Com praticamente 90% dos leitos para Covid-19 ocupados, Capital está em alerta; rede privada está praticamente lotada
A escalada do coronavírus em Santa Catarina no último mês
foi assustadora. O período registrou o maior pico de crescimento da doença,
indicando que ainda não atingimos o ponto máximo da curva rumo a diminuição de
novos casos e mortes. O reflexo do agravamento da doença é sentido diretamente
nas vagas de UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) nas redes públicas e privadas
em todo o Estado. Em Florianópolis, o sistema de Saúde está à beira do colapso.
A taxa de ocupação dos leitos para Covid-19, segundo dados do Covidômetro,
chegou próximo dos 90% neste domingo (5), com uma taxa de 87,38%.
A situação não é diferente na rede privada, que também
atingiu lotação máxima em algumas unidades. O SOS Cárdio e Hospital de Caridade
chegaram a anunciar que atingiram a capacidade máxima dos leitos. E no Baía
Sul, 14 dos 15 leitos para Covid-19 estão ocupados.
“Ainda temos capacidade de ampliação, porém, existe um
momento em que outros atendimentos começam a ser comprometidos pela dedicação
das alas dos hospitais exclusivamente para a Covid-19. Isso pode acarretar
consequências por conta de outras doenças que passam a evoluir sem
assistência”, afirmou Sérgio Marcondes Brincas, presidente do Baía Sul.
O secretário de Saúde de Florianópolis, Carlos Alberto Justo da Silva, o Paraná,
disse que o anúncio de um colapso na rede pública instalada na região da
capital já havia feito pela municipalidade “há duas semanas”.
“Não foi à toa que Florianópolis decretou lockdown, mas os
demais municípios da região não aplicaram. Ou tomamos medidas regionais ou não
vai adiantar”, afirmou. Paraná ainda disse que o prefeito Gean Loureiro (DEM)
acabou afrouxando as regras de isolamento na cidade porque não estava
adiantando. “Nós proibimos caminhada na Beira-Mar, aglomerações, mas pessoas
acabam indo para São José e outras cidades aqui próximas”.
O provedor do Hospital de Caridade, Eduardo Dutra da Silva,
disse que a situação na unidade já está normalizada. No entanto, com as
perspectivas de mais internações, a única solução nas unidades é a ampliação de
leitos.
Florianópolis tem 2.173 casos confirmados pelo covidômetro e
22 mortes. Nos dados do Estado, a cidade tem 19 mortes e 1.661 confirmados.
Casos aumentaram após descentralização do isolamento
O aumento de mortos, infectados e de internados nas UTIs
coincide com o período que marca a descentralização das medidas de isolamento
no estado. Em 1º de junho, o governador Carlos Moisés (PSL) assinou decreto
permitindo que as administrações locais decidissem sobre a flexibilização. Na
maior parte dos municípios, a primeira medida foi a liberação do transporte
público.
O resultado foi uma nova guinada de novos casos de infecção
e de mortos. Em 7 de junho, o Estado tinha 16.043 mil infectados e 181 mortes.
Neste domingo (5), os indicadores mostravam 32.969 casos confirmados,
praticamente o dobro de um mês atrás. O número de mortes mais que dobrou,
chegando a 393, um crescimento de 118%. As regiões que têm casos confirmados é
a Foz do Itajaí e o Oeste.
Joinville é a cidade com maior número de mortes, com 46
vítimas, e a segunda em número de casos confirmados, 2.544. Itajaí tem 46
mortos e 2.030 casos confirmados. Chapecó, que tem 2.610 casos confirmados, tem
11 mortes.
10 cidades com maior número de mortes:
1º – Joinville: 46
2º – Itajaí: 41
3º – Balneário Camboriú: 19
4º – Florianópolis: 19
5º – Navegantes: 16
6º – Xaxim: 16
7º – Concórdia: 13
8º – Blumenau: 12
9º – Criciúma: 12
10º – Chapecó: 11
O quadro da falta de leitos na Capital não é muito diferente
em outras regiões de Santa Catarina. Balneário Camboriú chegou a ter 100% da
capacidade de internação ocupada, tanto na rede pública como na rede privada,
na semana passada. A prefeitura conseguiu ampliação de seis novos leitos, na
sexta-feira, dia 3 de junho, e aliviou a pressão na rede municipal.
