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Sobre o Haiti

Nessa coluna a gente sempre procura falar sobre diversidade

Última atualização: 2017/06/22 5:52:32

Vestir as palavras com algumas experiências, ceder o espaço para alguns textos diferentes, de Jornalistas, historiadores que não encontram esse mesmo lugar para compartir as palavras. E nessa edição acreditamos ser interessante mencionar, a partir de algumas experiências colhidas nessa semana e de outros tempos, sobre a realidade que vivem as famílias de haitianos/as que estão em São Miguel do Oeste e região.

Assim como temos a presença de haitianos/as que conseguiram emprego, que estão garantindo moradia, alimentação, estrutura básica para viver no Brasil, também existem casos diversos de famílias que estão passando bastante dificuldade. Luis Felipe Aires Magalhães foi por algum tempo Cooperado da Cooperativa Comunicacional Sul e contribui também com o Portal Desacato, que é um meio de comunicação que faz Jornalismo Independente no Estado de Santa Catarina, com informes do Brasil e do mundo. Magalhães em sua tese de doutorado mostrou a superexploração da mão de obra onde as empresas que pagam de maneira injusta os trabalhadores/as haitianos/as e atribuem a esses uma carga horária de trabalho que viola os seus direitos.

Em uma matéria escrita por Patrícia Lauretti ela traz o relato a partir dessa pesquisa, de como a exploração da mão de obra acontece em muitos lugares. “A primeira estratégia era descontar dos salários a concessão do alojamento, seguida da chamada alocação discriminatória, que significava colocar o haitiano em setores que exigiam mais força física ou em setores que favoreciam doenças relacionadas ao trabalho. Por último, a tese apontou que, sem conhecer direito o português, os imigrantes eram obrigados a assinar contratos com cláusulas nas quais abriam mão dos direitos trabalhistas depois da demissão. Segundo o pesquisador, eram descontados do salário de cada trabalhador em média 230 reais pelo alojamento. Em trabalho de campo, Luis Felipe identificou que as condições eram muito precárias. “Em alguns casos, 11 trabalhadores dividiam dois cômodos e um único banheiro, havia infiltrações e as construções tinham o pé direito baixo””.

Ainda é importante destacar que essa mesma pesquisa fala sobre como parte dos brasileiros veem a chegada de haitianos/as no Brasil, considerando isso como uma “ameaça”, inclusive. “Luis Felipe salienta que as políticas de acolhimento no Brasil ainda são muito frágeis e improvisadas, uma vez que ainda está vigente o Estatuto do Estrangeiro que é uma lei de 1980, do período de ditadura militar. “O Estatuto enxerga o estrangeiro como uma ameaça, justificando assim o fato de que o primeiro representante do Estado que o imigrante encontra, seja um policial federal”. A imigração haitiana vem cumprindo o importante papel de retomada de estudos e de uma certa militância a respeito da importância de políticas públicas específicas aos imigrantes e refugiados, considera”.

Nas experiências vivenciadas nessa semana e com base na realidade que a gente acompanha faz um tempo, desde a chegada dos haitianos/as aqui na região, percebemos que existe muita desvalorização desses trabalhadores e trabalhadoras. Um dia, presenciei um chefe de obra chamar um trabalhador haitiano com total desprezo, e fiquei pensando. Poxa vida, esses trabalhadores que são tão desvalorizados falam três, quatro, cinco línguas, conseguem se comunicar com o mundo, são excelentes profissionais, de uma humanidade e solidariedade incomparável, que tragédia é o ser humano brasileiro, esse que carrega o pensamento miserável de achar que vale mais que a outra pessoa, que o outro trabalhador ou trabalhadora, que tragédia é o ser humano que afasta a diversidade, que tem o pensamento pequeno burguês, que é proprietário de uma empresa tão minúscula nesse “mundo de negócios” como chamam, e que se acham no direito de explorar, de questionar a vinda de nossos companheiros/as do Haiti.

Por isso, é preciso ler sim sobre os dados, é necessário conhecer antes de tudo a realidade de um país como Haiti, que foi devastado por golpes dentro da política, onde as pessoas vivem a miséria causada não só por catástrofes naturais, mas por catástrofes de humanos ditadores que destroem a vida para defender um sistema opressor. Que não sejamos nós Catarinenses a vergonha do Brasil, que consigamos superar esse pensamento racista, preconceituoso e que possamos acolher nossos companheiros/as de outros países. Sabemos que na nossa região muito indígena, muito negro/a, caboclo/a foi expropriado pelo ideal de desenvolvimento capitalista, que continua a matar, a envenenar, a contar a história pelo viés do latifúndio e das corporações, mas ainda, existe na resistência da qual fazemos parte, esse sentimento de solidariedade, de acolhida que carregamos e que vamos defender sobre todas as coisas. Até a vitória.

 

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