Chuvas dos últimos dias ainda são insuficientes e apenas amenizam os efeitos da estiagem histórica. “É complicado, chega a ser triste”, diz produtor com cisternas e açudes secos em função da falta de chuva
Agricultor José Backes, em Linha Nereu Ramos, interior de São Miguel do Oeste
Por Camila Pompeo
Pastagem secas, plantações que não se desenvolvem, queda na produção leiteira e água potável escassa. Essa poderia ser a descrição da situação de alguma cidade do nordeste brasileiro, região que sofre com os baixos índices de chuva. Mas, não é preciso ir longe para visualizar esse cenário. Os últimos meses no Extremo Oeste catarinense têm sido marcados por severos prejuízos em função da seca histórica. Na região, as perdas diretas já passam de R$ 1,3 bilhões e é daqui também, o maior número de famílias atendidas com transporte de água.
Na propriedade de José Backes, em Linha Nereu Ramos, interior de São Miguel do Oeste, as cisternas com capacidade para 70 mil litros de água secaram e a água tem chegado somente através de caminhões da prefeitura. “Eu tenho depósito de água da chuva entre 60 e 70 mil litros, mas não tem mais, acabou já fazem mais de 30 dias. Improvisamos a piscina para receber água da chuva e achamos que não íamos mais precisar de água. Se chovesse pelo menos 50 milímetros ao mês, não teríamos falta de água, mas agora não chove nem para limpar o telhado”, menciona.
A propriedade que hoje trabalha com produtos para consumo próprio, como leite, queijo, ovos e mel, teve no ano passado plantel para produção leiteira. Hoje, no entanto, a família Backes tem 21 cabeças de gado, para as quais a pastagem não é mais suficiente. “A estiagem afetou em tudo, não tem pasto, não cresce mais. Fiz um investimento bom esse ano em produção de pastagem, mas com a seca está morrendo. Ainda tenho um depósito de silagem e estamos controlando. O gado acha algum pasto ainda, água a prefeitura está trazendo e estamos levando dessa forma”, explica.
Dois açudes abertos na propriedade também acabaram secos em função da falta de chuva. Seu José diz nunca ter vivenciado uma seca tão extensa e lamenta os prejuízos que não param de ser contabilizados. “Os açudes estão secos, uma lama só. Água não tem mais, não dá nem para dar para o gado porque corre o risco de ficarem doentes. É complicado, chega a ser triste. Você se programa para uma coisa e acaba não acontecendo. Água é essencial para a planta crescer. Você imagina que vai chegar final do ano com um número de animais e você acaba tendo que reduzir”, lamenta.
O produtor diz que o panorama para o futuro é preocupante. Ele acredita que com a dificuldade de plantio e de crescimento das pastagens, 2021 pode trazer o problema novamente à tona. “A preocupação é com o ano que vem, porque como não tem possibilidade de plantio, ano que vem não vai ter silagem para os animais, o plantel vai diminuir drasticamente. Eu tinha ideia de comprar mais uns animais, mas vou dar graças a Deus se eu não precisar vender os que tenho”, finaliza.
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