Por oito votos a três, vereadores rejeitam projeto de horário livre para comércio, indústria e serviços
Votação, que contou com plenário cheio e com defensores de ambas as propostas, também teve uma abstenção
Última atualização: 2019/03/20 10:55:42
Com placar menos elástico e com ampla participação de
defensores de ambas as propostas – manter como está ou tornar livre –, o
projeto que previa o horário livre para funcionamento, abertura e fechamento
dos estabelecimentos industriais, comerciais e prestadores de serviços de São
Miguel do Oeste foi rejeitado em segundo turno nesta terça-feira (19). O
projeto havia sido votado em primeiro turno na última quinta-feira, quando foi
rejeitado por 11 votos a 1 – o presidente só vota em caso de empate. Nesta
segunda apreciação, o placar foi de oito votos contrário, três a favor e uma
abstenção.
Votaram contra o projeto os vereadores Cláudio Barp,
Gilberto Berté, José Giovenardi, Maria Tereza Capra, Odemar Marques, Silvia
Kuhn, Vanirto Conrad e Vagner Passos. A favor foram os vereadores Cássio da
Silva, Elias Araújo e Milto Annoni, este que já havia votado a favor no
primeiro turno. Já Carlos Grassi se absteve.
O texto do projeto de lei altera a redação e revoga trechos
da Lei 6.645/2012, e revoga trechos das Lei 4.200/1997 e da Lei Complementar
33/2013. A matéria estabelece que “serão observados os preceitos determinados
na legislação federal que regulam e a duração e as condições de trabalho, bem
como os acordos firmados e em vigor entre as categorias profissionais”. O
projeto prevê que o Executivo Municipal regulamentará esta Lei por ato próprio.
VOTOS CONTRÁRIOS
Ao justificar os votos contrários, os vereadores José
Giovenardi e Vanirto Conrad criticaram a regulamentação por ato próprio do
prefeito, previsto no projeto. Giovenardi se referiu também às alterações no
estacionamento rotativo e no sentido das ruas centrais, feitas, segundo ele,
pelo prefeito sem consultar a população. Criticou também a falta de acesso às
áreas industriais, a demora em liberação de alvarás, e disse que se dispõe a
sentar com entidades empresariais e representantes dos trabalhadores para fazer
um novo projeto para o futuro de São Miguel. Conrad questionou se as entidades
patronais e de funcionários foram chamadas na hora da elaboração do projeto
pelo Poder Executivo.
Silvia Kuhn disse que não se sentiu pressionada a votar pela
presença de pessoas em plenário. Ela justificou o voto contrário ao horário
livre falando das dificuldades de cuidar de filhos pequenos quando é preciso
ficar no trabalho, e destacou a importância do convívio com a família. Também
afirmou que é necessário ter respeito pela opinião contrária.
Odemar Marques votou contrário justificando que ainda não vê
necessidade de ampliar o horário de atendimento, pois não há fluxo de pessoas
suficiente para aumentar o tempo de atendimento. Ele afirmou que da forma como
está hoje o funcionário do comércio ainda possui um momento de lazer. “Ampliar
o horário é bom para o cliente, mas não irá beneficiar o comerciante, pois ele
irá vender a mesma coisa”, comentou.
Maria Tereza Capra ressaltou que seu posicionamento é
contrário desde antes de ser vereadora. Para não aprovar o horário livre, ela
citou razões trabalhistas (“o pagamento de horas extras e a compensação de
jornadas não são cumpridos corretamente”), físicas (“o trabalho é um dos
maiores causadores de doenças da classe trabalhadora”), familiares (“fere o
direito do trabalhador ter convívio familiar”), de gênero (“a maioria dos
afetados serão as mulheres, pois elas cuidam da casa, dos filhos, dos doentes e
dos idosos”), econômicas (“o horário livre não vai aumentar as vendas do
comércio”), públicas (“impossibilidade de o município abrir creches, posto de
saúde e o Centro Administrativo em horário livre”), sociais (convívio e lazer),
de justiça e de equidade empresarial e de livre concorrência (o empresário
pequeno fica em desvantagem em relação ao grande, pois não tem condições de
competir).
Gilberto Berté afirmou que é contrário ao projeto mesmo
sendo empresário. Ele ressaltou que se o Município quiser mudar o horário, que
retire a cobrança de alvará. Berté disse que não deixará para o prefeito
resolver, como foi com o estacionamento rotativo.
