Home “Se os transgênicos são a solução para o Brasil, porque existe tanta gente passando fome ainda? ”

“Se os transgênicos são a solução para o Brasil, porque existe tanta gente passando fome ainda? ”

Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) retomou a discussão sobre o campesinato depois deste ter sido considerado um ‘óleo queimado da história’. Esse tema envolve inúmeras pesquisas feitas pelo movimento que, segundo Charles Reginatto, da coordenação do MPA, defende um novo modelo de produção, sem o uso de agrotóxicos e garantindo a qualidade de vida para as famílias camponesas

Última atualização: 2017/07/21 11:50:19

São Miguel do OesteCharles Reginatto Foto: Claudia WeimanO Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) junto com a OesteBio em São Miguel do Oeste, tem há bastante tempo discutido sobre um novo projeto para o campo. Conforme um dos representantes do movimento, Charles Reginatto, a garantia da qualidade de vida dos camponeses e camponesas não se dá apenas na perspectiva do trabalho na roça, mas também, na qualidade da saúde, educação, estradas revitalizadas, acesso aos meios de comunicação, alimentação saudável, entre outros. Para Reginatto, o movimento não parte do princípio de discussão que faz o comparativo sobre se é melhor viver na cidade ou no campo, mas sim, de que as pessoas têm o direito de ter dignidade aonde elas vivem, em qualquer espaço. “Nós entendemos que o campo possui maior qualidade de vida, no entanto, sabemos que falta muita coisa para se ter qualidade de vida no campo”, disse ele. Um dos principais motivos que levam a juventude a deixar o campo hoje, conforme Reginatto, é a falta de acesso a essas tecnologias. Segundo ele, muito se avançou nesse aspecto, porém, existem lugares onde esse assunto ainda é uma forte demanda. O representante do movimento falou ainda sobre o debate que a organização tem feito desde 2003, referente ao plano camponês, que tem a ver com uma alimentação saudável, com a soberania alimentar, o desenvolvimento de um novo modelo tecnológico sem o uso de agrotóxicos. Muitos foram os estudos feitos para subsidiar essa discussão, disse ele. “Em 2003 começamos a fazer um debate junto aos clássicos do campesinato, com historiadores nacionais e internacionais. Produzimos 11 livros, reunimos mais de 120 intelectuais das universidades federais, institutos de pesquisa nacionais e internacionais aonde estudamos desde o papel da juventude, da mulher no campesinato, a importância do campesinato na formação social dos povos, das comunidades tradicionais. Começamos a partir de 2010, 2011, a desenvolver programas baseados nesse estudo. Nesse sentido, resgatamos a discussão sobre o campesinato que até então estava sendo visto como um óleo queimado da história e agora, esse debate está de volta, até porque o campesinato teve e tem sua importância na história do Brasil, os camponeses/as estão envolvidos nas principais lutas”, explicou.
Tecnologia a serviço da humanidade Aliar o debate do campesinato com a qualidade de vida no campo e as facilidades que hoje a tecnologia trouxe é possível segundo Reginatto, mas para isso, deve acontecer uma mudança de paradigma, a começar pela formação dada nas universidades e escolas. “Os canais de formação hoje estão voltados a produção em grande escala, no entanto, o solo está sem vida, a planta não aguenta permanecer no solo e por isso usa-se tanto veneno. Precisamos recuperar a vida do solo, a sua capacidade produtiva e a tecnologia precisa estar a serviço disso, a serviço da humanidade. Como é possível ter qualidade de vida no campo com pessoas morrendo de câncer e suicidando-se por depressão? Isso é resultado dessa indústria, desses venenos. Precisamos recuperar a vida no campo, desde a vida das pessoas, a vida do solo, das plantas”, defendeu. Reginatto disse ainda que atualmente o modelo tecnológico beneficia pequenos grupos que detém o poder. Além disso, mencionou que existe um debate que trata de falar que sem transgênicos é impossível produzir alimentos e sustentar o Brasil. “Nós não somos contra o avanço da tecnologia, somos contra o avanço para beneficiar uma parte da sociedade. Se os transgênicos são a solução para o Brasil, porque existe tanta gente passando fome ainda? Aonde está a soberania nacional, a segurança alimentar? Nós não defendemos a produção agroecológica, baseada nos princípios do plano camponês apenas por uma questão ideológica, mas porque as pessoas têm o direito à vida. A burguesia produz alimento com veneno, mas quem consome são os trabalhadores e trabalhadoras, ‘eles’ (a burguesia) não se alimentam do que produzem, eles comem alimentos orgânicos, quem come o veneno somos nós. Por isso o MPA, a OesteBio defende um novo modelo de produção”, finalizou.
Charles Reginatto Foto: Claudia Weiman

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