a Corte.
Interlocutores do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública
relataram ao jornal O Estado de S. Paulo que Moro e Bolsonaro tiveram inúmeras
conversas, pessoais e de governo, especialmente pelo WhatsApp, canal usado pelo
presidente para dar ordens aos subordinados.
Essas fontes observaram então que Moro tem uma experiência
de 22 anos na função de juiz criminal e sabe, como poucos, que não se acusa
alguém sem provas concretas. Pelo menos sete crimes que Bolsonaro teria
cometido foram apontados pelo ex-ministro no pronunciamento que fez na
sexta-feira no final da manhã.
“O presidente também me informou que tinha preocupação com
inquéritos em curso no STF e que a troca também seria oportuna na Polícia
Federal por esse motivo”, disse o ministro.
Munição nova
É munição nova à disposição dos opositores do governo. O
Palácio do Planalto já enfrenta inquérito no Supremo na área das fake news.
Conforme o jornal O Estado de S. Paulo revelou, as investigações conduzidas
pela PF sobre o caso já chegaram aos empresários que teriam financiado ataques
nas redes sociais a opositores de Bolsonaro.
A mira dos investigadores é o grupo comandado pelo “gabinete
do ódio”, liderado pelo vereador Carlos Bolsonaro (RJ), filho do presidente da
República.
O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), irmão de Carlos, foi
ao Supremo para tentar impedir a continuidade da CPI das Fake News, que também
mira os financiadores da rede que destrói reputações de qualquer um que
critique o presidente. Os próprios ministros do Supremo costumam ser alvo dos
ataques.
A PF não investiga o caso envolvendo o senador Flávio
Bolsonaro (RJ), filho zero um do presidente, e o seu ex-assessor Fabrício
Queiroz. O parlamentar é suspeito de desviar dinheiro da Assembleia Legislativa
do Rio de Janeiro. Assessores de Flávio repassavam parte do salário para
Queiroz. A primeira-dama Michele Bolsonaro chegou a receber valores do
ex-assessor. Esse caso é conduzido pelo Ministério Público Estadual. As
informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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