Cláudio Barp ressaltou que está se oportunizando a
negociação entre patrão e classe trabalhadora, mas que a questão está no valor
do alvará. Barp lembrou que mesmo que o comércio feche às 18h30min, após fechar
as portas ainda leva um tempo para colocar a loja em ordem para poder abrir no
dia seguinte. Ele disse que quanto ao horário é questão de entendimento, mas
“mandar projeto do jeito que foi mandado e dar carta branca ao prefeito não
dá”. Barp defendeu que os envolvidos sentem à mesma mesa para buscar
entendimento.
Vagner Passos lembrou do projeto semelhante criado em 2017,
por oito vereadores, que seria fácil de aprovar. “Mas naquela ocasião tivemos
uma representação contrária de pessoas e não podíamos deixar de ouvir”,
explicou. Ele se mostrou contrário à regulamentação por ato próprio do Poder
Executivo, e disse que não é contra o horário livre, mas contra a forma como
está o projeto de lei.
ABSTENÇÃO
Carlos Grassi afirmou que não recebeu pressão de nenhum
lado. Ele ressaltou a importância tanto do empreendedor quanto dos
colaboradores no dia a dia das empresas. Grassi expôs que já votou vários
projetos que tiveram entendimento entre as partes, e que não pode transformar
esse projeto em uma guerra. O vereador defendeu entendimento entre as partes e
pediu que seja futuramente discutido. Grassi se absteve de votar.
VOTOS FAVORÁVEIS
Milto Annoni, que votou favorável ao projeto nas duas
sessões, disse que a população está fazendo “tempestade em copo d’água” com a
possível alteração no horário. Ele afirmou que hoje é possível abrir em horário
estendido, mediante o pagamento de uma taxa. “Se um comércio abrir o vizinho
não é obrigado a abrir também”, ressaltou, lembrando que algumas categorias já
abrem em horário especial. Annoni declarou que a aprovação do projeto do horário
livre desoneraria os comerciantes, pois não seriam mais obrigados a pagar taxa.
Ele disse que irá sugerir ao prefeito que envie um projeto isentando o
pagamento de taxa para abrir em horário especial.
Elias Araújo, que votou contrário na primeira sessão e
favorável na segunda, resgatou um pouco da discussão realizada. Ele afirmou que
naquele debate, o que percebeu é que o projeto não era o mais importante, que
vereadores fugiram do assunto e que notou um certo embate e uma lição a ser
dada ao prefeito. “Percebi que o estacionamento rotativo e as mãos únicas foram
determinantes para alguns votos”, considerou. “Outras questões foram
determinantes para os votos, que não o teor do projeto.” O vereador questionou
onde está o entendimento que havia no primeiro projeto de lei, apresentado em
2017 e de autoria de oito vereadores, entre eles Elias, que previa um horário
ampliado de atendimento. Aquele projeto foi retirado pelos autores.
Cássio da Silva ressaltou que votou contra a proposta na
primeira sessão, afirmando que a classe empresarial tem que aprender com a
classe trabalhadora a se organizar. Ele ressaltou que a proposta está
desburocratizando e eliminando uma taxa. Citou que buscou informações sobre
outros municípios que já possuem horário livre, como Maravilha, afirmando que
lá facilitou para as empresas familiares. Cássio declarou que o debate não vai
encerrar agora, e que é preciso evoluir essa discussão. Ele votou favorável à
proposta.
O presidente Everaldo Di Berti, que só votaria em caso de
empate, se manifestou recordando o projeto apresentado em 2017, que previa a
possibilidade de os estabelecimentos manterem horário de atendimento das 7h às
22h. Ele disse que naquela ocasião tiveram reunião com pessoas que os
convenceram a retirar o projeto. Everaldo afirmou que a classe dos empresários
é muito desunida. Em relação ao horário livre, afirmou que com a rejeição o
Poder Executivo não poderá enviar um novo projeto sobre esse tema durante um
ano, que essa proposta só poderá ser apresentada pelo Poder Legislativo.
“Chegou o momento de sentar e discutir em conjunto um projeto que seja bom para
todos”, completou.
Foto: Tiarajú Goldschmidt/Câmara de VereadoresFoto: Jakson Dal MagroFoto: Jakson Dal Magro
We use cookies to ensure that we give you the best experience on our website. If you continue to use this site we will assume that you are happy with it.Ok
deixe seu comentário