Equipe econômica apresenta nesta segunda-feira o projeto para a Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2020, que inclui o valor estimado para o salário mínimo.
O valor do salário mínimo a ser proposto pelo governo para o
ano que vem deverá ter correção pela inflação, mas não aumento real.
A proposta para o salário mínimo estará contida no projeto
de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO), que tem de ser enviado ao Congresso
Nacional, de acordo com a lei, até 15 de abril de cada ano, ou seja, nesta
segunda-feira.
Desde 2011, a política de reajuste do mínimo – instituída no
governo Dilma Rousseff – previa correção com base na inflação do ano anterior
mais um aumento com base na variação do Produto Interno Bruto (PIB) de dois
anos antes.
A mudança, se confirmada, ajudará o governo a economizar recursos
e conter o avanço do déficit público, já que os benefícios pagos pela
Previdência não podem ser menores que o valor do mínimo (veja mais abaixo
cálculo feito pelo G1, com base em projeções do mercado financeiro).
Atualmente, o salário mínimo, que serve de referência para
cerca de 48 milhões de pessoas, está em R$ 998.
A atual equipe econômica, segundo interlocutores do governo,
deve prever um aumento do salário mínimo, em 2020 somente com base na variação
dos preços em 2019, calculada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor
(INPC).
O mesmo formato de correção (somente com base na inflação)
deve ser adotado para 2021 e 2022, uma vez que a Lei de Diretrizes
Orçamentárias tem de fazer projeções para os três anos seguintes.
A política de reajustes pela inflação e variação do PIB,
proposta pela presidente Dilma Rousseff e aprovada pelo Congresso Nacional,
vigorou entre 2011 e 2019, mas nem sempre o salário mínimo subiu acima da
inflação.
Em 2017 e 2018, por exemplo, foi concedido o reajuste somente
com base na inflação porque o PIB de dois anos antes (2015 e 2016) teve
retração. Por isso, para cumprir a fórmula proposta, somente a inflação serviu
de base para o aumento.
A eventual mudança de correção do salário mínimo atende a
uma diretriz do atual ministro da Economia, Paulo Guedes, que já deu várias
declarações de que é preciso “desindexar” a economia, ou seja,
eliminar a correção automática de preços e salários com base em indicadores
passados.
Entretanto, deverá mantida ao menos a correção pela inflação – para atender à Constituição.
Simulação
Cálculo feito pelo G1, com base em previsão do mercado
financeiro para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), deste ano,
indica que:
pelo formato que vigorou até 2019 (inflação mais PIB), o
salário mínimo de 2020 seria de R$ 1.052,89;
com o valor somente corrigido pela inflação seria de R$
1.041,91.
a diferença é de pouco menos de R$ 11.
Esses valores para o salário mínimo, e a perda, são estimativas
feitas pelo G1. O governo ainda vai divulgar a previsão oficial na semana que
vem, que também poderá mudar até o final deste ano.
Com um valor R$ 11 menor (somente com a correção pela
inflação), o governo economizaria cerca de R$ 3,3 bilhões em gastos em 2020.
Isso porque os benefícios previdenciários não podem ser
menores que o valor do mínimo. De acordo com cálculos oficiais do governo, o
aumento de cada R$ 1 para o mínimo implica despesa extra de cerca de R$ 300
milhões.
Dieese
O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (Dieese) lembra que, mesmo tendo início formal em 2011, com
aprovação de lei sobre o assunto, a política de valorização do salário mínimo
começou antes disso: de 2004 em diante, por meio da ação de centrais sindicais.
De acordo com a entidade, entre maio de 2004, já no governo
do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e janeiro de 2019, o aumento
real acumulado do salário mínimo, ou seja, acima da inflação do período, foi de
74,33%.
Para o coordenador de Relações Sindicais do Dieese, José
Silvestre, o salário mínimo tem demonstrado ser um instrumento de melhoria do
ponto de vista da renda, de redução de desigualdade e de estimulo às economias
municipais.
“Representa incremento de renda na economia. Ele tem um
alcance. É uma politica fundamental, pois corrige os benefícios de milhões de
aposentados”, declarou.
Para Silvestre, o aumento real do salário mínimo foi fator
importante para a indução do consumo e do crescimento da renda, sobretudo, para
as pessoas mais pobres e, também, para os segmentos da economia que têm
produção de baixo valor.
Silvestre disse, ainda, que o aumento real do salário mínimo
também aumenta a arrecadação do governo, estados e municípios.
Mesmo com os aumentos reais dos últimos anos, o salário mínimo ainda não é suficiente, de acordo com o Dieese, para suprir as despesas de uma família de quatro pessoas com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência.
Segundo a entidade, para isso, seria necessário que o valor
fosse de R$ 4.052,65 ao mês em fevereiro deste ano.
Banco Mundial
Em estudo divulgado em março do ano passado sobre a economia
brasileira, intitulado “Emprego e Crescimento: a Agenda da
Produtividade”, o Banco Mundial avaliou que o salário mínimo no Brasil é
alto por representar 70% do salário médio da economia. Nos países da
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, essa relação é
de 45% a 50%.
De acordo com o Banco Mundial, salários mínimos
“elevados e obrigatórios elevam os custos dos trabalhadores menos
qualificados, incentivando a substituição do trabalho por tecnologias que
economizam mão-de-obra ou empurrando os trabalhadores para a
informalidade”.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), o país encerrou 2017 com 37,3 milhões trabalhadores
informais.
Essas pessoas não têm direito à chamada “rede de
proteção social”, entre os quais o seguro-desemprego, seguro-acidente de
trabalho, seguro-maternidade, abono salarial. Além disso, o tempo de serviço na
informalidade não conta para a aposentadoria.
O Banco Mundial observou em sua análise que, na década de
2000, quando o emprego cresceu mais rapidamente no Brasil, o aumento real do
salário mínimo foi acompanhado do crescimento na formalização, mas acrescentou
que, desde a recessão de 2015-2016, a geração de empregos tem sido,
predominantemente, informal. “Talvez seja o caso, portanto, de rever as
políticas de salário mínimo”, concluiu.
Por fim, a instituição avalia que distorções associadas ao
salário mínimo legal poderiam ser minimizadas por meio da introdução de
reajustes feitos com base nos aumentos de produtividade dos trabalhadores,
tendo ainda a flexibilidade de instituir um salário mínimo mais baixo para os
jovens.
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