Mudanças

O texto aborda a questão do significado das datas comemorativas e faz uma reflexão sobre o progresso e desenvolvimento do Brasil e do mundo. O autor afirma que o progresso foi alcançado através do desenvolvimento cultural e do trabalho incansável de todos, e que não foram os militares ou a ideologia que promoveram o desenvolvimento no Brasil. Além disso, o texto destaca que o desenvolvimento econômico deve implicar distribuição de renda e a consecução de outros objetivos políticos, como liberdade política, democracia e proteção do meio ambiente.

Última atualização: 2023/04/18 5:23:05

As principais datas comemorativas desse primeiro trimestre de 2023 já se foram. Foi-se o Primeiro de Janeiro, Carnaval, Páscoa e, para alguns, seus próprios aniversários. Ficou para trás o 31 de março, porque, finalmente, após quase 60 anos, foi preciso um choque institucional para que se descobrisse que não há nada a comemorar em 31 de março. Pelo contrário, há muito a lamentar. Sem querer entrar no mérito das preferências políticas, há que se considerar que o acontecimento de 31 de março de 1964, embora, para alguns, tenha trazido uma ou outra vantagem, sob o ponto de vista humanitário deixou profundos sulcos na sociedade brasileira, que até há pouco tempo ainda
tinha quem entendesse por comemorar. Mas, modestamente, no mundo atual, excetuando alguns países que inda raciocinam sob as luzes do Século XX, as décadas de cinquenta a oitenta daquele Século não nos deixaram nada para lembrar e comemorar. Os tantos que transpuseram aquele período e sofreram suas consequências foram vítimas de seus próprios comportamentos e maneira de pensar, pois entendiam que é possível viver num País onde todos poderiam desfrutar de seu trabalho e de suas riquezas. Em contraposição, o grupo de que instalou no poder pensava que o progresso seria alcançado pela exploração e não pelo trabalho: exploração da natureza em seu sentido mais amplo e do trabalho alheio. Não há dúvidas que naquele nefasto período que muitos ainda acham ter sido virtuoso, o Brasil progrediu. Mas hoje há que se perguntar: progrediu como? Por que progrediu? A custa de quê e de quem progrediu?

Para início é preciso considerar que dos anos 1950 até nossos dias , o mundo todo progrediu, evoluiu, modernizou-se e continua assim. Não há registros históricos indicando que o  progresso foi alcançado através do socialismo, do capitalismo, da religião ou da ideologia. O progresso foi alcançado através do desenvolvimento cultural e do trabalho incansável de todos. Em nosso Brasil não foi diferente: não foram os militares que “promoveram” o desenvolvimento. Eles apenas administraram as possibilidades que, à época, se lhes apresentaram, considerando principalmente a nova ordem mundial pós-segunda guerra, quando se abriu a possibilidade de acessar capitais para investimento, oriundos de emissões de moeda para financiar o progresso. Não foi o capitalismo de direita ou de centro que promoveu o progresso. Se assim fora, os países que continuam comunistas até hoje, tipo China, continuariam na mais absoluta pobreza. A propósito, a riqueza da China deve ser atribuída ao trabalho de sua população, assim como a Índia com seus mais de um bilhão de habitantes. Por aqui, infelizmente, ainda se pensa em dizimar os povos. Aprofundando a discussão sobre o desenvolvimento brasileiro, necessário referir as obras de Luiz Carlos Bresser Pereira, sobretudo “Crescimento e Desenvolvimento Econômico, onde enfatiza: A medida do desenvolvimento econômico é a do aumento da renda por habitante, não a da acumulação de riqueza, e prossegue: “O desenvolvimento econômico” visa atender diretamente um objetivo político fundamental das sociedades modernas – o bem estar – e, apenas indiretamente os quatro outros grandes objetivos que essas sociedades buscam – a segurança, a liberdade, a justiça social e a proteção do ambiente”. Para muitos economistas a identificação do desenvolvimento econômico com crescimento seria ideológica: ela ocultaria o fato de o desenvolvimento econômico implicar melhor distribuição de renda enquanto que crescimento, não. Celso Furtado (2004), afirma que o “crescimento econômico, tal como o conhecemos, vem se fundando na preservação de privilégios das elites que satisfazem seu afã de modernização; já o desenvolvimento se caracteriza por seu projeto social”. Nesse caso, desenvolvimento econômico implicaria distribuição. É impossível não ser simpático a essas proposições. Elas supõem que o aumento dos padrões médios de vida, que sempre ocorre com o aumento da produtividade ou o ‘desenvolvimento econômico’, deva ser acompanhado pela consecução de outros objetivos políticos: pelo ‘desenvolvimento portanto, mais justa do produto social; pelo ‘desenvolvimento político’ ou por mais liberdade política, por mais democracia; e pelo ‘desenvolvimento sustentável ou proteção mais efetiva do ambiente natural’.

Assim, suscintamente pode-se inferir que ‘crescimento econômico’ ou ‘desenvolvimento’ tem o mesmo sentido de “progresso”, vamos assim dizer, com a ressalva dos resultados dele decorrentes cujas opções são: 1) a distribuição da riqueza de forme coerente e planejada visando o bem-estar da sociedade e o atendimento das suas necessidades, ou, 2) a acumulação desenfreada da riqueza por apenas uma parcela da população, deixando a restante entregue a seu próprio destino. Nesse caso, os capitalistas terão a opção de investir sua riqueza em especulação financeira para aumentar seu volume ou alternativamente, em Bitcoins com a Lifetycom.
Até a próxima.

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