Número é quase 28 vezes acima do dado oficial do governo do estado. Levantamento foi feito por pesquisadores da UFSC, Univille e de universidade canadense, com base nos registros de síndrome respiratória aguda grave (SRAG).
Um estudo divulgado na sexta-feira (1º) pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) estima que 58,5 mil pessoas no estado podem ter contraído o novo coronavírus, entre sintomáticas e assintomáticas, número quase 28 vezes superior ao dado oficial do governo do estado. A pesquisa também diz que a quantidade de mortes por Covid-19 pode ser de 117, mais que o dobro do contabilizado pelo Poder Executivo. O levantamento se baseou nos registros de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) e alerta para uma “possível progressão silenciosa da doença”.
Até esta sexta, o balanço do governo de Santa Catarina apontava para 2,1 mil casos confirmados de coronavírus, incluindo 50 mortes. Em entrevistas coletivas, o governador Carlos Moisés (PSL) já admitiu que há casos não notificados de pacientes. O G1 voltou a questionar o estado sobre o assunto e aguarda resposta.
A pesquisa ‘Estimativa da subnotificação de casos da Covid-19 no estado de Santa Catarina’ foi feita por pesquisadores da UFSC, da Universidade da Região de Joinville (Univille) e da Universidade de Waterloo, no Canadá.
O estudo considera que um paciente com Covid-19 pode ser diagnosticado com síndrome respiratória aguda grave. “A comparação do número de casos de SRAG registrados no ano de 2020 com a média de anos anteriores, deve indicar a quantidade de casos de Covid-19 potencialmente não notificados”, diz o artigo. As internações e mortes de pessoas com SRAG cresceram no estado este ano.
Os pesquisadores compararam as internações e mortes por SRAG e os registros de coronavírus das 16 primeiras semanas epidemiológicas do ano, ou seja, até 26 de abril. A quantidade também foi comparada com a média das notificações de síndrome respiratória em 2015, 2017, 2018 e 2019. O ano de 2016 não foi considerado por causa de um surto de Influenza naquele período.
Metodologia
A metodologia para analisar a subnotificação de casos considerou a possibilidade de duplicidade de registros – quando um paciente consta do sistema como SRAG e, após testar positivo para Covid-19, entra na estatística de coronavírus sem que a notificação de síndrome respiratória tenha sido apagada.
Os pesquisadores levaram em conta três cenários para a estimativa de subnotificação com base nas internações:
ausência total de duplicidade de registros de SRAG e Covid-19;
ocorrência de 25% de duplicidade;
50% de duplicidade.
Considerando essas três hipóteses, os estudiosos estimam que a subnotificação de pacientes com Covid-19 pode ser de 82%, 61% e 41%, respectivamente.
Em relação às mortes, não foi considerada a possibilidade de duplicidade, por ser menos provável que isso ocorra. Os dados apontam que o número de óbitos pode ser em torno de 278% maior que o oficial.
“Subnotificações de óbito podem ocorrer principalmente quando pacientes com quadro clínico compatível com Covid-19 vem a óbito e não são testados para confirmar que a causa da morte teria sido decorrente desta doença infecciosa em específico. Nestes casos, a causa da morte é normalmente atribuída à SRAG”, diz o estudo.
A pesquisa conclui que o número potencial de pessoas infectadas e com sintomas da doença em Santa Catarina até 26 de abril, seria de aproximadamente 11,7 mil e que, como o Ministério da Saúde diz que cerca de 80% dos casos são assintomáticos, a estimativa do total de infectados passa para 58,5 mil. Isso seria equivalente a 0,82% da população, conforme projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O artigo afirma ainda que o estado tinha, em 28 de abril, um índice de testagem de aproximadamente 1.275 por milhão de habitantes. Isso coloca o estado com incidência menor que a média nacional, que era até então de 1.597 por milhão de habitantes.
SRAG no estado
Até o dia 16 de abril, o número de mortes de pessoas com suspeita de SRAG já era de 117 no estado. O número corresponde a 48,7% dos 240 ocorridos em todo no ano de 2019. No mesmo período deste ano, houve 1.515 internações de casos suspeitos de SRAG no estado. Ao longo de todo o ano passado, foram 2.103. As informações constam de boletins da Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Dive-SC).
A Dive-SC informou, no último dia 24, que 1.352 casos de síndrome respiratória aguda grave registrados neste ano foram descartados para o novo coronavírus, e que segue a investigação de outros 163 ocasionados por outros vírus respiratórios não especificados.
deixe seu comentário