Nesta semana alguns debutados federais do PMDB, PSD e PSDB de Santa Catarina, mostraram aos brasileiros que o dito popular “Lobo não come Lobo” é verdadeiro.
Desta pequena lista acrescida de nomes que não estão nela, poucos deixaram de comparecer por estas bandas para mostrar-se e pedir votos. Todos mantêm funcionários fantasmas de seus gabinetes rondando por estes lados com pastas de couro preto, recheadas de dinheiro, onde depositam por antecipação os votos que os reconduzirão até a casa da mãe Joana em que se transformou o Congresso Nacional, nas próximas eleições. Infelizmente só nos resta aguardar até outubro do ano que vem e ver se a população conseguiu discernir alguma coisa do episódio de ontem. Se os que votaram pelo arquivamento forem eleitos novamente nós teremos a confirmação de que ainda estamos muito longe de alguma melhora em nosso país, e que nós mesmos aprovamos a falcatrua, a roubalheira e o descalabro.Há poucos dias atrás, um dos protagonistas da vergonha que foi a votação de ontem que aparece ponteando a lista, esteve por aqui apresentando a solução para os buracos nas rodovias. Foi vaiado e xingado. Aliás, merecidas as vaias e xingamentos. Mas não deixou a pasta preta em casa. Trouxe-a com algumas “merrecas em forma de emendas como “arras” para troca por votos em 2018.Não faltará quem firme o contrato com pacto antecipado, pois, afinal, o povo brasileiro fiel à funesta lista que abre este comentário, em sua grande maioria é chegado à uma negociação paralela, desde que lhe traga alguma vantagem. E isto é próprio do perfil dos protagonistas.Verdadeiro da lista geral não publicada nesta coluna, protagonista do livramento do falcatrueiro mor chamado Michel Temer, é dizer também que ladrão não entrega ladrão. Tanto no exercício do mandato em Brasília como na vida privada por fatos exaustivamente conhecidos e lembrados, todos, invariavelmente, neste quesito têm um currículo invejável.OS DO CONTRADe Santa Catarina, justiça seja feita, votaram contra o arquivamento do processo que abriria uma investigação contra o rei da falcatrua Michel Temer, votaram Carmen Zanotto (PPS), Décio Lima (PT), Esperidião Amin (PP), Geovania de Sá (PSDB), Jorge Boeira (PP), Jorginho Mello (PR) e Pedro Uczai (PT). Destes, suspeita-se, que alguns também sejam chegados a uma falcatruazinha básica, mas, pelo menos parece que ficam aqui pela aldeia. De qualquer forma, a busca de votos para 2018 está a pleno vapor só com estratégias diferentes. Enquanto o grupo de cima usa o dinheiro como imã de atração, o segundo utiliza-se do pouco de dignidade que ainda resta no meio político. BRASIL COLÔNIAEm pouco mais de um ano, Michel Temer conseguiu um improvável feito: reduzir o País à condição de colônia, submetida a uma nova metrópole. Diante da impossibilidade de retroagir no tempo, seu projeto guarda certas semelhanças em relação ao modelo do Brasil Colônia, mas a arquitetura é a mesma.Com um mercado doméstico abastecido por produtos importados, a produção orienta-se quase exclusivamente para o mercado externo. Como no passado, os produtos de exportação são as commodities agrícolas e minerais.A metrópole não é mais Portugal e, sim, as multinacionais e o sistema financeiro. Em vez da mão de obra escrava, o trabalho assalariado é precarizado pelas reformas, o que inviabiliza o consumo interno. No lugar dos poucos representantes da Coroa portuguesa, um Estado mínimo, ausente na prestação de serviços essenciais à sociedade. Do congelamento dos gastos públicos por 20 anos à reforma trabalhista recém-sancionada, todas as iniciativas do governo Temer levam à conversão do Brasil em uma plataforma exportadora de produtos básicos, pois o mercado doméstico está sendo dilapidado.O barateamento da mão de obra não traz qualquer vantagem competitiva para quem produz para o consumo interno, pois todos os empresários terão esses custos reduzidos e, a médio prazo, o rebaixamento salarial afetará ainda mais o poder de compra das famílias.Somente quem produz para o mercado externo terá algum benefício. O País, por decisão da elite política e financeira, entrará na divisão do trabalho globalizado como uma colônia moderna.REFORMAS ACELERADASEm pouco mais de um ano de governo Temer, o impacto de suas políticas é devastador. Sem respaldo no voto popular e despreocupado com a opinião pública, o governo fez da agenda do mercado sua própria agenda, sem freios ou contrapesos institucionais. Colocou em marcha um programa de rapinagem financeira totalmente incompatível com a escolha das maiorias. Não por acaso chegou ao poder por um golpe.A contradição entre mercados e democracia não é uma jabuticaba brasileira. Ao contrário, como resposta à crise mundial, os capitais buscam estabelecer por toda a parte um regime selvagem de acumulação, em que os direitos sociais são obstáculos e a soberania do voto popular só vale se não contrariar seus interesses. Que o digam os gregos e seu plebiscito, atropelado pelas imposições do Banco Central Europeu.Só isso explica como um presidente com 3% de aprovação social segue a governar e a aplicar sua agenda. É o mesmo poder que permitiu a Henrique Meirelles dizer que fica no comando da economia independentemente de quem esteja na Presidência.Com a rapidez própria aos salteadores, o governo Temer iniciou em um ano o desmonte dos três pactos nacionais firmados no último século. Pactos que consolidaram avanços sociais e estabeleceram marcos progressistas, ainda que, pela tradição das transições brasileiras, tenham sido gestados por cima, sem grandes rupturas e, por vezes, exatamente com a preocupação de evitá-las. Embora não seja lá grandes coisas mas é o que tínhamos, os pactos sociais estabelecidos por Getúlio Vargas, Ulysses Guimarães e Lula da Silva. É preciso reconhecer que a resistência popular ficou aquém do necessário para barrar essa agenda de destruição nacional, por isso a agenda golpista seguiu. O grito das ruas não ecoou ainda do jeito que é preciso, mas citando o dito de Freud, é tudo o que temos.
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