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Seca histórica já causou prejuízo superior a R$ 1,3 bilhão na região

Chuvas dos últimos dias ainda são insuficientes e apenas amenizam os efeitos da estiagem histórica. “É complicado, chega a ser triste”, diz produtor com cisternas e açudes secos em função da falta de chuva

Última atualização: 2020/12/04 10:49:10

Agricultor José Backes, em Linha Nereu Ramos, interior de São Miguel do Oeste


Por Camila Pompeo

Pastagem secas, plantações que não se desenvolvem, queda na produção leiteira e água potável escassa. Essa poderia ser a descrição da situação de alguma cidade do nordeste brasileiro, região que sofre com os baixos índices de chuva. Mas, não é preciso ir longe para visualizar esse cenário. Os últimos meses no Extremo Oeste catarinense têm sido marcados por severos prejuízos em função da seca histórica. Na região, as perdas diretas já passam de R$ 1,3 bilhões e é daqui também, o maior número de famílias atendidas com transporte de água.

Na propriedade de José Backes, em Linha Nereu Ramos, interior de São Miguel do Oeste, as cisternas com capacidade para 70 mil litros de água secaram e a água tem chegado somente através de caminhões da prefeitura. “Eu tenho depósito de água da chuva entre 60 e 70 mil litros, mas não tem mais, acabou já fazem mais de 30 dias. Improvisamos a piscina para receber água da chuva e achamos que não íamos mais precisar de água. Se chovesse pelo menos 50 milímetros ao mês, não teríamos falta de água, mas agora não chove nem para limpar o telhado”, menciona.

A propriedade que hoje trabalha com produtos para consumo próprio, como leite, queijo, ovos e mel, teve no ano passado plantel para produção leiteira. Hoje, no entanto, a família Backes tem 21 cabeças de gado, para as quais a pastagem não é mais suficiente.  “A estiagem afetou em tudo, não tem pasto, não cresce mais. Fiz um investimento bom esse ano em produção de pastagem, mas com a seca está morrendo. Ainda tenho um depósito de silagem e estamos controlando. O gado acha algum pasto ainda, água a prefeitura está trazendo e estamos levando dessa forma”, explica.

Dois açudes abertos na propriedade também acabaram secos em função da falta de chuva. Seu José diz nunca ter vivenciado uma seca tão extensa e lamenta os prejuízos que não param de ser contabilizados. “Os açudes estão secos, uma lama só. Água não tem mais, não dá nem para dar para o gado porque corre o risco de ficarem doentes. É complicado, chega a ser triste. Você se programa para uma coisa e acaba não acontecendo. Água é essencial para a planta crescer. Você imagina que vai chegar final do ano com um número de animais e você acaba tendo que reduzir”, lamenta.

O produtor diz que o panorama para o futuro é preocupante. Ele acredita que com a dificuldade de plantio e de crescimento das pastagens, 2021 pode trazer o problema novamente à tona. “A preocupação é com o ano que vem, porque como não tem possibilidade de plantio, ano que vem não vai ter silagem para os animais, o plantel vai diminuir drasticamente. Eu tinha ideia de comprar mais uns animais, mas vou dar graças a Deus se eu não precisar vender os que tenho”, finaliza.


CHUVA NÃO RESOLVE DIANTE DE SECA HISTÓRICAAs chuvas registradas nos últimos dias apenas amenizam os efeitos, mas não resolve o problema da Estiagem. Com um déficit de 800 milímetros de chuva neste ano, o cenário na região se tornou preocupante e os prejuízos não param de aumentar.Para o Gerente Regional Epagri de São Miguel do Oeste, Sidnei Simon, mesmo que chova nos próximos dias, o prejuízo tende a se acentuar por algum tempo. “O volume de chuva que temos aqui normalmente é 2 mil milímetros. Nós perdemos cerca de 800 milímetros, isso é muito abaixo do que tínhamos tradicionalmente. Já tínhamos previsão de chuva abaixo da média, mas tão forte assim nos surpreendeu também”, menciona.Os mais de R$ 1, 3 bilhões em prejuízos nos 40 municípios abrangidos pela gerência, se tratam apenas de perdas diretas, ou seja, de lavouras que deixaram de ser produzidas. As perdas indiretas ainda não foram calculadas. “A suinocultura tem várias unidades fechando e a avicultura não está fechando porque a empresa integradora tem feito o transporte de água para os avicultores. Todas as unidades estão produzindo, mas muitas delas com água transportada de fora”, explica.Em 2019, conforme Simon, foram aplicados em reservatórios de água mais de R$ 5 milhões. Mesmo assim, a quantidade de chuva foi tão pequena que cisternas com capacidade para 1 milhão de litros já não têm mais água. “Esta é uma seca histórica. Tivemos algumas na década de 1990, mas nada tão forte assim. É algo praticamente impossível de ser previsto, mas há um esforço de todas as entidades para amenizar essa situação preocupante”, destaca.
O QUE PRECISA PARA RESOLVER?A expectativa da Epagri é que volumes de chuva previstos ainda para 2020 possam amenizar o ressecamento das pastagens. No entanto, somente um volume de 300 a 400 milímetros poderiam começar a reverter o quadro na região. “Tem situações em que o volume de água no lençol freático não será completamente abastecido porque o volume não é suficiente para isso. A gente precisaria de uns 300 a 400 milímetros para começar a resolver a situação da seca. Obviamente que os prejuízos que foram causados não têm retorno. Infelizmente não temos essa previsão antes do outono”, finaliza.

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