Neste domingo (5), pelo menos 19 pessoas estavam internadas
no Hospital Ruth Cardoso, que agora tem 26 leitos. Já o Hospital da Unimed na
cidade emitiu nota informando que atingiu a capacidade e que a Unimed
“providenciará trâmites de transferência” para novos pacientes. O prefeito de
Balneário Camboriú, Fabricio Oliveira (Podemos), se reúne nesta segunda, 6, com
prefeitos da região da Foz do Rio Itajaí para discutir ações regionais.
Ainda no domingo, em Itajaí, que também já alcançou 100% da
ocupação no início do mês passado, o Hospital Marieta Konder tinha 58% dos
leitos ocupados. Em Blumenau, a taxa de ocupação era de 46%.
Divergências nos dados divulgados
O alerta emitido pelo covidômetro, da prefeitura de
Florianópolis, apontando para um possível colapso nos leitos públicos
instalados na região da Capital ao se aproximar dos 90% de ocupação, levantou
divergências entre os dados divulgados pela municipalidade e pelo Estado.
O secretário Paraná diz que o município não contabiliza os leitos que estão inativos. “Nós fazemos uma busca por leitos indisponíveis, seja por uma reserva, por estar quebrado, ou mesmo quando uma pessoa vai a óbito ele fica interditado até que seja feita a desinfecção. Nós não sabemos como o governo faz esse levantamento”, explicou o secretário.
O Estado, por sua vez, diz que desconhece os critérios
adotados pela municipalidade para o cálculo de ocupação. Nos dados do governo,
75% dos leitos da Grande Florianópolis estariam ocupados. E, em todo o estado,
a taxa é de 69,22%, com 911 internados em UTIs.
Mas as divergências não param por aí. Diariamente, o governo
disponibiliza informações sobre a Covid-19 no Estado em formato de dados
abertos, e mesmo assim, as informações de internação não são iguais as que têm
disso divulgadas pela Secretaria de Saúde. Além disso, há uma diferença de um a
dois dias para atualização dos dados informados pelos municípios sobre óbitos e
novos casos confirmados. Em Florianópolis, por exemplo, a 23º terceira morte
foi confirmada neste domingo, mas o boletim do Estado ainda só tem 19 casos
computados.
Segundo as informações dos dados abertos, são 90 pessoas
internadas em UTIS na região da Grande Florianópolis. A Foz do Rio Itajaí e o
Planalto Norte têm 124 internados cada, segundo a planilha.
Internados em UTIs por regiões
Foz do Rio Itajaí: 124 pacientes
Planalto Norte e Nordeste: 124 pacientes
Grande Florianópolis: 90 pacientes
Grande Oeste: 71 pacientes
Sul: 71 pacientes
Alto Vale do Itajaí: 66 pacientes
Meio Oeste e Serra Catarinense: 33 pacientes
Outros Estados: cinco pacientes
Fonte: Portal de Dados Abertos do Estado
Ainda de acordo com os dados abertos, Joinville seria a
cidade com maior número de internados em UTI, com 85 pessoas. A Capital vem em
segundo, com 43. As informações disponibilizadas pelo governo de SC estão no
Portal de Dados Abertos do Estado.
Internados em UTIs por cidades
Joinville: 85 pacientes
Florianópolis: 40 pacientes
Balneário Camboriú: 37 pacientes
Blumenau: 31 pacientes
Camboriú: 31 pacientes
Itajaí: 26 pacientes
Chapecó: 22 pacientes
Criciúma: 19 pacientes
Palhoça: 19 pacientes
Xaxim: 16 pacientes
São José: 15 pacientes
Jaraguá do Sul: 13 pacientes
Navegantes: 13 pacientes
Concórdia: 9 pacientes
Tubarão: 9 pacientes
Fonte: Portal de Dados Abertos do Estado
A reportagem entrou em contato com a SES (Secretaria da
Saúde) para tratar sobre a ocupação dos leitos de UTIs no Estado neste domingo
(5). O órgão informou que deve se manifestar sobre o assunto nesta
segunda-feira (6).
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