Especialistas abordaram a eficácia da medida e seus impactos na rotina da população
Fonte: Mariana Barcellos / NSC Total
Última atualização: 2024/09/15 4:49:16Com a seca recorde no Brasil e a chegada dos meses mais quentes, o governo federal está considerando a volta do horário de verão, suspenso desde 2019. Ao g1, especialistas abordaram a eficácia da medida e seus impactos na rotina da população.
Atualmente, cerca de 50% da energia elétrica do Brasil é gerada por usinas hidrelétricas. Com a escassez de chuvas, os reservatórios estão com níveis baixos, o que preocupa as autoridades. Além disso, durante os meses mais quentes, o uso de aparelhos como ar-condicionado e ventiladores aumenta significativamente.
O horário de verão visa aproveitar a maior duração da luz solar durante o dia, adiantando os relógios em uma hora. Isso faria com que a população precisasse de iluminação artificial mais tarde, reduzindo o consumo de energia nos horários de pico, quando as pessoas chegam em casa e utilizam diversos aparelhos elétricos.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, explicou:
“É aquele horário que o cidadão vai para casa, liga o ar-condicionado, liga o ventilador. Ele vai tomar banho, vai tomar todo mundo quase que junto, abre a televisão para assistir um jornal, para poder assistir um filme, e naquele horário nós temos um grande pico, e é exatamente no momento onde nós estamos perdendo as energias intermitentes.”
Energia intermitente é aquela produzida por fontes como a eólica e solar, que caem à noite, por causa da diminuição dos ventos nesse horário e da interrupção da luz do sol.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) apresentarão estudos sobre o horário de verão ao presidente Lula, que tomará a decisão final.
Especialistas, como o professor Luciano Duque, apontam que os hábitos de consumo de energia mudaram ao longo dos anos. Hoje, mesmo durante o dia, o uso de aparelhos como ar-condicionado e ventiladores é intenso, reduzindo a eficácia do horário de verão em economizar energia.
“Nós estamos num período de calor intenso, onde as cargas mais utilizadas são ar-condicionado, condicionadores de ar, ventiladores. Essas cargas consomem bastante energia durante o período de verão, muito mais que a iluminação, até mesmo mais que o chuveiro” afirmou Duque.
Segundo ele, a economia de energia com a medida seria insignificante:
“O perfil de consumo de energia elétrica modificou as maiores cargas nesse período de calor intenso. Não é chuveiro e tampouco iluminação. Não faz a diferença, ou seja, a gente não tem economia de energia significativa com a implementação do horário de verão.”
O engenheiro Claudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil, afirmou que a economia de energia com o horário de verão seria de no máximo 0,5%, segundo estudos do ONS. No entanto, ele reconhece que a medida pode ajudar a reduzir a demanda de energia no início da noite, quando a geração solar diminui e as usinas hidrelétricas e termelétricas precisam suprir a demanda.
“Antigamente, o pico máximo de consumo ocorria no final do dia. Hoje, ocorre no meio do dia, e o horário de verão não interfere nisso. Mas no fim do dia, ainda há uma pequena influência. No momento em que a geração solar, que é cada vez mais relevante, começa a cair, entram em ação fontes de energia flexíveis, como hidrelétricas e termelétricas, para atender à demanda” explicou Sales.
“Do ponto de vista energético, o horário de verão praticamente não muda a quantidade de energia consumida. Não há uma economia significativa, no máximo de 0,5%. No entanto, no final do dia, quando a geração solar diminui, ele ainda oferece uma pequena ajuda ao reduzir a demanda na ponta do consumo” acrescenta.
Questionado pelo g1 sobre as probabilidades de adoção do horário de verão, o Ministério de Minas e Energia disse que está fazendo os estudos para embasar a decisão e está considerando fatores como a previsão de chuvas e as consequências da medida na economia.
“O retorno do horário de verão deve ser analisado sob diversos aspectos, como a geração de energia, os índices pluviométricos e, também, os aspectos econômicos da medida”, informou a pasta.
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