Levantamento feito nos EUA mostra que gestantes têm mais chance de serem hospitalizadas; gravidez não é fator de risco, mas altera resposta imunológica
A insuficiência respiratória decorrente da covid-19 pode
desencadear a necessidade de interrupção da gravidez, afirma o obstetra Geraldo
Caldeira, da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e
Obstetrícia).
Ele explica que, caso a mãe tenha um quadro grave,
necessitando de respiradores por exemplo, isso pode diminuir a oxigenação do
bebê. “Se o médico avaliar necessário, pode se fazer o parto antes do previsto
para proteger esse bebê.”
Existe ainda o risco, mais raro, de rompimento da bolsa
causada pelo vírus. “O vírus pode gerar um processo inflamatório que irrita o
âmnio [membrana que reveste a bolsa amniótica] e causa uma ruptura, gerando o
parto prematuro.”
Ainda não existe comprovação científica de que gestantes
representem grupo de risco para maior gravidade da covid-19. Segundo o obstetra
Alexandre Pupo, do Hospital Sírio Libanês, a gravidez não é fator de risco,
porém existe uma mudança na resposta imunológica para infecções virais.
Caldeira afirma que observou diversas gestantes com piora no
quadro, mas explica que ainda são poucos casos para poder afirmar que há uma
tendência. “São 50, 40 casos. Isso é muito pouco para ter uma resposta estatística
sobre o comportamento da doença.”
O obstetra explica que existe uma janela imunológica criada
para que o feto se desenvolva. “Como o feto carrega também informações do pai,
o corpo não pode rejeitar o feto, então o sistema imunológico da mãe acaba
sendo afetado.”
Risco de maior gravidade da doença
Um levantamento realizado pelo governo norte-americano
apontou que mulheres grávidas com covid-19 têm mais chance de serem
hospitalizadas, irem para UTI e necessitarem de respiradores do que as outras
mulheres com a doença. O estudo não é conclusivo, uma vez que não se sabe se as
mulheres foram hospitalizadas por conta do trabalho de parto.
Segundo o relatório, mais de 31% das gestantes com covid-19
foram hospitalizadas, contra 6% das mulheres que não estavam grávidas. As
informações foram publicadas pelo jornal norte-americano The New York Times.
Caldeira explica que existem poucos casos registrados no
mundo de transmissão vertical de covid-19, ou seja, transmissão da mãe para o
feto durante a gravidez. “Não existe transmissão pelo leite também, a maior
parte dos casos de transmissão que a gente tem é por conta do contato da mãe
com o bebê depois do nascimento.”
Segundo Pupo, existe um pequeno risco de que a transmissão
ocorra na hora do parto por conta de contato com os fluidos da mãe. “Se for
possível esperar a mãe se curar da doença, a gente indica que adie o parto,
quando possível.”
Pupo acrescenta que não existe contraindicação para a
amamentação, mesmo se a mãe ainda esteja doente. A recomendação é que a mãe
utilize máscara e lave bem as mãos para amamentar. “Inclusive, não existe
recomendação para isolamento, a mãe e o bebê podem ficar no mesmo quarto, desde
que fique a uma distância de 2 metros, que a mãe use máscara 24 horas e tome
todos os cuidados de higiene antes de pegar o bebê.”
Os médicos acrescentam que a maioria dos bebês que pegam o
novo coronavírus evoluem muito bem e não têm grandes complicações. “Além disso,
o leite materno passa os anticorpos da mãe para o bebê. Ainda não temos
comprovação de que passa o anticorpo contra a covid-19, mas existe essa
possibilidade.”
Caldeira explica ainda que casos leves não trazem riscos
para o bebê e que a chance de a gestante evoluir para um caso grave de covid-19
é maior no final da gravidez. “Quando a mulher já está mais cansada, o bebê
está maior, a chance de insuficiência respiratória acaba sendo maior também.”
“Existem também
alguns relatos bastante controversos de que contrair covid-19 no início da
gestação aumentaria o risco de abortamento, mas não dá para confirmar essa
informação, ainda é preciso mais estudos sobre isso”, acrescenta Pupo.
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