Terapeuta diz que quarentena coloca "lente de aumento" sobre as relações e pode exacerbar conflitos, mas também é oportunidade para rever o essencial
Os dados foram divulgados pelo Colégio Notarial do Brasil, e se referem aos meses de maio e junho em comparação com o mesmo período de 2019.Para a psicóloga Telma Lenzi, a pandemia não é responsável pelo aumento dos conflitos nas relações. “Porém, a pandemia colocou uma lente de aumento sobre os relacionamentos. Aqueles casais que já viviam bem e eram parceiros estão se reinventando e seguem felizes”, diz.“Já os que tinham coisas mal resolvidas ou adiavam o momento de olhar de frente para seus conflitos geradores de estresse, trouxeram toda essa bagagem para dentro da pandemia. E com a hiperconvivência da quarentena o estresse vai aumentando, gerando maior número de divórcios e também de violência doméstica”, afirma a profissional.Segundo Lenzi, os casos de agressões dentro do lar aumentaram 40% no Brasil neste período.
Momento de reflexão
A dica para os casais que estão vendo os conflitos aumentar, é que aproveitem essa oportunidade e examinem suas relações. “Essa é uma ótima oportunidade para redefinir o que se quer, porque há menos distração. Procurem o que é essencial e avaliem se é uma relação que vale a pena seguir”, aponta a psicóloga.Se a conclusão é de que vale a pena continuar, diz a especialista, é preciso melhorar o diálogo, a intimidade, o respeito pela singularidade do outro e saber o que cada um precisa para ter um relacionamento com mais bem-estar. “A pandemia pode oferecer uma oportunidade excelente para os casais se olharem e estabelecerem novos acordos para uma convivência mais pacífica”.Entretanto, se não for possível continuar, é preciso que cada um siga seu caminho de maneira harmoniosa. “Separar não é um fracasso, as pessoas mudam, tem outros propósitos”, afirma Lenzi.E esse ponto limite, segundo a terapeuta, é muito singular: para uns pode ser a questão da fidelidade, para outros a falta de parceria, a divisão injusta das tarefas, o excesso de foco de seu parceiro(a) no trabalho ou no lazer. “Cada um tem que saber qual é seu ponto inegociável”.“Também tenho visto muitos casais que se reafirmaram nesse período. Eles não viviam vidas perfeitas, mas se olham e concluem que é com aquela pessoa mesmo que gostariam de estar nesse momento”, diz Lenzi.Por fim, é preciso saber acolher a individualidade do outro. “Uma relação que não respeita a individualidade está fadada ao fracasso. Ter um tempo para si, para o autocuidado, é essencial, ainda que você conviva 24 horas por dia com o outro”.
Divórcios online
Em todo o Brasil, o número de divórcios aumentou 18,7% durante a quarentena. Os casos cresceram em 15 estados: Roraima (100%), Sergipe (40,9%), Mato Grosso do Sul (36,1%), Goiás (33,8%), Rondônia (31,2%), Amazonas (30%), Santa Catarina (28,3%), Paraná (21,8%), Espírito Santo (18,4%), Mato Grosso (14,9%), Minas Gerais (13,5%), Distrito Federal (8,5%), Rio Grande do Sul (7,8%), Tocantins (5,3%) e São Paulo (1,9%).O aumento coincide com a autorização nacional para que divórcios, inventários, partilhas, compra e venda, doação e procurações possam ser feitos online, por videoconferência conduzida pelo tabelião, através da plataforma e-Notariado. Desde o dia 13 de julho, os serviços da plataforma também estão disponíveis em aparelhos celulares.Essa autorização entrou em vigor em maio, permitindo uma resolução mais rápida e prática dos casos de divórcios consensuais que não envolvam filhos menores ou incapazes, sem precisar de deslocamentos ou encontros entre as partes.
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