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Homenagens aos ‘coronéis’. Basta!

A Palavra Nua de hoje veste-se com a indignação que os povos do Oeste Catarinense e Extremo-oeste estão sentindo, com tamanho afronto que vem se desenhando nesse espaço

Última atualização: 2017/06/09 5:37:11

A Palavra Nua de hoje veste-se com a indignação que os povos do Oeste Catarinense e Extremo-oeste estão sentindo, com tamanho afronto que vem se desenhando nesse espaço. Primeiro, pelo projeto do poder executivo de São Miguel do Oeste que encaminhou à Câmara de Vereadores a retira das atividades correspondentes ao dia 20 de novembro do calendário municipal, data onde rememora-se pelo movimento negro e organizações, como sendo o “Dia da Consciência Negra”. No documento, o Prefeito da cidade, institui sob a Lei 0064/2017, a “Semana da Cultura”, desconsiderando todo o contexto histórico de luta do Quilombo dos Palmares e de toda escravização que aconteceu com os povos. Mas a afronta não para por ai. Conhecem o pacote de maldades? Então, somando-se a isso, o prefeito de Chapecó decidiu, sob análise de seu grupo, fazer o que ELE chama de homenagem à cidade.

Serão gastos mais de R$ 300 mil em estátuas para homenagear os coronéis que mataram os povos negros, caboclos e indígenas da região. As obras fazem parte da programação do centenário da cidade, cuja história sempre foi contada de forma atravessada. Mas São Miguel do Oeste também tem disso, também existe uma estátua de quem chegou depois e especialmente, dos coronéis que reafirmam esse massacre.

Por isso, nessa edição, vamos elencar um pouco desse contexto histórico de ‘formação’ da nossa região para que o leitor/a compreenda que aqui é terra indígena, de negro/a, de caboclo/a. Que sim, muita gente veio para cá porque queria uma vida melhor, trabalhou muito, no entanto, não existe possibilidade de negar a história, o massacre praticado contra os demais povos.

A região do Extremo-oeste e Oeste Catarinense, foi historicamente habitada por populações indígenas e caboclas. As comunidades nativas possuíam um modo de vida muito diferente de outras que vieram depois. Cultivavam o necessário para sua sobrevivência. Era uma cultura de subsistência. No entanto, o processo de colonização ocorrido em meados do século XX, tratou de afastar sistematicamente esses habitantes da terra historicamente ocupada. A implantação de uma cultura capitalista pela colonização gerou uma transformação social, cultural e econômica desse espaço, entre as quais a destituição dos nativos das terras ocupadas.

Ao longo da história, os conflitos gerados pela posse da terra permaneceram no centro do relacionamento entre os vários povos e etnias que constituíram o espaço que hoje denominamos Brasil. As populações autóctones, mesmo com várias diferenças culturais entre si, mantinham semelhanças em relação a terra. A tinham como sinônimo de vida. Com a chegada do europeu essa realidade foi mudando.

Alguns grupos indígenas existentes não somente no território brasileiro, mas em toda a América, descobriram a agricultura a cerca de 2500 a. C., constituindo assim o que chamamos de Revolução Agrícola. Esse processo fez com que as relações dos componentes de determinado grupo fossem se distinguindo das demais. Começaram a existir pequenas diferenciações sociais e também, a divisão do trabalho por questão de gênero.

Toda a conjuntura história da agricultura indígena, está relacionada com sua finidade com a terra. É indispensável para compreensão dos estudos sobre os povos autóctones, o entendimento sobre o chão indígena.  Se para o europeu e seus descendentes a terra é uma propriedade privada e possui um dono, para os nativos essa relação não existe. Defendiam que a terra não tem valor comercial e é coletiva, ou seja, pertencente a todos. A única propriedade individual do indígena era a ferramenta do seu trabalho, como exemplo, o arco e a flecha. Nem mesmo o produto do seu trabalho, no caso a caça, pertencia a si mesmo, devendo ser repartida com a família.

Segundo Brighenti (2013), os Guarani ocuparam o espaço que hoje determinamos Santa Catarina desde 900 AP cerca de 1050 d. C., e os Kaingang 3000 AP, aproximadamente 1000 a.C. Esse contexto mostra, que, as terras do Oeste e Extremo-oeste Catarinense foram habitadas por comunidades indígenas muito antes da ‘colonização’ europeia, e que a relação sobre a terra se constituiu historicamente de maneira diferenciada. Motivo este, causador de conflitos. De um lado, o desenvolvimento que vinha aflorando e de outro, a resistência indígena, pela manutenção das famílias nas terras, preservação da cultura e costumes.

Esse espaço é pequeno para mais explicações, mas é isso. Negar a história dos povos indígenas, caboclos, negros/as é como colocar um véu sobre a nossa identidade. É fechar os olhos para tanto sofrimento, é incentivar o extermínio dos povos. É necessário repudiar essas ações, essas homenagens que na verdade são uma afronta a nossa vida. Vamos refletir. Até a Vitória.  

 

 

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